Já nem todos os infetados recebem ordem para isolar

Militares vão reforçar equipas mais uma vez, mas instruções oficiais para isolar já estão a demorar dias. 

Por Marta F. Reis e Felícia Cabrita

Na semana antes do Natal já só 84% dos infetados estavam a receber o contacto inicial para se isolarem dentro das 24 horas preconizadas pela DGS e apenas 58% dos casos passavam pelo processo de rastreio e isolamento dos contactos, mas com os recordes dos últimos dias o fluxo de trabalho deixou de ser possível de acompanhar. Ao que o Nascer do SOL apurou, no início desta semana já havia mais de 30 mil inquéritos epidemiológicos pendentes só na região de Lisboa e até os contactos iniciais para decretar o isolamento estão a demorar dias, com a próxima semana ainda mais incerta.

Em alguns casos, admitiu ao Nascer do SOL fonte ligada ao processo, não está a ser possível sequer fazer os contactos, porque há pessoas que não são contactáveis e a ordens são para só insistir três vezes. As decisões sobre isolar e avisar os contactos ficam ao critério de cada um. «Há muita gente que não atende. Como não é feito o contacto prévio, os contactos de risco podem, se não tiverem sintomas, nunca ficar em isolamento porque nem sequer sabem que puderam ser contaminados», continua a mesma fonte, explicando que tudo isso poderá contribuir para propagar o contágio. Há ainda outro problema: os contactos prévios que não são feitos no dia passam para as listas dos inquéritos epidemiológicos, que já têm o volume de trabalho mais atrasado.

A partir desta segunda-feira, o contingente que faz os contactos prévios para isolamento e os inquéritos epidemiológicos vai ser reforçadas com mais quatro equipas das Forças Armadas, 60 homens mas o reforço parece longe de conseguir acompanhar o ritmo.  O investigador Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, disse esta semana ao i que com este nível de contágios seria preciso haver 4 mil rastreadores para manter os rácios preconizados pelas equipas de linhas vermelhas. Também a testagem, para a positividade se manter abaixo dos 4%, teria de aumentar para a casa dos 350 mil testes em média/dia, o que implicaria fazer mais durante a semana para compensar ao fim de semana. Linhas vermelhas  ultrapassadas pelo galopar da Omicron, da mesma forma que a matriz usada pelo Governo para monitorizar a covid-19 já deixou de captar a situação do país . Já contando com os casos reportados ontem, a incidência de novos casos a nível nacional disparou para mais de 1400 casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias, calculou o Nascer do SOL,  dados que a DGS e o INSA deverão atualizar esta sexta-feira. Em Lisboa, a incidência a 14 dias supera os 1800 casos por 100 mil habitantes, para já com uma pequena fração das mortes e internamentos, mas ainda a subir. Outro dado que salta à vista nos últimos dias é o disparar das infeções nos mais velhos, quando a subida começou por ser mais forte nos jovens: esta semana, em três dias, houve já mais 52% dos diagnósticos em maiores de 80 do que na semana passada (mais de mil casos contra 780 na semana passada), o que mesmo com as vacinas traz maior risco, sendo este o grupo etário onde continua a registar-se a maioria das mortes por covid-19.