Mais de 500 mil portugueses estão isolados em casa

Em todo o ano passado a Segurança Social pagou 266 mil baixas por doença covid e quase 453 mil por isolamento. Recorde de contágios está a provocar níveis inéditos de absentismo.  

O número de portugueses isolados por causa da covid-19 passou ontem pela primeira vez a barreira dos 500 mil, com 276 894 infetados ainda em período de isolamento ou recuperação da doença (casos ativos) e 236 992 contactos em vigilância, de acordo com os boletins da Direção Geral da Saúde, que compilam dados relativos a contactos de risco.

Mesmo que nem todas as pessoas venham a beneficiar de baixa, já que quem pode ficar em teletrabalho não tem direito a tal, o recorde de contágios que tem estado a registar-se está a provocar níveis inéditos de absentismo no país, com impacto nos diferentes setores, e só este mês a Segurança Social poderá vir a suportar mais baixas relacionadas com a covid-19 do que em todo o ano passado, se não mesmo nestes últimos dois anos.

O i tentou perceber junto do Ministério da Segurança Social e do Trabalho quantos portugueses estão atualmente a beneficiar de baixa por doença covid e por isolamento profilático, mas o balanço tem sido feito apenas ao fim de cada mês, pelo que ontem não estava disponível. A Segurança Social já publicou no entanto detalhadamente todo o impacto das medidas de apoio à covid-19 até ao fim de 2021 e perante a vaga sem precedentes de infeções que está a ser vivida não será difícil serem superados, podendo atingir-se este mês o recorde histórico de baixa por motivo de doença no país.

No ano passado foram pagas pela Segurança Social um total de 266 448 baixas por doença covid-19, mais 83% do que em 2020, quando tinham sido registados 145 260 beneficiários. Já em termos de baixas por isolamento profilático, em 2021 requereram baixa 452 781 contactos de risco de pessoas infetadas, mais do dobro dos 212 767 portugueses que tiveram indicação para se isolar em 2020.

Tentando fazer a ponte para os níveis de absentismo que estão a ser provocados pela covid-19 este mês, só nos últimos sete dias foram diagnosticados em Portugal quase tantos casos de covid-19 como em todo o mês de dezembro e os números de janeiro já superaram, ao 11º dia do mês, qualquer outro mês da pandemia, com um total de 321 407 diagnósticos confirmados desde 1 de janeiro.

Até aqui o mês com mais casos confirmados desde o início da pandemia tinha sido janeiro de 2021, com 305 692 casos confirmados. Na altura faziam-se 1,6 milhões de testes por mês e no último mês de dezembro foram mais de 5 milhões, mantendo-se a tendência de aumento de testagem no início deste ano, mas a positividade está agora também a subir, o que sugere uma malha de deteção menos apertada apesar do aumento significativo do número de testes. O impacto do crescente absentismo tem-se feito sentir nos diferentes setores, da aviação à hotelaria, recolha do lixo e dificuldades na definição de escalas nos hospitais.

Dos Estados Unidos à Europa, o problema começa a levar a equacionar permitir que profissionais de saúde vão trabalhar infetados mesmo no período de contágio, uma medida que tem estado a suscitar receios – em Portugal não foi anunciada qualquer decisão nesse sentido. Antes, poderá colocar-se a redução do isolamento para cinco dias, já implementada em alguns países. A posição da OMS e do ECDC é que, havendo um risco de isso levar a mais infeções, os países podem tentar equilibrar as medidas de proteção de saúde pública com o impacto que provocam.

Nas projeções do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge apresentadas na reunião do Infarmed, o nível de absentismo esperado no pico da epidemia este mês poderia situar-se entre 4,5% e 12% da população em isolamento (entre infetados, isolamento profilático e apoio à família) e o limiar inferior já foi excedido sem que haja ainda certezas sobre se o pico de infeções será atingido em breve.

Com essa incerteza, janeiro poderá ficar no entanto marcado por níveis de absentismo recorde e perturbação de serviços, com impacto nas diferentes áreas. Até aqui os meses com mais beneficiários de subsídio de doença, incluindo covid-19, foram dezembro de 2020 (289 226) e fevereiro de 2021 (302 423).

Antes da pandemia, nos meses com maior absentismo por doença, habitualmente no inverno, registavam-se, de acordo com os dados da Segurança Social, cerca de 170 mil pessoas de baixa por doença. Em janeiro de 2019, por exemplo, houve um total de 163 mil beneficiários de baixa por doença, números que praticamente duplicaram nos piores meses da pandemia.

Entre baixas por doença covid e baixas por isolamento profilático, a despesa da Segurança Social ascendeu a cerca de 231 milhões de euros em 2021, depois de no primeiro ano da pandemia o pagamento das baixas covid (doença e isolamento) ter representado uma despesa de cerca de 125 milhões de euros. 

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