Com os diagnósticos de covid-19 a abrandar, conhecem-se os relatos mais diversos. Foram menos os casos graves nos hospitais, mas houve quem tivesse a terceira dose da vacina e ficasse de cama e quem não tivesse sintomas de todo. Há quem tenha estado infetado recentemente e tenha testado de novo positivo, mesmo com reforço da vacina, com sintomas mais fortes do que das vezes anteriores. E quem tenha estado isolado com filhos infetados sem aparentemente contrair o vírus, quando outros vão no segunda e terceiro teste positivo.
O i tentou perceber junto da Direção Geral da Saúde se existe um balanço de reinfeções, que explicou que a análise dos dados disponíveis está a ser concluída e deverá ser divulgada em breve. Já o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, admite que as análises são difíceis, mesmo a nível internacional, pois as populações foram vacinadas a ritmos diferentes, existem fatores de risco que podem pesar e dificilmente se tirarão “conclusões robustas”.
No entanto, em relação à Omicron, “dado que se trata de uma variante mais transmissível e com maior capacidade de fuga aos nossos anticorpos, a comunidade científica tem assumido a sua maior associação a reinfeções do que era observado para as outras variantes”, explica ao i o INSA. “Uma vez mais, tal hipótese carece de robustez científica dado que não existem dados oficiais e que não só a taxa de vacinação como o grau de confinamento (“medidas restritivas”) em vigor nos vários países está sempre a mudar e é heterogéneo entre países, dificultando estudos comparativos adequados entre as várias variantes”, conclui o organismo.
Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, admite que é difícil comparar dados de outras fases da pandemia, dado que a indicação era para não se fazerem novos testes durante 90 dias. Ainda assim, ou porque as pessoas tiveram sintomas, tiveram contactos infetados e à medida que o tempo avançou foi havendo maior acessibilidade a testes, tornou-se mais fácil detetar reinfeções. Com a Omicron, o médico afirma que se nota um aumento de situações em que pessoas testaram positivo num curto intervalo de tempo, por exemplo que tinham estado infetadas em novembro/dezembro, possivelmente com a variante Delta, e voltaram a infetar-se com a variante Omicron.
Agora, com uma segunda linhagem da Omicron a circular, isso pode também explicar mais reinfeções. O médico confirma que nesta vaga, com a população mairitariamente vacinada e uma variante que aparentemente causa também doença mais ligeira, houve as manifestações mais diversas quando se fala de sintomas ligeiros a moderados. E se é verdade que houve pessoas com a terceira dose a “ficar de cama”, também houve idosos vacinados com poucos sintomas e assintomáticos, partilha, por vezes a questionar se era mesmo preciso ficarem isolados. “A forma como o organismo reage depende de muitos fatores, da imunidade, até de quem foi a pessoa que transmitiu, do contexto de exposição, com maior ou menor carga viral”, explica Gustavo Tato Borges. “Depende do nosso organismo, depende da variante. Temos doença tendencialmente mais ligeira, mas que não devemos desvalorizar.” A mensagem deixada ontem por António Costa, que evocou o seu exemplo. Não teve febre ou sintomas fortes, mas confessou que sentiu “um nível de cansaço extremamente elevado”, algo partilhado por muitos infetados.
Na adesão às medidas, relatos de quem tem sintomas e não se testa ou mesmo sabendo que tem covid-19 sai de casa também chegam à saúde pública: “Há muita gente que já faz de conta que não tem doença nenhuma, não vão testar-se, mas também há outras pessoas que continuam muito preocupadas. O cansaço pandémico é uma realidade e por isso deve haver uma comunicação clara à população sobre o que justifica as decisões e medidas em cada momento”.