No final o que conta é o resultado. Ninguém duvida disso. Mas, neste caso, o resultado não é o princípio e muito menos será o fim. André Fialho já era um dos nomes principais nas artes marciais mistas (MMA) em Portugal, mas a sua chegada ao principal campeonato de MMA do mundo, o UFC (Ultimate Fighting Championship), voltou a colocar mais uma vez os holofotes virados para a modalidade. E, sobretudo, para o atleta de Cascais, de 27 anos.
Apesar de ser filho de um pugilista, não ambicionou desde cedo fazer carreira na modalidade e, por isso, não podia sequer imaginar chegar um dia à principal liga de MMA.
O futebol foi a sua primeira paixão, com a nova ‘relação’ desportiva a começar bem mais tarde, há cerca de uma década, após uma viagem ao Algarve com o pai, onde conheceu aquele que viria a ser o seu futuro treinador – e o início de um percurso promissor nas artes marciais mistas.
“O meu pai ensinou-me boxe desde os três anos, mas nunca levei muito a sério, ele ensinou-me como defesa pessoal. Estudava e levava o futebol mais a sério, até aos 18 anos eu queria ser jogador”, revelou, em entrevista ao JN.
Iniciou-se no boxe, no Benfica, conquistando aos 18 anos o título de campeão regional e de campeão nacional amador.
Foi em 2014, num torneio realizado no Porto, que se destacou, tornando-se de imediato um nome a seguir no MMA. “Convidaram-me para um torneio onde podia ganhar um cinto, mas tinha de fazer três lutas na mesma noite. Venci as três por nocaute e foi aí que deixei de ser uma promessa para ser um dos melhores em Portugal. Foi tudo muito rápido, em menos de um ano já tinha seis combates e não tinha perdido”, recordava ao mesmo jornal.
Confiante das suas capacidades, em 2015, o jovem português tentou entrar no The Ultimate Fighter (TUF), o popular reality show onde praticantes amadores ou profissionais de MMA procuram o sucesso na modalidade. Os lutadores selecionados são divididos em duas equipas (orientadas normalmente por nomes bem conhecidos dos desportos de combate) e lutam entre si até ser apurado o ‘TUF’, que conquista um aliciante contrato com a UFC e uma vaga para treinar na instituição.
André Fialho acabou por ficar pelo caminho durante a fase de acesso, altura em que decidiu mudar o rumo da sua carreira. Deixou Las Vegas com destino à Califórnia, onde começou a treinar na American Kickboxing Academy (AKA).
“Eu pensava que ia ganhar o torneio e não consegui entrar. Fui eliminado após a primeira prova, ainda que injustamente. Tinha juntado dinheiro e pedido ajuda aos patrocinadores para poder vir para os Estados Unidos. Como não entrei [no The Ultimate Fighter] , fiquei maluco. Não era capaz de voltar para Portugal de mãos a abanar, por isso comprei uma viagem só de ida para a Califórnia e fui bater à porta do AKA. E tudo começou aí, em 2015”, revelou ao programa Superlutas.
Tinha 21 anos e, agora, o sonho de atingir o mais alto patamar.
Não demorou a subir degraus. Na AKA treinava com alguns dos principais lutadores de MMA, como Daniel Cormier, antigo duplo campeão do UFC, e as lendas Luke Rockhold e Khabib Nurmagomedov. Num piscar de olhos foi chamado para integrar o Bellator, considerada a II divisão das artes marciais mistas.
Em 2016 estreou-se na competição da melhor forma: uma vitória, seguida de outra. Perdeu ao terceiro combate e, desmotivado com as duras críticas, deixou a liga para competir no Warriors, dos Emirados Árabes.
Em 2021 regressou às vitórias e ao mais alto nível, com o convite da UFC a aparecer em cima da hora, tendo tido apenas cerca de uma semana para se preparar para a grande estreia (integrou a instituição no passado dia 11 de janeiro e foi chamado de imediato para substituir Muslim Salikhov). A protagonizar o terceiro combate do cartaz principal, diante de 18 mil pessoas, Fialho entrou na arena Honda Center, em Anaheim, na Califórnia, com O Amor a Portugal, de Dulce Pontes, como banda sonora e, apesar da força demonstrada no primeiro round, acabaria com uma derrota por decisão unânime após três rondas. Numa luta de peso meio-médio (até 77kg), foi derrotado pelo brasileiro Michel Pereira.
Reagiria horas depois nas suas redes sociais, assegurando que não irá baixar os braços até atingir o objetivo final: ser campeão do mundo: “Grato pela oportunidade, grato pela lição, grato por ter lutado num cartaz tão bom, com arena lotada. Vou aprender, crescer e melhorar com isso. Tenho muito a melhorar e corrigir. A noite passada deu-me mais vontade e fome do que nunca. Prometi a mim mesmo fazer todas as mudanças necessárias e não vou parar até ser campeão do mundo”.