Estamos fartos de ouvir que no futebol tudo pode acontecer. O que não deixa de ser verdade – por isso mesmo é dito, reforçado, e sublinhado vezes sem conta. Mas também não deixa de ser verdade que, na próxima quarta-feira, o Estádio da Luz vai receber duas equipas em momentos muito diferentes. Um Benfica ferido e um Ajax insaciável vão estar frente a frente na primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões.
Os encarnados seguem para este novo desafio depois de mais um balde de água fria, que serviu apenas para reforçar a instabilidade constante. Aliás, só o voo volátil da águia parece continuar a ser sólido esta época. O 2-2 no Bessa, contra o Boavista, foi o exemplo mais recente: depois de um início controlado, em que a equipa de Nélson Veríssimo saiu para o intervalo a vencer por dois golos (Taarabt e Grimaldo colocavam os encarnados em vantagem à meia hora de jogo); o Benfica só precisou de seis minutos para patinar, conceder o empate e largar mais dois pontos preciosos nas ambições que ainda tinha na presente liga portuguesa.
Basta um olhar rápido sobre os últimos 10 jogos do Benfica – altura em que Veríssimo rendeu Jorge Jesus no comando técnico – para perceber que o treinador mudou, mas a crise permaneceu.
No total, contam-se quatro vitórias, três derrotas e três empates. Entre os desaires, destaque para a derrota na final da Taça da Liga frente ao Sporting, encontro em que o Benfica também entrou a vencer, mas permitiu a reviravolta da equipa de Rúben Amorim. Ainda antes, havia sido a derrota (3-0) frente ao FC Porto, e o consequente afastamento da Taça de Portugal, que levou Jesus a colocar o lugar à disposição na véspera de Natal.
Veríssimo entrou em ação nas despedidas de 2021, precisamente com a mesma missão: foi medir forças com o FC Porto, no Estádio do Dragão, desta feita a contar para a jornada 16 do campeonato. O resultado foi semelhante ao do seu antecessor: nova derrota, mas por 3-1.
Se o alarme já tinha disparado, este tornou-se ainda mais difícil de desligar, sobretudo depois da nova derrota caseira com o Gil Vicente, imediatamente depois do desaire na Taça da Liga. A exibição pobre dos encarnados trouxe Rui Costa à linha da frente: “Quero assumir a responsabilidade por este mau momento da equipa e do próprio clube. Nenhum de nós quer estar na situação em que estamos hoje, mas exijo que ninguém se esconda, que todos os que trabalham no Benfica não se escondam neste momento. Dou a cara como máximo responsável do clube, mas é uma exigência que eu faço”.
Era dia 2 de fevereiro e cumpria-se a jornada 20 da I Liga. Desde então as águias entraram em campo por três vezes, sempre a contar para o campeonato: venceram o Tondela (1-3), o Santa Clara (2-1) e… o comboio voltou a descarrilar, logo na paragem seguinte, no Bessa.
É, desta forma, com uma ferida aberta que os encarnados entram no palco da liga dos milhões.
Uma esperança quase louca, contra um adversário todo-o-terreno, que se tem mostrado imparável em todas as frentes. Factos facilmente comprovados em números: o Ajax soma até ao momento 108 golos marcados e apenas 14 sofridos em todas as provas, num total de 33 jogos (27 vitórias, três empates e três derrotas).
O Sporting é, de resto, uma das vítimas deste poderoso Ajax, tendo perdido (por 5-1 e 4-2) nos dois jogos disputados ainda durante a fase de grupos da Champions. Recorde-se que o Ajax e o Sporting foram as duas equipas do grupo C a seguir para os oitavos da prova, com 18 pontos (pleno de vitórias) e 9, respetivamente.
A equipa de Erik ten Hag aterra na capital portuguesa com uma série de 10 vitórias consecutivas, a contar para o campeonato e taça do país, que representam um saldo de… 39 golos marcados e 1 sofrido.
Tal como o Benfica, o Ajax já cumpriu 23 jornadas e está a 11 rondas de terminar o campeonato do seu país. Atualmente lidera isolado a tabela com 57 pontos, mais seis do que o Feyenoord, segundo classificado, e a oito do PSV, que fecha o pódio. A manter-se com este ritmo, o Ajax promete reconquistar o título pela terceira época consecutiva.
Já o Benfica segue isolado no terceiro lugar da Liga portuguesa, cada vez mais longe do sonho de renovar o título de campeão nacional, levantado pela última vez em 2018/19.