O novo ciclo político ainda não foi inaugurado e o Chega já está no centro do furacão e a dar sinais de crispações internas. Tiago Sousa Dias, até aqui secretário-geral do Chega, renunciou ao cargo na quarta-feira por prezar a «liberdade de pensar».
Através de uma mensagem no Facebook, fez saber que não tem «vergonha nem hesitações» do trabalho que fez, salientando que, «entre tantas outras coisas», limpou «juridicamente o partido» e edificou «uma nova estrutura jurídica».
Mas «nem tudo são rosas». «Não abdico da liberdade de pensar por mim e de apenas me dedicar ao que verdadeiramente me motiva. Quando discordo, digo-o», escreveu, anunciando que ia deixar a direção do partido por uma discordância, para a qual tentou «por todos os meios, perceber e enquadrar o caminho que o Chega tem pela frente». Contudo, «na ausência de respostas», não encontrou outra solução.
Apesar de garantir que não há dramas, nem querelas pessoais, o timing da decisão não deixa de ser curioso, considerando que Tiago Sousa Dias ficou de fora das opções de André Ventura para as listas das legislativas — tendo sido um dos poucos dirigentes que o líder do partido não convidou para ser candidato a deputado e terá sido esse afastamento interno a traçar-lhe o destino. De modo a não prejudicar o partido «entendi dever silêncio até ao encerramento do processo eleitoral», justificou.
Vice condenado
Como uma polémica nunca vem só, na sexta-feira foi a vez de Pedro Frazão, recém-eleito deputado e vice-presidente do Chega, de protagonizar mais um momento de controvérsia, ao ser condenado pelo Tribunal de Cascais. Em causa está um tweet de 14 de novembro, no qual o deputado do Chega escreveu que Francisco Louçã, antigo coordenador do Bloco de Esquerda (BE), «recebia uma avença do Banco Espírito Santo» e que o banco era um «grande doador das campanhas do BE».
De acordo com a decisão do Tribunal de Cascais, Pedro Frazão terá agora de eliminar a publicação feita no Twitter e publicar a sentença também na sua conta naquela rede social, além de um desmentido acerca das afirmações. A cada dia de atraso no cumprimento de cada uma destas obrigações estará sujeito a uma multa de 100 euros. No entanto, o vice do Chega já anunciou que irá recorrer da decisão.
Boicote a Pacheco de Amorim
A nomeação de Diogo Pacheco de Amorim para vice-presidente da Assembleia da República tem sido alvo de grande debate nacional, com o Chega, bem como a direita dita tradicional a acusar a esquerda de um boicote em bloco.
André Ventura já prometeu um braço de ferro longo, anunciando que vai apresentar nomes alternativos à mesa da Assembleia da República, caso Pacheco de Amorim seja rejeitado.
Caso se confirme o possível chumbo, logo após a primeira votação, «vamos imediatamente apresentar outro nome e, caso esse nome seja chumbado, vamos recorrer ao Tribunal Constitucional», afirmou o presidente do Chega, considerando que, conforme a Constituição, cabe ao Parlamento «eleger por maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções o seu presidente e os demais membros da mesa, sendo os quatro vice-presidentes eleitos sob proposta dos quatro maiores grupos parlamentares».
«Uma coisa é ser chumbado um nome» pelo seu passado e pelas suas ideias, como será o caso de Pacheco de Amorim, outra, bem diferente para Ventura, é chumbar um partido. «Esta não é só uma questão legal, é uma questão constitucional», frisou.