O Estádio de Geoffroy Guichard vive momentos de aflição. Quando as gargantas se unem para gritar «Allez les Verts!» há uma sensação de impotência que perpassa por um dos campos de futebol mais carismáticos da Europa, no seu estilo bem britânico, casa da Association Sportive de Saint-Étienne, clube populares como poucos em toda a França e um dos únicos três do país que sonhou em ganhar a Taça dos Campeões.
Atirado para o último lugar da classificação, quatro pontos abaixo da linha de água, o Saint-Étienne revive o drama de 2000-01 quando, por causa do caso que ficou conhecido por L’Affaire des Faux Passeports – um esquema que permitiu ter ter jogadores inscritos como comunitários graças a passaportes falsos – foi atirado para a divisão secundária. Desta vez o escândalo não ultrapassa a questão desportiva, mas a amargura é idêntica.
Foi o Grupo Casino Guichard-Perrachon, uma grande empresa de distribuição de produtos sobretudo alimentares, que conseguiu entrar no mercado sul-americano, e o seu fundador e presidente, Geoffroy Guichard, que promoveram o nascimento do clube. Primeiro, em 1919, com a aparição de uma secção desportiva – Amicale des Employés de la Société des Magasins Casino, que compreendia secções de atletismo, basquetebol e futebol. No ano seguinte, interessados em participar nos campeonatos nacionais e esbarrando com uma proibição da Federação Francesa de Futebol em aceitar clubes com nomes de empresas, o nome foi alterado para Amical Sporting Club. Camisolas verdes, claro, a cor do Grupo Casino.
Em 1933, deu-se o histórico passo em direção ao profissionalismo. E nova alteração do nome: agora Association Sportive Saint-Étienne (hoje em dia o seu nome oficial é Association Sportive Saint-Étienne Loire). E, a partir dos anos 50, os Verdes passaram a fazer parte dos candidatos a títulos, vencendo o seu primeiro campeonato em 1957. Estava atingida a maioridade. O futuro apresentava-se luminoso. A população da cidade tornara-se fiel ao seu clube representativo e os seus adeptos eram dos mais entusiastas de toda a França. Em 1961, um tropeço no crescimento e uma breve passagem pela II Divisão. O melhor estava para vir.
A Europa dos Verdes
Em 1972, Robert Herbin, antigo internacional francês, chegou a Saint-Étienne como treinador e veio a mudar por completo as ambições do clube. Rapidamente, em 1974 e 1975, fez duas dobradinhas, campeonato e Taça. Em 1976, comandou a equipa na conquista do seu nono título de campeão de França.
Se é verdade que, em 1969, os Verdes, onde brilhava o maliano Keita (que jogou no Sporting), já tinham espantado a Europa ao baterem o Bayern de Munique em casa por 3-0, seria em 1976 que deixaram de vez a sua marca na Taça dos Campeões. Os nomes de Ivan Curkovic, Pierre Repellini, Oswaldo Piazza, Christian Lopez, Gérard Janvion, Dominique Bathenay, Jacques Santini, Jean-Michel Larqué, Patrick Revelli, Hervé Revelli, Christian Sarramagna e Dominique Rocheteau fizeram eco nos ouvidos dos apaixonados pelo jogo com uma participação brilhante que fez recordar o Stade de Reims do início da competição, atingindo duas finais, ambas perdidas para o Real Madrid.
Na primeira eliminatória, os Verdes despacharam com facilidade os dinamarqueses do KB Copenhaga (2-0 fora e 3-1 em casa). Em seguida seria a vez do Rangers, da Escócia (2-0 e 2-1). Complicações nos quartos-de-final com o Dínamo de Kiev (0-2 e 3-0 após prolongamento. Meias-finais secas perante o PSV Eindhoven (1-0 e 0-0). A final de Hampden Park, em Glasgow, punha-os frente a frente com o Bayern de Munique. Pairava uma aura de vingança, tendo em conta que na época anterior tinham sido os bávaros a impedir a chegada do Saint-Étienne à final, derrotando-os nas meias-finais. De nada serviu.
Apesar do seu jogo bem mais elegante, os franceses voltaram a ser derrotados, desta vez por um golo de Roth, aos 57 minutos. Ficou uma sensação de injustiça enquanto o Bayern erguia a sua terceira Taças dos Campeões. Mas foram tempos inesquecíveis!