As razões da vitória do PS nas eleições legislativas

Como é que o PS, com todos estes escândalos e com todos os partidos contra o governo socialista de António Costa, consegue ganhar as eleições legislativas e ainda por cima com maioria absoluta?

Por Luís Jacques – Engenheiro civil

O PS ganhou as eleições legislativas, com maioria absoluta, porque o PSD cometeu , durante os quatro anos de mandato de Rui Rio, vários erros.

Começou por hostilizar o eleitorado de direita levando-o a votar na Iniciativa Liberal e no Chega.

Defendeu que era preciso retirar o PS da dependência da extrema-esquerda. Quase parecia que queria substituir o PCP e o BE no apoio ao PS.

Embora dizendo que Sá Carneiro era um referencial para ele, acabou por não fazer uma coligação pré-eleitoral, com o CDS/PP e o PPM, que criaria uma dinâmica de vitória e poderia levar a coligação liderada pelo PSD a ganhar as eleições legislativas. É ainda mais incompreensível, pois fizeram nos Açores e na Madeira uma coligação pré-eleitoral e ainda por cima depois de Carlos Moedas ter ganho em Lisboa com uma coligação nas eleições autárquicas.

Como dizia Medina Carreira o PS é o partido do Estado e tem feito políticas distributivas com o que tem e o que não tem, recorrendo à dívida pública. O excelente ensaio de Vítor Bento "Eleições e reformas" explica muito bem as razões porque o PS ganhou as eleições. Carlos Guimarães Pinto também explicou muito bem porque o PS é contra as reformas. Quando mais de 60% dos eleitores são dependentes do Estado está tudo dito.

O PSD ainda não se conseguiu libertar da imagem que o PS lhe colou da austeridade do programa da troika. Ainda não conseguiu explicar aos portugueses que não é a favor da austeridade. Teve de implementar o programa da troika negociado pelo PS e por causa da bancarrota socialista. O PSD para explicar que o seu programa é social-democrata até podia dar o exemplo dos governos de Cavaco Silva que desenvolveram o Estado Social.

Os partidos do centro-direita não podem diabolizar o Estado. Sempre fui a favor de um Estado forte, nas funções de soberania, com protecção social, mas com a dimensão adequada à nossa economia. Qualquer português tem familiares directos e indirectos que são funcionários públicos ou pensionistas. É fundamental valorizar os servidores do Estado (central, regional e local), acabando com a partidarização na Administração Pública. Tem de se acabar com as nomeações partidárias. Todos os cargos de chefia têm de ser preenchidos por concurso público através do mérito dos candidatos.

É preciso ter um programa de governação que resolva os problemas dos portugueses e do país. Tem de se partir das necessidades dos portugueses e dos estrangulamentos do país para adoptar as políticas públicas que satisfaçam essas necessidades e tirem o país do empobrecimento económico. O PSD tem de saber comunicar aos portugueses, o que o distingue do PS e o que quer para o país, tendo em conta que os socialistas também dizem que são sociais-democratas. Os sociais-democratas alemães pertencem à mesma família europeia do PS. Provavelmente o PSD tem de insistir mais no seu nome original Partido Popular Democrático (PPD), até porque pertence ao grupo do Partido Popular Europeu (PPE). Conquistaria o centro e não perdia o eleitorado à sua direita. Ainda para mais o CDS/PP, que também pertence ao Partido Popular Europeu (PPE), não terá representação parlamentar nos próximos 4 anos.

O PSD só conseguirá ganhar eleições legislativas quando conseguir contrariar a central de propaganda socialista que tem sido muito eficaz, pois conseguiu ganhar as eleições, com maioria absoluta, apesar de todos os escândalos por que passou: Ter um primeiro-ministro socialista preso e acusado de crimes gravíssimos como corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais no exercício das suas funções, António Costa e os seus ministros terem pertencido aos governos socialistas de José Sócrates, o escândalo do "familygate" socialista, o roubo de Tancos, os fogos florestais de Pedrógão Grande e do centro do país em 2017, a morte do ucraniano no aeroporto de Lisboa, os casos com Eduardo Cabrita, a nacionalização da TAP, o ataque às entidades reguladoras independentes como o Conselho das Finanças Públicas e o Banco de Portugal, as substituições da Procuradora-Geral da República e do Presidente do Tribunal de Contas, a interferência na nomeação do procurador europeu, a interferência no processo Casa Pia de acordo com escutas divulgadas na comunicação social e as 23 nomeações que fez de magistrados para o governo socialista para os cargos de ministro, secretário de estado, chefe de gabinete, director-geral e director-adjunto.

Como é que o PS, com todos estes escândalos e com todos os partidos contra o governo socialista de António Costa, consegue ganhar as eleições legislativas e ainda por cima com maioria absoluta?

Uma grande parte dos eleitores, que votam sempre, funciona como as claques dos clubes de futebol. Não agem de uma forma racional, mas de uma forma emotiva. Façam eles o que fizerem votam sempre no mesmo partido até morrer.

O PS nas eleições legislativas de 2011, depois de José Sócrates ter levado o país à bancarrota, ter posto em prática toda a austeridade do PEC1, 2 e 3, ter chamado a troika com um programa ainda mais duro de austeridade, ter tido todos os escândalos de controlo do aparelho do Estado e da comunicação social e os tiques arrogantes da maioria absoluta, conseguiu ter 1.568.168 votos. É inacreditável!

O eleitorado socialista, comunista e bloquista entrou em pânico com a possibilidade, que as sondagens deram, de o PSD ganhar as eleições. António Costa deixou de falar na maioria absoluta, começou a deturpar as propostas do PSD agitando o papão de que não queriam aumentar o salário mínimo e as pensões ou queriam pôr a classe média a pagar a saúde e passou a atacar o PSD por precisar do Chega para governar.

Para evitar que a direita chegasse ao poder e que o "fascismo" do Chega condicionasse um governo de direita, quase metade do eleitorado comunista e bloquista foi votar PS. Só não votaram os militantes e simpatizantes desses partidos. BE passou de 19 para 5 deputados. O PCP passou de 12 para 6 deputados. Já tinham feito o mesmo no passado aquando da eleição de Mário Soares para Presidente da República.

Os socialistas não acreditavam na maioria absoluta e Augusto Santos Silva veio falar no acordo de cavalheiros com o PSD para o caso de o PS ganhar as eleições e haver maioria do centro-direita no Parlamento.

Ora, perante tudo isto, funcionou a bipolarização à esquerda para impedir a direita de governar e o eleitorado moderado do centro, que é flutuante e que ora vota no PS ora vota no PSD, percebendo que este não tinha condições de ganhar, preferiu dar uma maioria absoluta ao PS do que ter o PS dependente da extrema-esquerda.

Se o PSD tivesse feito uma coligação teria ganho em Vila Real com mais um deputado, em Bragança com mais um deputado e em Leiria com mais um deputado. Teria obtido, pelo método de Hondt, mais um deputado no Porto e outro em Coimbra. E com a dinâmica de vitória até poderia ter obtido mais deputados. Ou seja, teria mais 5 deputados e o PS não teria maioria absoluta!

A geringonça perdeu 46.015 votantes e 12 deputados. Os votos no PS + BE + CDU + PAN + L foram 2.874.762 quando tinham sido 2.920.777 em 2019.

Os votos no PSD + CDS + IL + CH foram 2.318.310 quando tinham sido 1.769.091 em 2019, ou seja, mais 549.219 votantes e 12 deputados.

Votaram mais 296.893 eleitores. O Chega e a Iniciativa Liberal foram buscar os seus votos à abstenção, a novos eleitores, ao CDS/PP e também ao PSD.

Se os votantes do PCP, do BE e do PAN têm sido os mesmos do que em 2019, o PS teria obtido 1.798.619 votos, ou seja, 33,37%, sem maioria absoluta.

Enquanto os portugueses não forem mobilizados a irem votar, só votarão as claques partidárias e continuará a existir maioria de esquerda no Parlamento! 

É preciso seguir o exemplo das eleições regionais em Madrid em que votaram mais de 80% dos eleitores e Isabel Ayuso do PP duplicou os votos e teve mais do dobro dos deputados.

Estas eleições vieram demonstrar que não é só o governo que perde as eleições é preciso que a oposição seja capaz de criar uma alternativa e mobilize os portugueses a irem votar para conseguir ganhar as eleições.