Já dizia o Jorge Palma: «Enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar». Passado o teste do debate frente a António Costa, está na hora de os sociais-democratas tomarem de assalto as ruas do país, um distrito de cada vez. A exatamente 15 dias das eleições legislativas antecipadas, os partidos estão a todo o gás, promovendo as suas ideias e propostas para o país, e tentando arrecadar a maior fatia possível do eleitorado. O PSD quer capitalizar os ganhos obtidos no debate entre António Costa e Rui Rio, e é na estrada que encontra a solução. Na quinta-feira, Costa e Rio estiveram frente a frente, e falaram um pouco de tudo: da saúde, da justiça, e da TAP, onde a temperatura subiu. Um debate para o qual Rui Rio se preparou cautelosamente, com as contas feitas e as munições contadas, procurando aproveitar as especiais caraterísticas dos debates televisivos para pôr em evidência, afinal, porque é que seria um melhor primeiro-ministro do que António Costa. Do outro lado, no entanto, o líder do PS não se acanhou, e, de fotocópias em mãos, estava também munido e preparado para a batalha.
Agora, é tempo de ir para a estrada. A arma secreta? Make no mistakes. Manter o cadastro limpo, e evitar a todo o custo qualquer erro. Esta é a estratégia adotada pelo partido ‘laranja’, que aposta em atacar António Costa onde mais lhe dói: nas arruadas. Recorde-se, por exemplo, o polémico episódio em 2019, quando o primeiro-ministro se exaltou com um popular que lhe dirigiu críticas, quando este se encontrava no Terreiro do Paço.
O líder dos sociais-democratas vão a um distrito por dia – ao passo que Costa visitará dois, ou mesmo três – e sabe que o panorama não é o mesmo que o de 2019, querendo fechar em grande nas ruas, onde Rio pode aproveitar um refrescado carisma, e uma reforçada liderança do PSD, após a vitória nas recentes eleições internas.
E agora?
Agora, feitos os disparos, com o cheiro a pólvora no ar, resta ‘surfar’ nas ruas a onda das reações e das propostas feitas ao longo do debate televisivo emitido pela RTP, SIC e TVI.
As próximas duas semanas são cruciais para o êxito ou o fracasso, tanto o PSD como do PS, e os social-democratas não querem arriscar perder o maior efeito galvanizante que sente para estas eleições, comparativamente com a realidade das últimas eleições, em 2019.
As arruadas são para continuar, mas em esquema simplificado, com uma distrital por dia. Até 30 de janeiro, sociais-democratas e socialistas fazem-se à rua – com as devidas restrições trazidas pela contenção da pandemia da covid-19. Os primeiros levam uma mensagem simples e direta: o voto no PSD é o verdadeiro voto útil.
Programas na mira
As últimas semanas foram intensas em matéria de debates televisivos, onde houve um elemento transversal: os programas eleitorais de cada partido. Foram poucos os debates onde os líderes políticos rivais não apontaram falhas nos programas eleitorais dos seus interlocutores, e o frente-a-frente entre Rio e Costa não foi exceção. Ora porque os programas eram demasiado curtos e superficiais, ora porque eram demasiado longos e extensos. Ora porque não incluíam suficientes propostas sobre determinados temas, ora porque se dedicavam demasiado a determinados assuntos. Assim, interessa saber, afinal, em que diferem os programas políticos das diferentes propostas eleitorais para as legislativas de 2022, da esquerda à direita.
Diferenças
O programa eleitoral do PS é, em determinados pontos, o contrário do que propõe o PSD, como seria de esperar, e como ficou bem claro no debate de quinta-feira. Da fiscalidade às políticas sociais, sociais-democratas e socialistas diferem em variados pontos. Um deles, por exemplo, sendo o salário mínimo: os socialistas propõem um aumento do salário mínimo nacional (SMN) para 900 euros, até 2026, seguindo uma ideia que há já largos anos defende. O PSD, por sua vez, defende, no seu programa eleitoral, que é «em sede de concertação social que o tema deve ser decidido, entre os diferentes parceiros sociais», rejeitando uma economia «assente em baixos salários». Os sociais-democratas não falam em valores concretos, defendendo um aumento em linha com a inflação e com «os ganhos de produtividade».
A nível fiscal também não faltam diferenças. O partido de António Costa pretende dar continuidade ao projeto de alívio fiscal no IRS, que tinha previsto no OE2022, e que inclui, por exemplo, o desdobramento do 3.º e 6.º escalão do imposto, de forma a, defendem os socialistas, diminuir a tributação sobre a classe média, no valor de 150 milhões de euros, com retroativos a 1 de janeiro. E promete mesmo «um regime de tributação favorável para as startups e para os planos de opção, de subscrição ou de aquisição de valores mobiliários a favor de trabalhadores, conhecidos genericamente como planos de stock options, e reforçar a patent box para 85%».
O PSD, por outro lado, quer apostar na redução do IRS em 2025 e 2026, apontando para valores na casa dos 400 milhões de euros. Também quer mexer no IMI, propondo diminuir a taxa mínima de 0,3% para 0,25% em 2024.
Já quando se fala da legislação laboral, tal como no caso do salário mínimo, os sociais-democratas voltam a apontar para a Concertação Social. Para o partido ‘laranja’, o trabalho deve ser ‘dignificado’, em sede do diálogo e compromisso entre parceiros sociais, limitando a participação do Estado nos processos de negociação coletiva. Os socialistas, por sua vez, têm em mãos uma das suas propostas mais ousadas: colocar na mesa de discussão a semana laboral de quatro dias.