Máximos históricos de inflação deixam economia em alerta

A inflação na OCDE atingiu o valor mais alto desde 1991 e o BCE estima que não desça tão cedo. Analista fala ao i sobre os riscos.

A inflação não para de aumentar e são vários os líderes europeus que já manifestaram a sua preocupação. Os valores altos vistos na Europa verificam-se também no resto do mundo, como mostram os mais recentes dados da OCDE, que revelam que a inflação subiu para 6,6% em dezembro, tendo “atingindo sua taxa mais alta desde julho de 1991”.
Os números são impulsionados pela inflação anual na Turquia, que chegou aos 36,1% em dezembro, depois de ter chegado aos 21,3% no mês anterior. “Excluindo a Turquia, a inflação na área da OCDE aumentou de forma mais moderada para 5,6%”.

A OCDE explica que os preços da energia subiram 25,6% na zona da OCDE nos 12 meses até dezembro de 2021, 2% abaixo dos 27,6% de novembro, mas muito acima dos 4,2% em dezembro de 2020. E acrescenta que “a inflação dos preços dos alimentos na área da OCDE aumentou fortemente para 6,8% em dezembro, em comparação com 5,5% em novembro e 3,2% em dezembro de 2020”.

Excluindo alimentos e energia, a inflação homóloga da OCDE também aumentou acentuadamente, para 4,6%, em comparação com 3,9% em novembro.

No total do ano 2021, a inflação anual na OCDE subiu para 4%, valor que compara com os 1,4% conseguidos em 2020. Esta é a taxa média anual mais alta desde o ano 2000.

Já os preços da energia cresceram 15,4%, a taxa mais alta desde 1981.

Questionado sobre estes números, o analista Henrique Tomé, da XTB, considera que “as previsões não são animadoras e voltam a colocar em causa se a subida dos preços é realmente transitória ou se não poderá prolongar-se mais do que se esperava inicialmente”. E lembra que “a possibilidade de assistirmos a novas subidas generalizadas dos preços acabam por prejudicar a economia nacional”.

Uma coisa é certa: “Neste momento, já estamos todos a pagar o custo de uma taxa de inflação mais elevada”, diz o analista. “No entanto, se esta tendência de alta se mantiver durante os próximos tempos, enquanto consumidores podemos sair ainda mais prejudicados e, em certos casos, podemos começar a optar por consumir menos determinados produtos, existindo um risco de haver estagnação em certos setores, o que é muito pior que a inflação”, alerta.

É normal que todos os anos os preços aumentem devido à inflação. No entanto, “quando o ritmo de crescimento é elevado esses mesmos produtos que tendem a subir a um ritmo em que o poder de compra do consumidor, à partida, não deverá conseguir acompanhar”. Dos exemplos mais óbvios são o aumento dos preços dos combustíveis, da luz e gás para consumo doméstico. Mas “os produtos finais também poderão sofrer ajustes nos preços, uma vez que continuam a existir constrangimentos nas cadeias de distribuição que também têm alimentado o aumento dos preços pagos pelo consumidor, à medida que os preços dos combustíveis tendem a aumentar”.

E estes são grandes alertas para a economia. “O maior risco para a economia é a possibilidade de virmos a assistir a períodos de estagflação [uma combinação de estagnação económica e alta inflação], que são extremamente prejudiciais para a economia, uma vez que os níveis de consumo podem começar a diminuir e poderá provocar um abrandamento da criação de riqueza com consequências diretas no PIB”. Apesar de admitir que este é um cenário “extremo”, Henrique Tomé acredita que “os decisores de política monetária estão empenhados a fazer o que for preciso para travar a escalada dos preços antes que possa ser ‘tarde demais’”.

“A inflação vai continuar elevada provavelmente durante mais tempo do que se esperava anteriormente, mas vai cair ao longo do ano”, disse ontem Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), acrescentando que a taxa de inflação de 5,1% em janeiro na zona euro foi uma surpresa.