A indicação de que 90% dos doentes internados em cuidados intensivos não estão vacinados, dada ontem pelo Secretário de Estado Adjunto e da Saúde António Lacerda Sales, não resulta de um levantamento da situação atual nas instituições. A correção foi feita pelo Secretário de Estado na segunda-feira à noite em declarações à SIC. O número "diverge" de instituição para instituição, explicou Lacerda Sales.
“De facto existe uma maioria grande, relativamente significativa, de doentes não vacinados ou com o esquema vacinal incompleto, quer para unidades de cuidados intensivos, quer também para unidades de internamento convencional”, disse o secretário de Estado, clarificando que o balanço feito horas antes em declaração aos jornalistas resultava de “conversas” com colegas das unidades de cuidados intensivos: “Numa instituição poderá ser 90%, noutra 70%, noutra 58% ou 60%. É uma realidade heterogénea”, disse. António Lacerda Sales indicou também que cerca de 60% dos internados nas enfermarias dos hospitais nacionais também não foram vacinados, número que foi igualmente uma estimativa.
Esta segunda-feira o jornal i já tinha solicitado esclarecimentos ao Ministério da Saúde sobre este ponto de situação, dado que até aqui a informação sobre estado vacinal de doentes internados tem sido publicada pela DGS com um desfasamento de dois meses, estando publicados atualmente nos relatórios de linhas vermelhas cálculos sobre o risco de hospitalização de doentes que se infectaram e foram internados no mês de outubro. O relatório da DGS refere mesmo que essa informação só é consolidada ao fim de dois meses, o que explica o maior desfasamento na divulgação desse indicador. O i já procurou esclarecimentos junto da tutela sobre qual é a informação disponível sobre estado vacinal de doentes internados nos hospitais, sem resposta até ao momento.
Em outubro, estar vacinado representava um risco duas a seis vezes menor de ser hospitalizado e menor risco de morte em todas as faixas etárias, com a proteção a aumentar entre quem já tinha o reforço, o que na altura estava disponível essencialmente para maiores de 80 anos. O que a DGS faz é cruzar o número de pessoas infectadas em cada grupo etário em função do estado vacinal com o número das que acabaram por ser internadas, o que permite perceber por exemplo que, em outubro, em cada 100 pessoas infetadas na casa dos 70 anos sem vacina, 11,9 acabaram por ser hospitalizadas, enquanto que nos vacinados a taxa de hospitalização era de 5,1%.
Como noticiado na edição de hoje, atualmente é apenas possível saber a idade dos doentes internados com covid-19 nos hospitais. No balanço feito ao i pela DGS na semana passada podia ver-se que 70% dos doentes internados no dia 29 de dezembro tinham mais de 60 anos, com 127 pessoas hospitalizadas na faixa etária dos 50 anos, 71 na faixa etária dos 40 anos e também cerca de 70 pessoas na casa dos 20 e 30 anos. Até aos 19 anos havia 27 crianças e jovens internados, mais crianças pequenas do que adolescentes, que fizeram a vacina em setembro.