Por José Miguel Pires e Marta F. Reis
Tal como o Nascer do Sol noticiou na sua edição de 12 de fevereiro de 2022, pelo menos um grupo da barragem de Castelo de Bode continua a funcionar. Garante, segundo a EDP, o caudal ecológico determinado pela Agência Portuguesa do Ambiente e será uma das explicações para um alerta feito esta semana pela EPAL à APA, a que o SOL teve acesso, dando nota de uma descida do nível da água superior ao que é esperado face ao consumido pelo abastecimento numa altura em que a barragem está em alerta com a situação de seca persistente. O i esteve à conversa com a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) sobre o assunto, e o seu presidente, Eduardo Oliveira e Sousa, não poupou nas críticas à gestão dos recursos hídricos, não só em Castelo de Bode mas em todo o país, lamentando que “tem deixado muito a desejar”.
“Falta investimento, faltam políticas públicas, falta uma visão estratégica integrada para o melhor, mais eficaz e mais sustentável utilização do recurso água”, sublinha o presidente da CAP, deixando um alerta: “A seca é preocupante, mas com boa gestão e o devido planeamento não é uma inevitabilidade. Há que distinguir a seca meteorológica – como a que vivemos, caracterizada por longos períodos de pouca ou nenhuma pluviosidade – da seca hidrológica. A seca hidrológica não é fruto do clima, é fruto de falta de gestão e de planeamento.”
Falando sobre o caso específico de Castelo de Bode, e das polémicas em torno da contínua utilização dos recursos hídricos para a produção de energia em tempos de escassez, Oliveira e Sousa defende que, efetivamente, “a produção de energia hídrica, num contexto de escassez, levanta questões que se prendem com opções de fundo no que respeita ao mix energético em Portugal e à necessidade de importação de energia”. “As renováveis não devem estar em causa como opção estratégica de fundo, mas algo deve ser feito num horizonte curto para que a água seja suficiente para utilizações múltiplas e não para estarmos num cenário extremo, de escolha, em que para produzir energia estamos a restringir a água para consumo humano ou a impedir a sua utilização para a agricultura”, defende ainda o presidente da CAP, garantindo que “a ciência e o conhecimento, com as pessoas e as comunidades no centro das decisões, têm que ser os pilares de qualquer política para a energia e para a gestão da água”.
Em jeito de conclusão, e em forte crítica à forma como tem sido gerida a produção de energia hídrica neste período de seca, que o Governo interrompeu a 1 de fevereiro, Eduardo Oliveira e Sousa dispara: “A ideologia – nestas matérias – não tem lugar… É nos factos, na ciência e no conhecimento que têm que ser encontrados os racionais para investir e decidir. As alterações climáticas são efetivas, pelos que lidar com a temática com suposições ou ideias feitas – e sem considerar o panorama geral – é a mais rápida receita para um desastre certo.”
Empresários preocupados Quem também se mostrou preocupado com a gestão da barragem de Castelo de Bode em plena seca foram os membros da Associação dos Empresários do Turismo de Castelo de Bode (AETCB). “Os associados da AETCB continuam a constatar a descida do nível de água da barragem do Castelo de Bode, e a situação é preocupante”, começa por explicar a associação, ao i, augurando que “será muito importante assegurar um cota de água que permita um bom verão para todos, abastecimento de água a 3 milhões de pessoas e manutenção da procura turística, possibilitando a sobrevivência da micro economia deste território”.
A AETCB recorda que “a envolvente do Castelo de Bode é território de interior, de baixa densidade”, pelo que “importa não descurar a importância das populações valorizarem os seus recursos”.
A zona em torno da barragem de Castelo de Bode, bem como a sua Albufeira, são um forte chamativo turístico da região, e as quebras no caudal têm feito soar os alarmes por entre os empresários deste setor, que temem que a falta de água ponha em causa, entre outros fatores, a viabilidade turística desta região.
“A Albufeira do Castelo de Bode é um recurso que deve estar ao dispor das populações, deve fazer parte de um processo de desenvolvimento sustentável, nas suas vertentes: ambiental, económico e social. Como tal reiteramos o apelo que fazemos há alguns meses de especial atenção ao nível da água, permitir apenas o caudal ecológico”, pede a AETCB, garantindo que esta será a opção mais “indicada” até à reposição de uma cota “pelo menos 10 metros acima da atual”. Ora segundo os dados do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), esse patamar significaria subir da cota de 106,14m que se registava no sábado para 116 metros, nível em que se esteve pela última vez no início de setembro.