Em Agosto de 1973, um assalto a um banco em Estocolmo resultou num sequestro com diversos reféns, situação que se prolongou por quatro dias, sendo que as vítimas criaram uma relação de afectividade com os criminosos, acabando por, em certa medida, os defender, não apenas durante as negociações para a rendição daqueles, como também ao longo do processo judicial.
Um conhecido criminologista e psicólogo, que colaborou com as autoridades policiais durante o período do assalto, diagnosticou este fenómeno como a síndrome de Estocolmo, descrevendo-a como um distúrbio em que as vítimas passam a identificar-se emocionalmente com os criminosos, numa fase inicial como modo de defesa, por medo de retaliação ou de violência por parte deles.
Em caso de sequestro, as vítimas não conseguem alcançar uma visão clara da realidade nem avaliar o perigo real a que estão sujeitos, temendo qualquer tentativa de libertação por recearem dela saírem magoadas.
Este processo desenvolve-se sem que a vítima tenha disso consciência, aproximando-se de forma afectiva e emocional do criminoso, como meio de se distanciar da realidade perigosa e violenta a que está submetida.
Desde então têm-se verificado diversos episódios análogos, um pouco por toda a parte, sendo que o último se observou em Portugal, na semana passada, conforme o atesta o resultado da contenda eleitoral em que os portugueses foram convidados a participar.
Depois de seis anos de completa desgovernação, da qual nos afundámos num abismal aumento da carga fiscal para níveis nunca antes conhecidos, bem visível, entre muitos outros, no preço dos combustíveis, que não param de subir; de um alastrar da corrupção, que se tornou no maior cancro da sociedade; de intermináveis casos de desastrosa habilidade para o exercício de funções governativas, levando à queda de vários membros do governo e de outros servidores do Estado; de uma total estagnação do desenvolvimento social e económico, que teve como consequência sermos ultrapassados por quase todos os países que até há poucos anos viviam no limiar da pobreza, vítimas das ditaduras comunistas a que foram subjugados; enfim, depois de termos empobrecido às custas dos mais incapazes governos que nos caíram em sorte, eis que o eleitorado português resolve premiar a incompetência e o desvario de Costa e dos seus cúmplices, oferecendo-lhes uma maioria absoluta!
Será injusto dizer-se que foram os portugueses que decidiram a continuidade de Costa, mas sim apenas uma pequena parte deles, mais propriamente um quarto daqueles que têm o poder do voto, mas o sistema eleitoral assim o permite, ficando nas mãos dos que se deslocam às urnas o assumir das responsabilidades de quem prima pela ausência.
Costa venceu e está, agora sim, legitimado para levar adiante todas as políticas a que se propõe. Esta é a regra do sistema de partidocracia que nos foi imposto e a ela estamos condenados, razão pela qual de nada nos consola encontrar uma explicação para um acto de cegueira colectiva que nos conduzirá, ainda mais depressa, para o abismo em cujo cume já nos encontramos.
Costa provou que é, sem sombra de dúvidas, o melhor político no activo em Portugal.
Soube aproveitar-se, como ninguém, de uma crise pandémica que há muito deveria ser considerada ultrapassada, retirando daí os louros pessoais por um alegado papel messiânico de protector e salvador dos portugueses, livrando-os, graças à sua suposta superior inteligência e capacidade organizativa, de um inferno a que estariam condenados por via de um vírus maldito importado do extremo oriente.
E os portugueses, a maioria dos que votaram, caíram no engodo e elevaram Costa quase à divindade, reconhecidos pelas suas qualidades que muitos tomaram como celestiais.
Soube, igualmente, tirar partido das fragilidades daqueles que se perfilharam como alternativa à sua governação, tendo ainda sido bafejado pela sorte por poder assistir às lutas internas no seio das formações políticas com quem se confrontou.
Deixou passar, repetidamente, a mensagem de um Rio honesto, mas inapto para a condução dos destinos do País, criando, desse modo, a ilusão de que somente ele está munido da sapiência necessária para o exercício das mais altas funções governativas.
Astuto, tem plena consciência, e dessa realidade se serviu, de que os portugueses, a maioria dos que votam, se estão nas tintas para que um governante seja corrupto ou não, desde que apresente obra feita!
Só assim se compreende que diversos autarcas, entalados em vergonhosos processos judiciais, muitos deles já condenados e com as sentenças transitadas em julgado, outros já mesmo com penas de prisão cumpridas, sejam reeleitos, com o simples argumento de que fizeram muito pelos concelhos que delapidaram.
Num Exército, maus comandantes produzem maus soldados. Num país, maus governantes tornam o povo amorfo, quizilento, preguiçoso e indiferente ao seu destino.
No entanto, um bom político não significa, necessariamente, que seja um estadista, porque enquanto que este governa para as próximas gerações, aquele fá-lo a pensar nas próximas eleições.
Costa, para se manter no poder, vendeu a alma ao diabo, condenando, com esse seu egocêntrico gesto, todo um povo a uma travessia no deserto que se tem revelado desastrosa para o desenvolvimento da sociedade.
Os portugueses, a maioria dos que votam, infectados pela síndrome de Estocolmo, recusam-se a tomar consciência dos actos do seu carrasco, cruzando-se com ele emocionalmente por recearem, sobretudo, uma retaliação que os deixe indefesos.
Ao mesmo tempo, perderam o discernimento da realidade que os rodeia, desconfiando dos alertas para os perigos que condicionam o seu futuro e conformando-se com a sua situação de sequestrados por um socialismo que os agoniza e os impede de saírem da sua condição de mais pobres entre os pobres da Europa mais evoluída.
Vítimas de uma cegueira que lhes ofusca a consciência e os impede de se darem conta do fosso em que os atolaram, não embarcam em tentativa alguma que os liberte das garras dos captores, receando bem mais a sorte que lhes reservam os seus presumidos libertadores do que aquela a que se acostumaram.
Enquanto continuarmos a depender do voto decisivo destes enfermos da síndrome de Estocolmo, por causa da metade dos portugueses recenseados que teimam em fechar-se em casa em dias de eleições, estaremos condenados a chafurdar no imenso pântano em que Portugal se converteu, por obra e graça dos incompetentes e desmiolados políticos que insistem em nos desgraçar.
Não se queixem, pois, os que se demitem do seu dever, mas rogam pragas aos eleitos por quem votou!