A onda mundial de vacinação contra a covid-19, bem como as regras impostas em diferentes países relativamente à mesma, têm feito estragos no mundo do desporto internacional, já que cada país decidiu adotar diferentes medidas, algumas mais fortes, e outras mais leves.
Os casos multiplicam-se um pouco por todo o mundo: desde os jogadores do Chelsea que terão de ficar em Londres quando o clube viajar para Lille, em março, para jogar a segunda mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, até à polémica deportação de Novak Djokovic da Austrália, que o impediu de jogar no primeiro Grand Slam do ano.
Dois exemplos diferentes, com uma raiz comum: os atletas estão a ser impedidos de participar em eventos desportivos com importância mundial, unicamente por não estarem vacinados contra o novo coronavírus, que tem assolado o mundo desde o início de 2020.
O caso de Djokovic – assumido cético sobre a pandemia da covid-19 e a vacinação contra o vírus – foi o mais polémico, culminando com o sérvio a não poder participar no Open da Austrália, já que o país obriga os visitantes a comprovar a vacinação completa com o novo coronavírus – requisito que ‘Djoko’ não cumpriu.
O sérvio regressou à Europa e, recentemente, quebrou o silêncio sobre o tema: afinal, o tenista que ocupa o primeiro lugar do ranking mundial está disposto a sacrificar a sua participação em grandes torneios como o Roland Garros, em Paris, e Wimbledon, em Londres, caso a organização destes eventos lhe exija provas da sua vacinação contra a covid-19.
Ainda assim, Djokovic afastou o título de ‘negacionista’, preferindo argumentar que é a favor do direito das pessoas a escolher. À BBC, o sérvio garantiu estar “disposto a pagar o preço” de falhar os próximos torneios em Paris e Londres, revelando à cadeia televisiva britânica que “nunca foi contra a vacinação”, argumentando que, em miúdo, foi vacinado contra outras patologias.
“Mas sempre defendi a liberdade de poderes escolher o que metes no teu corpo”, retorquiu. Uma afirmação, aliás, que percorreu o mundo e levou mesmo a Ryanair a fazer uma piada. Na sua conta oficial do Twitter, a companhia aérea ironizou: “Nós não somos uma companhia aérea, mas pilotamos aviões”.
Quando Djokovic assume estar disposto a abdicar de Roland Garros e Wimbledon, a confissão tem um peso acrescido quando se tem em conta que o sérvio perdeu a oportunidade, ao falhar o torneio de Melbourne, de se tornar no tenista com mais títulos de Grand Slam de sempre. ‘Djoko’ conta 20 troféus nesta categoria, e foi ultrapassado, precisamente na Austrália, por Rafael Nadal, que conta 21 títulos de Grand Slam na sua carreira. Falhando Roland Garros e Wimbledon, Djokovic ficará cada vez mais longe do pódio.
Kelly Slater na dúvida A questão dos atletas que estão a ser prejudicados por não revelar o seu estado de vacinação contra a covid-19, no entanto, é transversal às diferentes modalidades. O surfista Kelly Slater, por exemplo, que está a protagonizar épicos resultados aos 50 anos de idade, já garantiu estar com vontade de participar em todas as competições este ano… mas há uma que poderá estar longe do seu alcance.
A Austrália, onde acontecem a 4.ª e a 5.ª etapa do Tour Mundial da modalidade, exige a vacinação completa aos atletas que visitem o país para participar nestas competições, e Slater, que nem confirma nem desmente estar vacinado contra o novo coronavírus, poderá ficar em dúvida. Afinal de contas, o surfista mostrou, em várias ocasiões, algum ceticismo relativamente a todo o processo de vacinação. Aliás, até sobre a situação de Djokovic e da sua deportação da Austrália arrancou um comentário do surfista que, no Instagram, ironizou: “Talvez a Síndrome de Estocolmo pode agora mudar de nome para Síndrome de Melbourne/Austrália”.
Recentemente, no entanto, o surfista deixou uma ‘pista’ de que já se terá vacinado contra o novo coronavírus. Citado pela Reuters, Slater atirou: “Vejo-vos na Austrália.” Desde o Hawaii, nos Estados Unidos, o surfista argumentou que o estado da sua vacinação “é uma questão importante”, havendo uma razão pela qual ainda não o revelou, que “é pessoal”. “Acredito que a privacidade médica é algo real, mas acho que a minha resposta dizendo que vos verei na Austrália responde a isso”, disse ainda o surfista de 50 anos, que conta com 11 títulos mundiais e procura agora o 12.º.
Também na NBA há negacionismo Além de Djokovic e Slater, outra das figuras do desporto internacional que tem feito levantar sobrancelhas pelo seu ceticismo frente à vacinação contra a covid-19 é Kyrie Irving, dos Brooklyn Nets.
O craque da equipa de Brooklyn esteve fora dos courts durante longos meses, devido ao facto de não se ter vacinado contra o novo coronavírus e, apesar de já estar de volta aos jogos, só tem participado naqueles que se jogam fora do estado norte-americano de Nova Iorque, já que o Governo desta região exige aos atletas o esquema vacinal completo para participar nos eventos desportivos. Um duro golpe para o emblema de Brooklyn, que tem estado aquém do expectável nesta temporada.