O aumento de infeções provocado pela variante Omicron está agora a chegar à população mais velha. O alerta foi feito no Reino Unido e na Alemanha e também em Portugal se consegue perceber que na última semana acelerou o aumento de diagnósticos na população com mais de 70 anos. A semana bateu recordes de diagnóstico de infeções mas analisando a distribuição de casos por faixa etária a partir dos dados facultados pela Direção Geral da Saúde é possível concluir que se a população mais velha continua a representar uma minoria dos novos casos, foi nos grupos etários acima dos 70 anos que as infeções mais aumentaram, tendo triplicado face à semana anterior. Comparando com a situação há um ano, quando a campanha de vacinação estava a iniciar-se, os idosos representam uma menor percentagem das infeções diagnosticadas no país, mas se nos restantes grupos etários já se tinha ultrapassado a incidência do ano passado, essa tendência começa a verificar-se agora nos idosos.
Ao todo, foram diagnosticados no país na última semana, de segunda-feira a domingo, cerca de 148 mil novos casos de covid-19, um aumento de 155% face à semana anterior. Os jovens continuam a representar a esmagadora maioria dos diagnósticos mas as taxas de crescimento maior verificam-se na população com mais de 70 anos (um aumento de 250%) e na população com mais de 80 anos (com um aumento de 245%) e ainda no grupo etário dos 50 anos (uma subida de 207% face à semana anterior). No grupo etário dos 70 e maiores de 80 anos, os mais vulneráveis desde o início da pandemia, foram diagnosticados na última semana do ano 7622 novos casos de covid-19, o que compara com 2193 na semana anterior. Há um ano, era sensivelmente este o número de novos casos que estava a ser diagnosticado na população mais velha, sendo que na altura os maiores de 80 anos representavam 8% dos casos detetados no país e agora representam 1,8%. Já os maiores de 70 anos representavam 6% dos diagnósticos e agora representam 3%. Apesar de estarem na sua grande maioria vacinados, o risco para a população mais velha e mais comorbilidades continua a ser maior e pela Europa a circulação da Omicron nestes grupos etários, depois de a explosão de infeções ter começado nos mais novos, é vista com apreensão e tem motivado apelos para que, quem não o fez, adira ao reforço da vacina.
30 a 40 mortes por dia As projeções são de que o aumento das infeções nos mais velhos venha a refletir-se, com menor severidade do que há um ano, num aumento da mortalidade associada à covid-19 ao longo do inverno. No caso de Portugal, o Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde da Universidade de Washington, que projeta para Portugal um pico de 60 mil novos casos, podendo ser ao todo mais de 100 mil infeções diárias com aumento dos casos assintomáticos, prevê que o país possa vir a registar ao longo de janeiro 30 a 40 mortes diárias associadas à covid-19 num cenário de adesão total ao reforço da vacina para quem fez as primeiras doses, podendo chegar a 60 mortes diárias caso exista uma maior severidade associada à nova variante. Até ao final de março, o IHME estima que a covid-19 poderá levar a mais 3 mil mortes em Portugal. Ontem o país atingiu a barreira dos 19 mil óbitos desde o início da pandemia, com as projeções da Universidade de Washington a apontar para cerca de 21 500 mil óbitos acumulados até ao final de março. Também a equipa do Instituto Superior Técnico que faz a monitorização da pandemia com a Ordem dos Médicos antecipa um aumento da mortalidade associado à covid-19 nas próximas semanas, abaixo do que se viveu no inverno passado em que chegaram a registar-se mais de 300 óbitos diários associados à covid-19, mas com tendência crescente. Os dados, apresentados este domingo por Marques Mendes no espaço de comentário na SIC, apontando para um pico de infeções entre 20 a 24 de janeiro que poderia passar as 100 mil infeções, com 20 a 30 óbitos diários. A projeção de um pico prende-se com o facto de o RT parecer estar a ceder em Lisboa, mas os dados das últimas semanas são encarados com alguma cautela por alguns peritos ouvidos pelo i devido à perturbação na testagem nos fins de semana de Natal e Fim de Ano e o próprio comportamento da população nestas épocas.
Estado vacinal dos internados Ontem o secretário de Estado Adjunto e da Saúde indicou que 90% dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos não estão vacinados e o mesmo se passa com cerca de 60% dos doentes em enfermaria. O i questionou o Ministério da Saúde sobre a que data se referem estes indicadores, solicitando acesso aos dados por faixa etária, uma vez que até aqui a única informação disponibilizada pela DGS sobre estado vacinal dos doentes internados tem sido publicada com dois meses de desfasamento, respeitando os últimos dados disponíveis no relatório de linhas vermelhas a outubro. Com base nesses dados, a DGS tem calculado o risco de ser hospitalizado consoante o estado vacinal, duas a seis vezes menor nos infetados vacinados, mas sem disponibilizar números totais. “A consolidação dos dados dos internamentos por estado vacinal só ocorre cerca de dois meses após o diagnóstico, pelo que o risco de hospitalização é apresentado com maior atraso que o risco de morte (letalidade)”, lê-se no último relatório. Até à hora de fecho não houve resposta da tutela. No final da semana passada, após o Nascer do SOL noticiar o aumento de crianças não vacinadas internadas, a Direção Geral da Saúde confirmou que se tem vindo a registar um aumento de internamentos nesta faixa etária, que ainda está largamente por vacinar, mas a maioria dos doentes internados tinha na altura mais de 60 anos. Os dados fornecidos ao i mostram que a 29 de dezembro 70% dos doentes hospitalizados no país tinha mais de 60 anos, com 127 pessoas hospitalizadas na faixa etária dos 50 anos, 71 na faixa etária dos 40 anos e também cerca de 70 pessoas na casa dos 20 e 30 anos. Até aos 19 anos havia 27 crianças e jovens internados, mais crianças pequenas do que adolescentes, que fizeram a vacina em setembro.