«Culpa do nosso atraso é da História».
António Costa
1. Sem querer ser artificioso, sinto-me também eu um vencedor nestas eleições. Vou tentar explicar: O meu combate ao António Costa político foi contra a oferta de poder que fez – e que se preparava para fazer de novo, na figura de um delfim – aos inimigos da democracia, das liberdades, do desenvolvimento do país. Gorando à partida a expectativa de muitos portugueses na ação decididamente reformista de que, mais do que nunca, a situação do país urge. O resultado foi-se manifestando, por ações e omissões em vários domínios, agravando-se a situação muito difícil que se vive.
PCP e BE (que Costa, hipertrofiando a sua indiscutível habilidade política, julgou poder conter) impediram reformas inadiáveis e impuseram em vários domínios soluções e medidas desastrosas. Gabam-se disso, aliás, atribuindo-lhes mérito… por afinal se inscreverem no desígnio em que persistem de sabotar a democracia. Na ilusão fanática de que o ‘quanto pior melhor’ os levará ao poder.
É neste sentido que me considero um vencedor nas eleições: os eleitores chutaram inequivocamente do poder a extrema-esquerda! Tal como eu queria e escrevi e seguramente muitos militantes do PS, pelas mesmas razões, também quiseram.
2. A pergunta que se coloca agora, a única hoje relevante, é a seguinte: o AC que temos visto agir como primeiro-ministro, escolher os ministros, será capaz de governar Portugal como o país precisa de ser governado? Navegar, com um mínimo de rombos, na tormenta brutal que aí vem? No estado em que também ele deixou o país? Devo dar-lhe o benefício da dúvida, mas receio que continuemos no caminho de menores recursos e de maior dependência. Mas a maioria dos portugueses terá o que escolheu.
3. «A culpa do nosso atraso é da História!» (AC). Não é! A culpa passou a ser do que todos os governos, nomeadamente desde há cinquenta anos, fizeram ou não foram capazes de fazer. É da corrupção; do estado da Justiça; da Educação, que mantém os portugueses na ignorância e submissão; do desperdício dos milhares de milhões que têm chegado da Europa (desde 1986, 36 anos!, 9 milhões por dia) ou do seu simples impune desvio; da má gestão recorrente; das despesas brutais de um Estado disforme que suga os parcos recursos que geramos; da dependência do Governo de cinco milhões de cidadãos (em nove milhões de eleitores); da complacência geral, consentida, cobarde ou cúmplice perante a obstrução da extrema-esquerda a toda a mudança e reformas.
4. Apesar do receio que inspira, depois da experiência anterior, uma maioria absoluta não é na democracia-liberal, com suas instituições a funcionar, uma realidade necessariamente má. Pode mesmo ser uma grande oportunidade. O panorama de representação na AR melhorou, há agora uma oposição forte (que se deseja lúcida, competente e responsável) e as liberdades estão asseguradas no nosso espaço europeu. Convém também que todos os que aceitem a democracia-liberal e tenham a representatividade eleitoral que a lei exige estejam nela representados. Até mesmo os que só hipócrita e taticamente a aceitam, pois é essa a força invencível da liberdade.
Parece-me que o partido que irá ter mais espaço ao centro e à direita para crescer é a IL. Se for liberal. Se tiver gente culta e sensata na AR, e começar a ensinar o que é e o que quer, estelarmente, o verdadeiro liberalismo.
O CDS acabou, há muito tempo era óbvio. Porque nunca o deixaram, mas também porque nunca quis ou foi capaz de ser o que seria útil que fosse: a direita. A direita que o Chega veio para ser.
O PSD, que Rui Rio deixa ‘geograficamente’, digamos, ainda mais à deriva no espetro ideológico partidário (porventura irreversivelmente), terá dificuldade em manter o segundo lugar no ranking eleitoral. Não se vê onde encontrará um líder para o conseguir. Os partidos parecem ser, têm parecido ser todos, um deserto. Fizeram-se assim a si próprios. Ou o deserto é o país, somos nós