Em 2021 houve mais portugueses a dar sangue pela primeira vez. “Uma transfusão faz muitas vezes a diferença entre a vida e a morte”

Em entrevista ao i, Maria Antónia Escoval, presidente do Instituto do Sangue e da Transplantação, explica que se vive o momento de maior presssão sobre as reservas de sangue desde o início da pandemia. Regras mudaram hoje: recém-vacinados deixam de ter de esperar 7 dias após a vacina para poderem dar sangue.

Em 2021, os dadores de sangue de primeira vez aumentaram 34,5% em Portugal. Maria Antónia Escoval, presidente do Instituto Português do Sangue e da Transplantação, sublinha esta terça-feira, em entrevista exclusiva ao i, que os apelos na altura em que o país estava confinado levaram a um aumento "significativo" dos novos dadores, que agora é preciso manterem-se. 

E um ano depois, acaba por estar-se a viver a situação mais preocupante desde o início da pandemia no que toca à gestão das reservas de sangue, admite a responsável. Com mais de um milhão de portugueses em isolamento profilático, e recorde de infetados, são menos os que podem dar sangue, ao passo que no ano passado, mesmo com o país confinado, não havia tantos infetados e podia sair-se de casa para dar sangue, excepção que esteve sempre garantida durante os estados de emergência.

A regra que suspende por 14 dias a doação de sangue por infetados existe também para outras infeções respiratórias, como a gripe, explica Maria Antónia Escoval, sendo uma garantia de segurança da colheita, e vai assim manter-se. Mas há uma regra que muda já esta quarta-feira: quem faça as primeiras doses ou o reforço da vacina da covid-19 com a Pfizer ou Moderna deixa de ter de esperar 7 dias antes de poder dar sangue, diz a responsável, explicando que o país atualizou o plano de contingência com as evidências de segurança das vacinas de mRNA, em linha com o que está a ser feito noutros países que estão a enfrentar a mesma pressão sobre as reservas de sangue. A preocupação neste momento, diz Maria Antónia Escoval, é que os hospitais possam receber as unidades de sangue necessárias diariamente para manter a atividade programada, nomeadamente cirurgias.

"Com as colheitas do fim de semana conseguimos equilibrar ligeiramente a situação face à semana passada mas continuamos a precisar de reforçar as dádivas de sangue para responder às necessidades dos hospitais", apela a responsável. "Nas outras fases da pandemia, porque houve diminuição da atividade programada nos hospitais, foi-nos fácil adequar as colheitas aos consumos. Neste momento, como tentamos a todo o custo manter a atividade nos hospitais, torna-se mais necessário reforçar as dádivas de sangue."

470ml podem contribuir para salvar três vidas

Cada vez que se dá sangue são colhidos 470ml, o que representa uma unidade de sangue e de outros componentes sanguíneos. Diariamente os hospitais solicitam ao IPST 800 a mil unidades de sangue e componentes. Cada dádiva pode salvar não uma mas três vidas, vinca Maria Antónia Escoval. Isto porque o sangue é separado em três componentes: plaquetas, plasma e concentrado erotrocitário. "O sangue só é administrado a quem realmente necessita por isso uma transfusão faz muitas vezes a diferença entre a vida e a morte", vinca Maria Antónia Escoval.

Depois das dádivas do fim de semana, o país estava esta terça-feira no nível amarelo do plano de contingência nacional de reservas de sangue, com reservas para 5 a 7 dias para todos os grupos sanguíneos. Na semana passada, chegou a estar no nível laranja, o terceiro mais elevado de quatro, para alguns grupos. Uma situação que recuperou ligeiramente no último fim de semana mas que é necessário "estabilizar", diz Maria Antónia Escoval.

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