Fevereiro começa com proibição de queimadas em todo o território nacional face ao aumento da intensidade do vento e estado de secura dos terrenos. E mesmo com a chuva a poder regressar já durante esta semana, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera considera que é muito provável que a situação de seca meteorológica se agrave ao longo do mês. Para reverter a situação atual, em que todo o país se encontra em situação de seca – e 45% do território em seca severa ou extrema – seria preciso chover mais do que o habitual em fevereiro, o que por agora não se antecipa e tem sido pouco frequente nos últimos anos, em que a tendência tem sido precisamente chover menos.
O ponto de situação foi feito no final da semana passada pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera, numa altura em que começam a ser notórios os impactos da situação de seca meteorológica. E também as queixas: a Associação dos Beneficiários do Rio Mira, noticiou no fim de semana a RTP, decidiu racionar o uso de água da barragem de Santa Clara (Odemira), em torno dos 40% de capacidade, aos cerca de 200 “utentes precários”, que usam a água para rega fora do perímetro de regadio, com críticas entre os agricultores afetados que terão de encontrar alternativas. Um novo ponto de situação sobre as barragens em janeiro é esperado nos próximos dias e os produtores temem já um impacto nas campanhas agrícolas deste ano e do próximo. Na frente do combate a incêndios florestais, anos secos também tendem a aumentar o risco e dificultar o combate às chamas, no imediato, com maior risco de descontrolo de queimadas. Ontem o fogo lavrou no Parque da Peneda Gerês, no concelho de Ponte da Barca, depois de as chamas terem consumido dezenas de hectares no Parque Natural de Montesinho.
Reunião interministerial Para esta terça-feira, 1 de fevereiro, está marcada uma reunião interministerial sobre a situação de seca no país, noticiou o Diário de Notícias. Em declarações ao i há uma semana, o Filipe Duarte Santos, investigador especialista em clima da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, tinha considerado “avisado” avançar com medidas de adaptação a um cenário que aponta para secas mais frequentes e prolongadas nas regiões mediterrânicas, desde a diminuição de consumos domésticos de água mas também aproveitamento de águas residuais tratadas para regadio e a discussão da hipótese de dessalinização – em Portugal a água do mar tratada só é usada para abastecimento no Porto Santo.
De acordo com o IPMA, o grau de severidade da seca meteorológica que se regista atualmente no país é “ligeiramente inferior” à pior situação vivida nos últimos anos, quando no final de janeiro de 2005 (seca mais intensa desde 2000) mais de 70% do país se encontrava em seca extrema ou severa. Ainda assim, janeiro de 2022 terá sido um dos três mais secos dos últimos 20 anos, com menos de 25% do valor médio de precipitação. As previsões a médio prazo, sempre com maior grau de incerteza, apontam que em fevereiro a precipitação volte a ser abaixo do normal, indicou o IPMA, o que levou o instituto a alertar para o possível agravamento da situação de seca. “Para a situação de seca diminuir significativamente ou mesmo cessar no mês de fevereiro, seria necessário que nas regiões do Norte e Centro ocorressem quantidades de precipitação superiores a 200/250 mm e na região Sul superiores a 150 mm, situação que somente ocorre em 20% dos anos”, informou o IPMA.