"A 3 de janeiro de 2022, foi confirmado pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (laboratório nacional de referência para as doenças dos animais) um quarto foco de Gripe Aviária de Alta Patogenicidade (GAAP), numa exploração de detenção caseira, em Santiago do Cacém", é possível ler num comunicado enviado às redações, esta terça-feira, pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV). De seguida, o serviço central da administração direta do Estado indicou que "tal como aconteceu com os focos anteriores, o plano de contingência foi ativado de imediato, e as medidas de controlo estão a ser implementadas pela DGAV de acordo com a legislação em vigor".
Importa referir que, de acordo com informação veiculada pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), este plano prevê que, em caso de deteção de um foco numa exploração, seja iniciada a eliminação de todos os animais da exploração e se proceda à ativação de cordões sanitários em torno do mesmo, definindo “Zonas de Protecção” (raio de 3Km) e “Zonas de Vigilância” (raio de 10 Km) em que serão implementadas "regras estritas de procedimento completamente bem definidas por comissões internacionais e nacionais de peritos". Assim, estes procedimentos foram explicitados no texto acima mencionado e, neste sentido, foi esclarecido que "de acordo com a legislação em vigor, será feita a indemnização pelo abate sanitário dos animais presentes em efetivos registados, sendo o cálculo da mesma efetuado com base nas cotações constantes do Boletim divulgado semanalmente pelo Gabinete de Planeamento e Política Agroalimentar".
Lembrando "que nos primeiros 3 focos foram testadas todas as explorações nas zonas de proteção, assim como as explorações avícolas que se identificaram com ligações aos focos, e não se obtiveram resultados positivos. Ou seja, não se identificaram, até ao momento, explorações avícolas com suspeita de GAAP nas zonas de vigilância, o que indica que os três primeiros focos poderão ter sido contidos", a DGAV elucidou que as medidas de controlo e deteção precoce estão a ser colocadas em prática naquilo que concerne o quarto foco. Recorde-se que o terceiro foco foi anunciado pelo mesmo órgão no passado dia 31 de dezembro, sendo que este havia sido identificado numa exploração de perus, em Praia do Ribatejo, Vila Nova da Barquinha, no distrito de Santarém, tendo sido igualmente ativado o plano de contingência. A deteção do segundo foi noticiada no passado dia 24 de dezembro, tendo ocorrido em Óbidos, numa exploração de cerca de 18 mil perus, enquanto o primeiro afetou uma capoeira doméstica em Palmela e foi descoberto no dia 1 de dezembro.
"Até ao momento, não há evidência epidemiológica de transmissão da gripe aviária aos seres humanos através do consumo de alimentos, nomeadamente de carne de aves de capoeira e ovos. Os trabalhadores envolvidos na eliminação dos focos registados e que lidaram diretamente com as aves infetadas, estão a ser rastreados pelas Administrações Regionais de Saúde e o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, até agora com resultados negativos", salientou a DGAV que, no final do ano, avançou que face à “situação epidemiológica atual”, a urgia cumprir as regras de biossegurança e as boas práticas de produção avícola, evitando contactos entre aves domésticas e selvagens. Isto porque "o vírus da GAAP encontra-se em circulação em vários países da União Europeia, tendo sido identificado em aves selvagens migratórias provenientes da Ásia e do leste da Rússia e em aves de capoeira".
Até ao momento, sabe-se que, para além desta situação, é de frisar que a transmissão ocorre também por contactos entre as explorações pecuárias (trabalhadores, equipamentos, etc.) devido a quebras de biossegurança que a DGAV espera erradicar. "Ocasionalmente, algumas estirpes de vírus da gripe aviária podem infetar outros animais, nomeadamente mamíferos, e também o ser humano. No entanto, para que tal aconteça, é necessário que haja um contacto muito estreito entre as aves infetadas e as pessoas ou entre aves e outros animais". Deste modo, deixou claro que devem ser tidos em conta, mais atentamente, os procedimentos de higiene de instalações, equipamentos e materiais, bem como o controlo dos acessos aos estabelecimentos onde as aves permanecem. "É ainda importante a observação diária e atenta das aves de capoeira, incluindo a monitorização dos consumos de alimento e água e dos índices produtivos".
"Os operadores que detêm aves de capoeira ou aves em cativeiro são os primeiros responsáveis pelo estado sanitário dos animais por si detidos e, perante uma qualquer suspeita de doença, a mesma deverá ser imediatamente comunicada à DGAV", foi realçado no texto, sendo que "a deteção precoce de focos de infeção por vírus da GAAP é absolutamente essencial para a rápida e eficaz implementação no terreno das medidas de controlo da doença destinadas a evitar a sua disseminação, minimizando, assim, as perdas para o setor de produção avícola nacional, o qual se encontra afetado pela alteração do estatuto sanitário nacional, decorrente de surtos em explorações de aves comerciais".
A pandemia de gripe A de 2009 começou, em território nacional, no dia 4 de maio do mesmo ano. Este foi o 11º país a registar casos de gripe A no continente europeu e, segundo as conclusões presentes no artigo "Óbitos por Gripe Pandémica a (H1N1) 2009 em Portugal período de abril de 2009 a março de 2010", da autoria de Filipe Froes, António Diniz, Isabel Falcão, Baltazar Nunes e Judite Catarino, esta provocou 124 óbitos no período compreendido entre abril de 2009 e março de 2010. A taxa de mortalidade estimada foi de 1,17/100.000 habitantes e aproximadamente 60% dos falecidos eram do sexo masculino. Para além destes dados, os investigadores explicitaram que a idade média destes foi de 47,6 anos e 66,7% apresentavam, pelo menos, um fator de risco para doença grave (as doenças pulmonar e cardíaca crónicas foram os factores de risco mais prevalentes). Mais de três quartos dos doentes foram internados em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI).