Montenegro mais perto de ser o ‘unificador’

Luís Montenegro vai somando apoios e Miguel Pinto Luz está mais próximo de afinar pelo mesmo diapasão. Ribau Esteves é, para já, o único a desalinhar e a admitir uma candidatura assumidamente contra Montenegro.

As hostes sociais-democratas estão em ebulição, apesar de não haver ainda fumo branco sobre o calendário das eleições diretas do partido – nem sobre os candidatos. Mas o que não faltam são indícios de que Luís Montenegro será o principal candidato à liderança do PSD. Derrotado no confronto com Rui Rio em 2020, Montenegro deverá voltar a ir a jogo e está a reunir apoios em todos os setores do partido. Miguel Pinto Luz, por exemplo, poderá engrossar as fileiras do antigo líder parlamentar. Também ele candidato nas diretas de 2020, Pinto Luz esteve ao lado de Paulo Rangel nas diretas de novembro e, agora, está cada vez mais próximo de prescindir de uma candidatura para  apoiar Montenegro, que parece ser cada vez mais o candidato unificador do PSD.

Os líderes distritais dos sociais-democratas estiveram reunidos na passada quinta-feira, de forma a preparar o Conselho Nacional deste sábado, e o tema forte em cima da mesa foi a calendarização da sucessão na liderança do PSD. Se, por um lado, a direção de Rui Rio quer ver as eleições diretas acontecer em junho, empurrando o Congresso para julho, há movimentos internos que prefeririam resolver o assunto mais cedo: a eleição do presidente  deveria acontecer em abril, marcando-se o Congresso do partido para maio. Calendários complicados, que ainda se tornam mais difíceis quando se tomam em conta os atrasos trazidos pela repetição das eleições legislativas no círculo eleitoral da Europa, que por sua vez atrasou o arranque da nova legislatura.

A estratégia de Rio, por sua vez, é simples: terminar a sessão legislativa ainda como líder do partido e regressar já sem essas responsabilidades políticas, assegurando entretanto a transição de poderes na S. Caetano à Lapa.

Ribau na oposição a Montenegro Se, nas últimas semanas, se falou de Montenegro, Rangel, Moreira da Silva e Pinto Luz como possíveis candidatos à liderança social-democrata, por estes dias surgiu um novo protagonista a assumir abertamente a sua ambição: Ribau Esteves, presidente da Câmara de Aveiro e secretário-geral do partido durante a presidência de luís Filipe Menezes, anunciou estar a ponderar uma candidatura à presidência do PSD. Mais uma peça no puzzle social-democrata em que se está a transformar o distrito de Aveiro, onde o partido elegeu, nas últimas eleições legislativas, 7 dos 16 deputados deste círculo eleitoral.

O secretário-geral dos sociais-democratas em 2007 lembrou o seu currículo para – tem servido como autarca nos últimos 24 anos (desde 2013 na Câmara de Aveiro, e entre 1998 e 2013 na Câmara de Ílhavo) – justificar as suas pretensões. A primeira pedra do anúncio da sua eventual candidatura à presidência do PSD foi lançada já há mais de duas semanas, quando, no seu espaço de opinião no Porto Canal, Ribau Esteves comentava os resultados das eleições legislativas. «O falhanço na estratégia do PSD vem estando na incapacidade de ocupar um espaço de alternativa mais crítico», atirava o autarca aveirense, a 3 de fevereiro, dando já conta da sua frustração com o rumo que o PSD tomou nos últimos anos.

Nesse mesmo espaço de comentário, Ribau pediu ‘calma’ ao PSD na decisão sobre o seu futuro próximo, bem como ‘respeito’ a Rui Rio, um líder «dedicado», como o caracterizou. Uma proposta em linha com os desejos do atual presidente do PSD, que, aquando do anúncio da sua saída do partido, ironizou, desde a sede do partido, no Porto: «Espero que haja capacidade para perceber essa calma e serenidade sem recurso a Xanax ou qualquer outra coisa do género».

«Rui Rio não tem mais nada para dar na liderança do PSD», disparou também, acusando ainda assim os militantes que, discordando da sua direção, foram pedindo mudanças ao longo dos últimos tempos. «Rui Rio foi açoitado por vários pretendentes que lhe minaram o terreno sistematicamente com lutas negativas para o PSD», argumentou Ribau Esteves, exigindo um «momento de reflexão» para o partido.

Estava lançado o terreno para o que aconteceu nas semanas seguintes: um pouco por toda a comunicação social foi surgindo a notícia de que Ribau Esteves estaria a ponderar uma candidatura à presidência do PSD. Ponderação esta admitida mais tarde pelo próprio.

Sobre eventuais apoios à candidatura de Ribau Esteves, entra aqui o ‘joker’ Salvador Malheiro, presidente da distrital aveirense. Recorde-se que, previamente às eleições autárquicas de 2021, o concelho de Aveiro foi palco de uma acesa discussão entre a concelhia do PSD e Ribau Esteves, devido à escolha dos cabeças de lista para as diferentes Juntas de Freguesia deste município. Na altura, Salvador Malheiro, líder da distrital aveirense, interveio na polémica, delegando em Ribau Esteves esta responsabilidade. Uma medida que pouco agradou a concelhia, mas que evidenciou a proximidade entre Malheiro e Ribau Esteves.

A luta interna no PSD poderá, aliás, ter um curioso enfoque no distrito de Aveiro, não só pela eventual candidatura a que Ribau Esteves tem aludido, mas também pelo papel que Salvador Malheiro poderá ter. É que o autarca de Ovar, apesar de ter sido dos primeiros a lançar o nome de Montenegro para as eleições diretas, também foi um dos nomes apontados como possível apoiante de  Jorge Moreira da Silva, um dos nomes na lista de possíveis candidatos à liderança do PSD. Caso o antigo ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia avance mesmo com esta candidatura, Salvador Malheiro, seu companheiro de mil batalhas desde os tempos da JSD, poderá montar o estaminé na sede da sua corrida pelo lugar.

Movimento regional? Um curioso detalhe marcou a última semana nas hostes sociais-democratas, e a candidatura de Ribau Esteves poderá desempenhar um papel importante neste quebra-cabeças: desde que Miguel Albuquerque, presidente do PSD/Madeira, em entrevista ao Nascer do SOL, pediu que os líderes distritais e regionais do partido tivessem mais vida dentro do mesmo – nomeando mesmo Ricardo Rio (presidente da Câmara de Braga), Carlos Moedas (presidente da Câmara de Lisboa) e Carlos Carreiras (presidente da Câmara de Cascais) – têm surgido vários indícios de que poderá estar a haver um movimento interno no partido das suas figuras autárquicas. O mais óbvio sinal seria a candidatura de Ribau Esteves, autarca aveirense, mas também a ‘dica’ deixada na quinta-feira por Ângelo Pereira, líder do PSD/Lisboa e vereador do Planeamento de Mobilidade: «O PSD precisa de novos tempos».

Como para bom entendedor meia palavra basta, a sugestão ficou feita: sem querer comentar muito as lutas internas do PSD, quando questionado pelos jornalistas, Ângelo Pereira limitou-se a citar o slogan da campanha de Carlos Moedas nas eleições autárquicas de 2021, indicando o nome do autarca lisboeta como um eventual candidato ao lugar máximo do PSD.

Para baralhar ainda mais as coisas, já no final desta semana, Carlos Carreiras avançou com o nome de Marques Mendes.