Os cenários em cima da mesa para esta primavera são de que mais de metade do país venha a estar na situação de seca extrema, revelou ao i o Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Isto porque embora se espere chuva em março e abril, prevê-se que se mantenha uma défice de precipitação, que tem sido aliás o mais comum nos últimos anos. “De modo a que a seca meteorológica em território nacional possa vir a diminuir teria de ocorrer, entre março e maio, valores de precipitação muito superiores ao normal, situação que apenas se verifica em 20% dos anos”, explica a Divisão de Clima e Alterações Climáticas, em resposta ao i.
Depois de o balanço da situação de seca publicado pelo instituto na segunda-feira indicar que, até à data, 2021/22, é o ano hidrológico mais seco quando comparado com os outros anos de seca meteorológica, o IPMA clarifica que retrospetivamente não se pode dizer que seja o ano mais seco de sempre, explicando que na publicação em causa foi feita apenas “uma comparação com alguns anos de seca meteorológica mais relevantes e não com todos os anos hidrológicos desde 1931”, ano em que começam os registos meteorológicos do IPMA.
Assim, o que pode dizer-se neste momento, é que o atual ano hidrológico – conceito que avalia os anos em função da precipitação e que começa em outubro, prolongando-se até ao final de setembro – é o segundo com valor mais baixo de precipitação desde que há registos, depois de 1998/1999.
E é aí que vamos para perceber o que se passou a seguir e os cenários que o país tem pela frente: em fevereiro de 1999, registava-se ainda um défice de precipitação “mais significativo do que o atual”, no entanto nesse ano a precipitação nos meses seguintes e até ao final do ano hidrológico contribuiu para reverter a intensidade da seca meteorológica. Já em 2005, não foi isso que se passou: embora nessa seca, os valores de precipitação em fevereiro fossem ainda ligeiramente superiores aos atuais, mantiveram-se os défices de precipitação entre março e maio, o que levou a que viesse a ser a seca mais severa desde 1931.
Nas mãos da chuva da primavera e sem ser possível previsões a longo prazo com segurança, o que existe é o histórico, que tem mostrado nos últimos anos que o novo normal é chover menos. Basta ver que nos últimos 20 anos, 11 foram considerados secos. “A título de exercício, para retirar o ano de 2022 a lista dos três anos mais secos desde 1931, seria necessário, em termos médios do continente, aproximadamente 300mm de precipitação até ao final de maio”, refere o IPMA, adiantando que em termos de cenários, se prevê um défice de precipitação para o mês de março e abril. “Tal não significa que não ocorrerá precipitação, mas sim que os seus valores serão inferiores para o período em análise”. Desde 1 de outubro até 15 de fevereiro, o valor de precipitação médio situou-se nos 220,8mm, pelo que teria de chover mais nos próximos três meses do que choveu nos últimos cinco para o cenário se alterar no imediato.
Assim, o cenário que o IPMA considera “mais provável” a esta altura aponta para um “agravamento generalizado do índice de seca meteorológico em todo o território nacional, sendo que mais de 50% estará na classe mais gravosa (extrema)”. A 15 de fevereiro, data do último balanço, 91% do país estava em seca severa ou extrema, 38.6 % já em seca extrema, área que triplicou em 15 dias desde o final de janeiro.
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