Campanha aproxima PSD do PS e direita da esquerda

As sondagens divulgadas nos últimos dias não favorecem o cenário da maioria absoluta a que António Costa tem vindo a apelar. Antes apontam para uma redução da vantagem que o PS mantém sobre o PSD e para um equilíbrio no somatório dos partidos de Esquerda e de Direita. A última semana de campanha promete…

Costa reforça apelo à maioria absoluta

No primeiro Governo, singrou sem ganhar eleições; no segundo, escapou sem um acordo parlamentar escrito; agora, procura uma «maioria absoluta», ainda que quase todos a considerem uma utopia.

Nos Açores, na Madeira, em Beja ou em Faro, por onde passou nestes primeiros dias de campanha,  António Costa  falou sempre na necessidade de o PS conquistar esse feito e levou uma bagagem cheia de trunfos. 

Não despindo a gravata de primeiro-ministro – aquela que nas autárquicas servia para distinguir o líder do PS do líder do Executivo –, fez uso do Plano de Recuperação e Resiliência para reafirmar a necessidade de «estabilidade», reatualizando o discurso. «Não é o momento para pararmos para ir renegociar o que está negociado. É tempo de arregaçar as mangas e executar o que está negociado», afirmou na terça-feira numa das ações de campanha em Machico, na Madeira. 

No mesmo dia, reuniu-se com a Associação dos Lesados do Banif (ALBOA), reafirmando o seu empenho na procura de «uma solução justa» para os clientes que foram «enganados» aquando da resolução do banco há cinco anos. O compromisso assumiu-o no papel de primeiro-ministro, já que, em dezembro, o Governo criou um grupo de trabalho para dar o primeiro passo em direção a uma compensação dos clientes pelas perdas financeiras sofridas.

A sua segunda arma é ter um Orçamento de Estado pronto a ser aprovado, algo que coloca em desvantagem a oposição. Alguém que entre agora de novo não vai conseguir a celeridade deste Executivo que já tem o esquema montado.
O único defeito na estratégia de Costa é que este cenário apenas resulta sem negociações extra e isso implica um resultado que, até aqui, teve cautela em nomear. 

Já nos últimos dias, não se privou em responder,  até nos debates, que, sim, é mesmo a «maioria absoluta» que quer. Na Madeira foi mais longe e encorajou os socialistas a pedirem-na assim mesmo, sem ter medo em chamar ‘os bois pelos nomes’. O caminho a percorrer é «uma vitória com uma maioria absoluta», especificou e repetiu.

A viagem à Madeira – desta vez num voo da TAP – também foi marcada pela situação da companhia aérea nacional. Nessa manhã, David Neelman, ex-acionista de referência, acusou o candidato do PS de «faltar à verdade» no debate com Rui Rio quando disse que o Governo comprou a transportadora aérea «para prevenir precisamente que aquele privado [Neelman] que lá estava e que não merecia confiança, não daria cabo da TAP no dia em que fosse à falência. Em 2020, as empresas do senhor Neelman foram caindo em todo o mundo». Mas era uma decisão do primeiro-ministro que estava em  causa e Costa não quis descer do pedestal. «Era o que faltava», respondeu, quando questionado se iria pedir desculpa ao empresário, tal como este tinha exigido. 

Numa arruada em Beja, na quarta-feira, António Costa preferiu vestir uma samarra, que não era bem alentejana – foi comprada em Vinhais, Trás-Os-Montes – e foi recebido com algumas inconveniências. Um dia depois da notícia sobre a demissão de 12 chefes de equipa do Hospital de Beja, ouviu os populares  a protestar contra a falta de médicos. 

Por lá ainda defendeu a importância do mundo rural, da «agricultura forte e sustentável», e ainda teve tempo para comentar a posição da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), cujo presidente apelou à rejeição do voto no PS, por este sorrir a uma coligação com o PAN. Refugiado na gola de pelo do seu casaco, garantiu que «o PS só está dependente dos portugueses, não está dependente de mais ninguém» E apostou numa reformulação do apelo: «O que a CAP devia dizer é que se deve votar no PS para o PS ter maioria», insistiu.

De Beja rumou a Faro, onde já não apareceu com a pele de raposa aopescoço e classificou como «imperdoável» o chumbo da Esquerda ao Orçamento para este ano, acrescentando mais uma camada à sua dramatização. «Não me venham com a desculpa de que afinal queriam negociar, porque estivemos seis meses a negociar. Chumbaram logo, nem deixaram passar à especialidade», atirou aos antigos parceiros com quem parece querer manter a distância. E renovou o pedido ao eleitorado, apelando a que não tenham «medo» daquilo que alguns apresentam como «papão», devolvendo o insulto à Direita.

Na quinta-feira, em Santarém, no mesmo dia em que uma sondagem da Universidade Católica Portuguesa dava conta de uma aproximação de Rui Rio – um  cenário que complica a ambição socialista –, Costa foi mais contido. E terminou o discurso sem mencionar uma única vez a desejada «maioria absoluta».  Selecionou bem as palavras que usou  e pediu antes  «uma estabilidade para quatro anos» e uma «votação massiva» no PS para «garantir a força necessária» para que o partido continue a avançar.

E na sexta foi a vez de Rosa Mota chamar «Nazizinho» a Rio e obrigar o líder socialista a demarcar-se da maratonista: «A expressão é dela».

Frases 

– [O PS] virou a página da austeridade e da estagnação

– É imperdoável como, num momento onde o mais importante era todos arregaçarem as mangas para recuperarmos o que perdemos na crise, o que fizeram foi derrubar o Governo e o Orçamento do Estado

– O nosso campeonato não é estar à frente nas sondagens, mas no dia das eleições

Rio não desperdiça um pingo de rua

Chegada sexta-feira, Rio encontrou o primeiro obstáculo na  campanha eleitoral que parece estar a correr-lhe de feição: viu-se obrigado a cancelar uma arruada na Figueira da Foz devido a um exame médico. Uma das poucas pedras no sapato do líder do PSD, que, fora esse percalço, tem percorrido o país de Norte a Sul procurando um único objetivo: contrariar a maioria e o favoritismo inicial do PS de António Costa.

Rui Rio – e André Ventura – falharam o ‘debate das rádios’, na manhã de quinta-feira, e os curiosos não deixaram de questionar o líder do PSD sobre o porquê desta ausência. Em resposta, Rio não hesitou: a missão é visitar os distritos todos do país e participar em ‘mais um’ debate obrigaria ao cancelamento da sua presença em Vila Real e Bragança. Na perspetiva de Rio, era impensável.

Nessas mesmas ações de campanha, o líder ‘laranja’ lançou mais uma mensagem para a sua campanha: num eventual Governo de centro-direita, a pasta da Defesa poderá cair nas mãos do CDS-PP e mais outra nos braços do IL. Hipóteses, no entanto, e não certezas, mas que o desafio ficou lançado aos centristas e liberais (e respetivos eleitores) ficou.

Muito riso pouco siso

A campanha eleitoral de Rui Rio tem ficado marcada por um curioso fator – o seu sorriso e sentido de humor, destoantes com a suposta imagem de ‘político sisudo, sério, que não está para brincadeiras’ que sempre teve. Aliás, esse foi um dos pontos quentes logo nos primeiros dias de campanha. ‘Brincando’ com o facto de António Costa se ter inscrito no voto antecipado em mobilidade, no Porto, a piada caiu mal ao primeiro-ministro, que acusou Rio de estar a «disfarçar o seu desconhecimento como tendo sido uma graçola».

«É uma graçola, mas eu não creio que um político afirme a sua credibilidade com graçolas. Eu acho que a nossa credibilidade afirma-se procurando responder com seriedade aos problemas sérios do país», continuou o primeiro-ministro. Um momento tenso, mas que não fez Rio perder o sentido de humor. No dia seguinte, em Lisboa, Carlos Moedas, presidente da Câmara lisboeta, juntou-se ao líder social-democrata e aos jornalistas, e Rio gracejou: «Claro que foi fácil convencê-lo [Carlos Moedas]. Estava à espera que fosse apoiar António Costa?».

Rio tem, assim, vincado o seu lado ‘brincalhão’ nesta campanha eleitoral, desde as fotografias do seu gato Zé Albino partilhadas no Twitter até à declaração feita em reação à polémica do voto antecipado: «Aquilo que eu pretendo é brincar. Não têm sentido de humor? Têm de ter sentido de humor».

Um sentido de humor que se poderia explicar com a aproximação do PSD e do PS nas diferentes sondagens que vão deixando os socialistas «nervosos» – palavras de Rui Rio – e os sociais-democratas confiantes.

A acusação de nervosismo prendeu-se com um ataque a Rio de figuras socialistas oriundas do Porto, como a antiga atleta olímpica Rosa Mota, que chamou «nazizinho» ao líder social-democrata, num evento em que acompanhava António Costa.

«Eu tenho a certeza absoluta que os outros quase só olham para isso [as sondagens] e portanto começam a ficar nervosos com isso. Vão acentuar quase de certeza este tipo de campanha mais difamatória, mas não vou dar troco», respondeu Rio, em declarações aos jornalistas, relativamente ao insulto de Rosa Mota, atirando ainda em ricochete ao primeiro-ministro: «António Costa é que sabe quem mete dentro da sala».

No mesmo dia, no distrito de Coimbra, o líder social-democrata admitiu acreditar que nenhum partido terá maioria absoluta, mas mostrou-se confiante que o PSD terá um resultado melhor do que o PS. «Dá-me ideia que isto está bastante equilibrado e é muito difícil dizermos quem vai ganhar. Não sou político, sou mais profissional de eleições e sinto que a probabilidade do PSD ganhar é mais elevada do que a do PS», disse o líder social-democrata numa arruada na cidade académica, desvalorizando as sondagens publicadas nos últimos dias. 

«Estou à espera que me deem razões para acreditar em alguma delas», atirou.

Frases

– Sinto que a probabilidade de o PSD ganhar é mais elevada do que a do PS

– Tenho consciência que os outros quase só olham para elas [as sondagens], e começam a ficar nervosos

– Obviamente que tenho muitas razões de queixa da vida interna do partido nestes últimos quatro anos, mas neste momento o partido está unido e aposta na vitória a 30 de janeiro

Bloco na luta por manter terceiro lugar

O Bloco de Esquerda tem pegado em muitas bandeiras ao longo da sua campanha eleitoral – a TAP, a barragem da EDP em Miranda do Douro, o salário mínimo e uma luta pela ‘desprivatização’ de determinadas empresas – mas o foco tem também estado na derrota de uma outra força política que tem ganho tração ao longo dos últimos anos: o Chega. André Ventura tem sido parte ativa das ações de campanha bloquistas.

Numa visita ao bairro da Jamaica, a líder do Bloco recordou a polémica em torno do líder do Chega e a família Coxi, que chegou mesmo aos tribunais e da qual resultou uma condenação a Ventura por ofensas ilícitas ao direito à honra e à imagem. No bairro, Catarina Martins foi recebida por Fernando Coxi, líder da Associação de Moradores do Bairro da Jamaica, e não tardou a apontar armas a Ventura. «Acreditamos num país em que todos nos respeitamos. De igual para igual. A força do Bloco de Esquerda será a derrota do racismo de André Ventura», disparou a líder bloquista, garantindo: «A melhor lição que lhe podemos dar no dia 30, é a sua derrota. E o BE reforçado como a terceira força política, é a derrota de André Ventura.»

A visita ao bairro da Jamaica foi um dos pontos altos da campanha, que passou também por apontar críticas a António Costa e ao PS, antigo colega de ‘geringonça’.

José Gusmão, cabeça de lista pelo distrito de Faro, aproveitou os pedidos de maioria absoluta de Costa para o atacar, bem como a principal arma de arremesso socialistas nestas campanhas eleitorais: a estabilidade. «Estabilidade quer dizer muitas coisas diferentes conforme o ponto de vista onde nos situamos», começou por acusar Gusmão, num comício em Portimão, onde resumiu: «As maiorias absolutas são um paraíso para quem governa, são um paraíso para quem se governa e são um inferno para quem é desgovernado.»

E mais, o eurodeputado bloquista desvalorizou que a escolha nestas eleições legislativas seja entre Rio e Costa, até porque «não é assim que funciona a nossa democracia e António Costa sabe-o, porque se fosse assim, em 2015, teríamos ficado com Pedro Passos Coelho como primeiro-ministro».

Assim, e com este panorama em mente, a escolha de dia 30 não é entre «a maioria absoluta ou o pântano», argumentou Gusmão.

Na manhã de sexta-feira, a campanha continuava, e o tema foi a saúde, a arma de arremesso de Catarina Martins para convencer os ‘indecisos’ a dar o seu voto ao Bloco. «O fundamental nesta campanha é falar sobre soluções», começou por declarar a coordenadora do partido, durante uma ação de campanha em Lisboa.

Frases

– As eleições não são sobre os humores dos partidos, são sobre que país queremos construir

– O BE reforçado como terceira força política é a derrota de André Ventura e é essa derrota que queremos impor

Livre para negociar

Rui Tavares quis assinar os papéis logo no debate com António Costa e ainda tentou puxar Sousa Real para um entendimento por escrito à Esquerda. Mas o convite para uma ecogeringonça (que pretende juntar PS, PAN, Livre e até o PEV) tem ficado – até ver – sem resposta. 

Numa ação de campanha no Porto, na quinta-feira, o líder do Livre acusou o secretário-geral socialista de «ter medo» do compromisso porque esta é uma solução que afasta o PS da maioria absoluta.

No debate das rádios, Costa preferiu demarcar-se de Rui Tavares, puxando da carta da energia nuclear, «uma linha vermelha» para o PS, mas que o Livre «encara com grande abertura», disse o socialista.

Tavares disse que o secretário-geral do PS «inventou, do nada, uma linha vermelha que, na verdade, não existe» e mostrou-se «agradado» com o ataque «porque demonstra que a solução da ecogeringonça está a fazer o seu caminho no eleitorado».

Já esta sexta-feira, em Braga, voltou a insistir na «construção de pontes» à Esquerda para livrar Portugal do dilema entre o bloco central e a maioria absoluta.

«Não vale a pena estar a pressionar os eleitores [para uma maioria absoluta] ou a esconder o jogo para o dia 31. O eleitorado não gosta de ser pressionado, ainda há tempo de arrepiar caminho e mostrar vontade de convergência e entendimento à Esquerda», defendeu.

Deixou ainda um desafio: que Costa mostre o baralho todo aos portugueses e defina «com clareza e convergência» a solução governativa que sairá das eleições de 30 de janeiro.

Frases 

– António Costa tem medo que essa alternativa [a ecogeringonça], que é uma alternativa viável, seduza o eleitorado e que o afaste da maioria absoluta e tem razão em ter medo

Comunistas insistem na geringonça

A CDU já teve dois obstáculos na sua campanha eleitoral – primeiro, Jerónimo de Sousa foi afastado por uma operação de urgência, e, depois, João Ferreira, que tinha assumido a liderança da campanha, junto de João Oliveira, acabou por testar positivo à covid-19.

Durante o ‘debate da rádio’, que juntou vários líderes, Oliveira abriu caminho para a ‘convergência’ com o PS, lançando um desafio a António Costa: «As pessoas com o voto na CDU têm a possibilidade de um voto de convergência, de reforçar a convergência. […] O PS recusa a convergência com a CDU, uma convergência que afaste a direita do poder?».

O PM, no entanto, não pareceu muito interessado, especialmente numa altura em que aposta todas as fichas na desejada maioria absoluta. Durante o debate, Costa reconheceu «uma experiência de trabalho excelente com o PCP», e atirou: «O diálogo é sempre possível com todos, agora há limites».

Os comunistas têm estado na rua, e a manhã de sexta-feira serviu para dar gás ao tema da ‘convergência’. No distrito de Faro, João Oliveira acusou os socialistas de estarem a «fugir a esse apelo direto de dizerem claramente se recusam ou não a convergência com a CDU».

Uma fuga, aliás, que «encaixa na estratégia de tentar obter uma maioria absoluta», defendeu o comunista, argumentando que o Partido Socialista «definiu como objetivo retirar deputados à CDU».

A data de regresso de Jerónimo de Sousa à campanha é ainda desconhecida, tendo-se falado inicialmente de dia 20 de janeiro, data que acabou adiada para dia 26. Inicialmente a dupla de ‘Joões’ (Oliveira e Ferreira), e agora unicamente João Oliveira, ficou responsável pela atividade dos comunistas até ao dia das eleições, e os temas em cima da mesa são claros: a ‘geringonça’, o futuro da TAP, o aumento do salário mínimo nacional e o «murro no estômago» – como  o próprio Oliveira acusou, em campanha, no Algarve – que são as dificuldades no SNS registadas ao ouvir os populares que acompanhavam a campanha comunista na manhã de sexta-feira.

A bola, defendem os comunistas, está agora do lado de António Costa, que só não formará uma nova geringonça se não quiser.

Frases

– A realidade, às vezes, é um murro no estômago

– Essa fuga à resposta encaixa na estratégia de tentar uma maioria absoluta

PAN foge da samarra de Costa

António Costa escancarou a porta e admitiu governar com o PAN. Ironicamente – ou talvez não –, uma semana depois de ter piscado o olho ao partido defensor dos direitos dos animais, apareceu em Beja com uma samarra com gola de raposa. O PAN, porém, e mesmo apesar de instado a pronunciar-se sobre aquela indumentário do PM pelo Nascer do SOL, preferiu manter-se em silêncio.

Ainda sem se descoser se prefere o PS ou o PSD, a líder do PAN voltou a colocar em cima da mesa a hipótese de integrar um eventual Governo, afirmando que o partido tem vindo a «demonstrar que é capaz de dialogar e fazer pontes». Inês Sousa Real considerou ainda ser «absolutamente precipitado» discutir a entrega de ministérios em plena campanha eleitoral. «Temos de aguardar pelo resultado eleitoral, é precoce estarmos aqui a fazer futurologia política», apontou.

Depois de ter calçado as galochas contra a viabilidade do Montijo para a construção do novo aeroporto, no arranque da campanha, Inês Sousa Real rumou a Beja, na quinta-feira. Da estação de comboios de Beja, onde defendeu a ferrovia como uma «prioridade» em matéria de coesão territorial, partiu para o Aeroporto de Beja. Aí foi vaiada por um grupo de aficionados da tauromaquia, formado por cerca de 30 pessoas, incluindo elementos dos Forcados Amadores de Beja. A abolição das touradas tem sido uma das bandeiras do PAN e, pela primeira vez nesta campanha, confrontou-se com manifestantes.

A caravana do PAN seguiu viagem para Sul, na sexta-feira, com Sousa Real a visitar o Centro Hospitalar Universitário do Algarve, onde aproveitou para alertar para a problemática dos profissionais de saúde que «neste momento estão a ir para o estrangeiro», por falta de atratividade na profissão. A porta-voz do PAN desvalorizou ainda as sondagens conhecidas na quinta-feira à noite, que dão ao PAN a eleição de um a dois mandatos. «As sondagens valem o que valem», declarou.

Frases

– Não estamos à espera de nenhum Ministério dado pelo PS, PSD ou por quem quer que seja

– [O Aeroporto do Montijo] vai meter água e afundar muitos dinheiros públicos

CDS com Alegria e Esperança

Numa visita ao mercado de Setúbal, onde o CDS-PP é tudo menos popular, Francisco Rodrigues dos Santos cruzou-se, primeiro, com Isabel Alegria e, depois, com Esperança. Um presságio do que viria no dia 30 de janeiro para o partido centrista, quis acreditar o líder do partido.

«Já conheci uma senhora chamada Alegria, agora Esperança, são tudo sinais de que as coisas vão correr bem no dia 30», dizia o líder centrista.

Depois dos debates televisivos – cujo balanço foi deveras positivo –, os centristas fizeram-se à estrada e às ações de campanha centristas juntaram-se nomes históricos do partido, como Manuel Monteiro, António Lobo Xavier ou João Almeida. Companhia que Francisco Rodrigues dos Santos valorizou, em particular numa visita às instalações temporárias do Mercado do Bolhão, no Porto, ao garantir estar «muito feliz e muito honrado que esses protagonistas da história recente do nosso partido, numa altura em que o CDS joga a sua sobrevivência eleitoral, estão juntos para aconselhar o voto no CDS».

Há um elefante na sala no que toca à participação do CDS-PP nas eleições legislativas: é a sobrevivência do partido que está em causa. E o próprio Francisco Rodrigues dos Santos admitiu-o.  Na TSF, na sexta-feira, o líder centrista deixou um apelo aos seus eleitores para «salvar o país dos pântanos socialistas»: «O relevante nesta altura é apelar a todos os eleitores do CDS ao longo destes 50 anos que, nesta prova de vida que temos pela frente, se desloquem às urnas e deem o voto de confiança ao CDS pelas mesmíssimas razões que os levaram a votar no nosso partido desde a sua fundação».

Francisco Rodrigues dos Santos afastou a hipótese de fazer ‘arranjinhos’, nem com Costa nem com a ‘extrema-esquerda’, e, na quinta-feira, não afastou a hipótese de receber uma pasta num eventual Governo de centro-direita com o PSD, como o próprio Rui Rio chegou também a admitir. A Defesa, exemplificou o líder do PSD, poderia ser entregue ao CDS num caso de os dois partidos formarem Governo, algo que Francisco Rodrigues dos Santos viu com bons olhos, apesar de garantir não ter nos seus planos ser ministro.

O líder centrista tem também criticado a ideia de um eventual entendimento entre PSD e PS. Em Lisboa, numa ação de campanha, dizia ‘fazer-lhe confusão’ que «haja um partido que se diz de oposição e que admita, depois de contados os votos, entender-se com António Costa».

 

Frases 

– Nós somos o partido que impede que o PSD vá por maus caminhos e que um voto no PSD vá parar ao bolso de António Costa

Do futebol de praia às ruas

João Cotrim Figueiredo, líder do Iniciativa Liberal, e Carlos Guimarães Pinto, cabeça de lista pelo Porto, deram o pontapé de saída da campanha liberal na praia de Matosinhos, com um minitorneio de futebol de praia.

Uma forma ‘very typical’ dos liberais de começar a campanha – diferente, fora da caixa, procurando destacar-se dos restantes partidos. De resto, no entanto, vieram as arruadas e os contactos com a população, como manda a tradição, igual à dos outros.

Na missão de contrariar o desejo socialista de uma maioria absoluta, João Cotrim Figueiredo encontrou uma aliada na Ordem dos Enfermeiros: a Bastonária Ana Rita Cavaco. A antiga conselheira nacional e militante do PSD juntou-se ao IL na luta por tirar António Costa e o PS do poder, definindo como ‘má’ uma eventual maioria absoluta do partido no Parlamento. «Se Costa governou durante este tempo em coligação e foi o que foi para nós, enfermeiros, o que seria com uma maioria absoluta», atacou a bastonária ao lado do líder do IL.

Mas os liberais têm mais bandeiras nesta batalha da campanha: a começar pela TAP. O partido liderado por Cotrim Figueiredo procura aterrar de emergência o voo que transportará 3.200 milhões de euros de dinheiro público na companhia aérea, e, para isso, admitiu pedir ao Tribunal de Contas a abertura de uma auditoria ao processo de nacionalização.

Num comunicado, os liberais anunciam que irão avançar com a missão de garantir a «salvaguarda dos interesses dos contribuintes». Soluções? O IL fala num processo de privatização da companhia aérea, ou então na declaração  de insolvência da companhia e consequente venda de ativos. Mais, os liberais sugeriram avançar com contratos «com um operador privado do serviço de ligações aéreas» aos Açores e Madeira, sempre que «a continuidade territorial não seja imediatamente garantida por mecanismos de mercado».

Frases

– Alguém que é formado e formado com qualidade em Portugal em enfermagem não tem perspetivas profissionais que sejam animadoras

Ventura e sua cara omninpresente

Ventura tem andado pelas ruas – tanto nas mais apertadas, como nas autoestradas. O Chega é um partido de tal forma personalista que, para realizar uma campanha eficaz, André Ventura tem de se desdobrar em centenas de André Venturas. Para isso, além dos cartazes com a sua cara em destaque pelos concelhos de Portugal afora, contratou uma camião gigante que leva a sua cara em plano extra largo a correr o país.

Na quinta-feira esteve por Mirandela e Chaves, onde chamou a  atenção para o «interior mais empobrecido, a queda demográfica acentuada, os cada vez menos jovens a viver no distrito, o cada vez menor investimento e o afastamento cada vez maior dos centros de decisão e dos centros de desenvolvimento». Uma responsabilidade que atribuiu aos «anos de governação socialista e social-democrata» naquele distrito.  «O PS e PSD já deram o que tinham a dar», agora é «tempo de dar ao Chega a oportunidade de governar Portugal», afirmou. Durante a arruada, entre selfies, relembrou que o concelho de Mirandela havia sido um dos que lhe dera «um dos maiores resultados das eleições presidenciais», em janeiro do ano passado.

Quarta-feira esteve em Viseu e na Guarda. Em Viseu, foi por um triz que não se cruzou com Rui Rio. Lá esperavam-no cerca de duas dezenas de apoiantes, munidos da parafernália do partido. Entre o passo galopante pelas ruas, parou na Igreja da Misericórdia para rezar. Ao entrar numa loja, sem máscara, foi repreendido pelo proprietário. A arruada seguiu com gritos contra a corrupção, sem grandes paragens. Quanto a um eventual medo da presença de Rio, Ventura rejeitava: «Se Rui Rio aqui chegar, cumprimentá-lo-ei sem problema. Se encontrasse Rui Rio aqui em Viseu o que lhe perguntaria diretamente é como é que deixou a saúde em Viseu chegar a este estado».

Já terça-feira, dia 18, esteve por Aveiro – a «Veneza portuguesa», como recordou. Lá, saudou-se pelo facto de ser «a terceira força política», afirmando ser notório que o Bloco estava «a perder gás». Não obstante, «nada está garantido», razão pela qual muito terem «de trabalhar» até dia 30. Aproveitou, ainda, para atacar o RSI «Queremos acrescentar um regime que permita a fiscalização das chamadas manifestações de fortuna. Isto é: quem, mesmo não tendo rendimentos declarados – como é o caso dos beneficiários do RSI».

Segunda-feira, 17, esteve na Batalha e em Coimbra, onde notou que, independentemente dos números do Chega, ficaria insatisfeito com uma vitória do PS. «Hoje, voltam-nos a dar uma subida significativa, mas o PS continua em primeiro lugar. Há dias em que me pergunto em que é que este povo está a pensar? Não fico contente, mesmo que o Chega cresça 100 ou 200%, se Costa voltar a ganhar as eleições», afirmou.  

Frases

– O PS e o PSD já deram o que tinham a dar, agora é tempo de dar ao Chega a oportunidade de governar Portugal

– Há dias em que me pergunto em que é que este povo está a pensar?