A investigação ao ataque informático à Vodafone exclui a hipótese de ter-se tratado de um ato ligado à tensão entre Ocidente e Rússia mas o alerta para o risco de ciberataques nesse contexto já soou junto das instituições bancárias europeias e norte-americanas. Segundo a agência Reuters, o Banco Central Europeu tem estado a preparar o setor para a possibilidade de ciberataques patrocinados pela Rússia, promovendo testes de stresse nos bancos sobre segurança informática. Se até aqui a principal preocupação era o aumento de tentativas de burlas informáticas registado desde o início da pandemia, agora há também esta tensão a soar alertas, indicou a agência noticiosa, citando fontes anónimas. O Banco Central Europeu não prestou declarações sobre o tema, mas já tinha considerado a segurança informática uma das prioridades.
José Tribolet, professor catedrático jubilado do Instituto Superior Técnico e especialista em cibersegurança, chamou a atenção para este risco em entrevista ao i, considerando ser expectável no quadro das atuais tensões entre Moscovo e o Ocidente e uma das hipóteses para o ataque à Vodafone. “Não lhe chamava terrorista, chamava-lhe um ataque de origem político-militar, geoestratégico, no quadro das tensões atuais que temos no Ocidente. Todos os estados membros da NATO estão a ser sujeitos a ataques deste tipo e muito piores”, afirmou, considerando que essa é uma abordagem “racional” de quem ataca. “Se há uma frente de luta no leste da fronteira da Rússia, vai querer-se perturbar na maior extensão possível a NATO, porque isso vai obrigar a uma dispersão de forças. É uma atitude racional de quem ataca”.
Algo que no contexto da investigação ao ataque recente à Vodafone, Carlos Cabreiro, diretor da Unidade de Combate ao Cibercrime da PJ, afirmou ao i ser uma análise abusiva e que “não é real”.
Esta semana veio também a público um ciberataque ao Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, cujos contornos são confidenciais, com os apelos ao reforço da cibersegurança a aumentar. A Polónia avançou com a criação de uma unidade de cibersegurança militar, nomeando um general da armada para chefe desta resposta. Segundo o ministro da Defesa, citado pela Associated Press, o objetivo desta nova força é fazer a defesa, reconhecimento e, se preciso, ações ofensivas para proteger as Forças Armadas de ataques. “Estamos perfeitamente cientes de que no século 21 os ciberataques se tornaram uma das ferramentas da política agressiva, também usada pelo nosso vizinho”, disse Mariusz Blaszczak, citado pela AP, numa aparente alusão à Rússia.
Em Espanha, os clientes da Movistar ficaram ontem também várias horas sem rede, algo justificado pela empresa com uma avaria.