Vladimir Putin reconheceu, oficialmente, a independência das regiões separatistas ucranianas de Donetsk e Lugansk, dando o tiro de partida para uma escalada do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Em reação, os partidos portugueses com assento parlamentar ‘à direita’ condenaram a ação do Presidente russo mas, à esquerda, as reações foram várias. O PCP acusou as “ingerências do imperialismo” por parte dos norte-americanos e, no Bloco de Esquerda, as condenações às ações de Putin vieram acompanhadas de críticas aos norte-americanos e aos “porta-vozes do Ocidente”.
Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, esteve frente-a-frente com o antigo centrista Adolfo Mesquita Nunes, no programa Linhas Vermelhas, da SIC Notícias, e um dos assuntos em que ambos entraram em acordo foi precisamente na condenação à interferência russa no território ucraniano. Mesquita Nunes, que admitiu ter apoiado o IL nas eleições legislativas de 30 de janeiro, considerou “perigoso”, “xenófobo” e “imperialista” o argumento utilizado por Putin para tomar estas medidas perante as duas regiões separatistas da Ucrânia. Mariana Mortágua, por sua vez, condenou o Presidente russo “em toda a sua ação”, classificando-o como um “ditador” e “um imperialista megalómano que está a usar uma escalada de tensão política para compensar o que não tem de poder noutros territórios”. Pelo meio, no entanto, a bloquista defendeu também ser preciso “perceber o que as potências europeias ou americanas poderiam ter feito para que este conflito não pudesse acontecer”, uma vez que é “preciso saber se a atitude dos Estados Unidos ou da NATO foi ou não responsável para escalar este conflito”.
Isto uma semana depois de Mortágua ter acusado, num artigo de opinião no Jornal de Notícias, os “porta-vozes do Ocidente” de “quererem precipitar o evitável”. Nesse artigo, a bloquista acusou o primeiro-ministro britânico de mencionar “sem provas”, a existência de “agitadores russos na Ucrânia” e apontou também o dedo a Joe Biden, que acusou de querer “competir com Putin em arrogância e temeridade”.
CDU critica NATO O Partido Comunista, por sua vez, mostrou-se profundamente “preocupado” com a situação, sem, no entanto, condenar as ações de Vladimir Putin. Pelo contrário, os comunistas, em comunicado, afirmam acreditar que “a atual situação e os seus desenvolvimentos recentes são inseparáveis de décadas de política de tensão e crescente confrontação” dos Estados Unidos da América (EUA) e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) contra a Rússia. Uma repetição da opinião publicada na edição de 17 de fevereiro do jornal Avante!, onde os comunistas acusavam “as provocações dos EUA e seus aliados na NATO e a gigantesca manobra de desinformação em torno da iminente invasão russa da Ucrânia” de serem “elucidativas dos métodos utilizados pelo imperialismo para tentar prosseguir o velho sonho imperialista do controlo dos antigos”.
No comunicado enviado às redações, o PCP avançou com uma crítica ao “contínuo alargamento da NATO e o sistemático avanço da instalação de meios e contingentes militares deste bloco político-militar cada vez mais próximos das fronteiras” do território russo, defendendo a “necessidade do desenvolvimento de iniciativas que contribuam para o desanuviamento e que privilegiem um processo de diálogo com vista a uma solução pacífica para o conflito”. Sobre as críticas feitas aos russos, que os acusam de quebrar o acordo de Minsk, os comunistas consideram importante “ter presente que o regime ucraniano não só nunca os cumpriu, inclusive de forma assumida, como impediu a concretização de uma solução pacífica para o conflito”. O PCP acusou a “perigosa estratégia de tensão e propaganda belicista promovida pelos EUA, a NATO e a União Europeia”, pedindo o fim das “agressões e ingerências do imperialismo”. Na mesma onda esteve o Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV), que alertou: “A Ucrânia está à beira de ser esmagada pelo revivalismo da Guerra Fria e das operações de expansão da NATO.” Em comunicado, o PEV acusou a NATO de ser “um promotor da guerra e da indústria militar servindo os princípios expansionistas e imperialistas dos Estados Unidos da América”.
PS acusa violação de acordo Em linha com as declarações da União Europeia, António Costa partiu para o Twitter para condenar as ações russas na Ucrânia, acusando-as de violar “claramente os acordos de Minsk”, pondo em causa a integridade territorial da Ucrânia. “Condenamos veementemente esta ação e manifestamos total solidariedade para com a Ucrânia”, conclui o primeiro-ministro.
Dreita condena Quem se mostrou preocupado com a situação entre a Rússia e a Ucrânia foi, por exemplo, o Iniciativa Liberal. O partido “condena as mais recentes violações do Direito Internacional e da soberania da Ucrânia por parte da Rússia, numa escalada de agressão que visa intimidar um país soberano e estender a influência autocrática da Rússia para além das suas fronteiras”. O partido dirigido por João Cotrim Figueiredo garante “total solidariedade ao povo ucraniano e aos mais de 40.000 cidadãos ucranianos que residem atualmente em Portugal”, colocando-se “inequivocamente do lado do respeito pelo Direito Internacional, pela democracia liberal e pela liberdade”. “Este é um momento em que não podem existir hesitações: a Rússia procura uma agressão territorial imperialista de grande escala com justificações étnicas/racistas”, argumenta ainda o partido liberal.
Também o PSD se mostrou contra as posições tomadas pela Rússia. Em comunicado, os sociais-democratas classificaram as mesmas como “uma violação do direito internacional, dos acordos de Minsk e do princípio do respeito pela integridade territorial dos Estados”, argumentando que “nenhuma ordem internacional pode subsistir quando os Estados se sentem livres para colocar em causa a soberania de outros Estados e para alterar as fronteiras pela força”. O próprio Rui Rio comentou a situação, num tweet, defendendo que a Rússia “tem de decidir se quer regressar ao pesadelo” da Guerra Fria “ou abraçar a paz”. O Chega, pela voz de André Ventura, por sua vez, optou por pedir uma posição mais forte por parte da União Europeia contra a Rússia. As instâncias europeias devem tomar “uma posição firme, conjunta e forte em relação aos atos praticados contra a Ucrânia”, pediu o líder do Chega num vídeo, sendo que os mesmos “não podem ficar impunes, nem devem ser ignoradas pelos políticos em toda a Europa”. Já o PAN, por sua vez, lamentou a invasão da Ucrânia pela Rússia, “enquanto partido que defende o princípio da não violência”, pedindo, numa publicação nas redes sociais, que “a União Europeia adote uma posição conjunta clara em prol da paz”.