“É muito doloroso, já chorei várias vezes”, começa por dizer Ana Tallian, cidadã romena que vive em Portugal e é natural da cidade de Sighetu Marmatiei, que dista apenas 1.5km da Ucrânia e já recebeu os primeiros refugiados ucranianos que estão a tentar escapar às consequências da invasão russa.
“Estou em contacto permanente com a minha prima e ela está desesperada com tudo aquilo que tem visto. Há uma ponte onde os ucranianos passam de um lado para o outro e já há muitas associações a juntar-se e a ver como podem ajudá-los”, explica, indicando que “inclusivamente, há várias famílias a pensar como podem receber pessoas, pois a situação é muito má e ninguém deve ficar indiferente”. A perspetiva de Ana é corroborada por vários órgãos de informação locais, como a Antena 3.
“Os ucranianos de etnia romena da área de Solotvino (Slatina) começaram a chegar ao nosso país. Há colunas de carros no território ucraniano, mas também dezenas de pessoas que vão atravessar a ‘Ponte Histórica’. As pessoas dizem que vêm para fazer turismo, mas a verdade é completamente diferente”, lê-se num artigo, publicado pelo órgão de informação anteriormente referido, que dá conta que a maioria dos refugiados é proveniente da cidade de Ivano-Frankivsk, no oeste do país, que tem estado em alerta máximo e cujo aeroporto foi atacado.
“Estão a preparar-se locais como pavilhões para receber pessoas. Sei que as juntas de freguesia e câmaras municipais estão a tentar ajudar ao máximo. Toda a gente está triste e assustada”, avança Ana, adiantando que tem estado a acompanhar a cobertura noticiosa do país de origem e afirmando que ouviu o Presidente Klaus Iohannis “apelar à calma”. Sabe-se que o mesmo definiu as ações da Rússia como "repreensíveis e completamente ilegais". Ao mesmo tempo, destacou que a Roménia não corre o risco de ser arrastada para a guerra neste momento. “Ele pediu que todos mantivessem a calma porque a segurança está assegurada”.
“Nas últimas semanas, os Estados Unidos, a UE e a NATO fizeram todos os esforços para garantir que a diplomacia prevaleça, e a Roménia esteve fortemente envolvida e apelou a um maior diálogo”, frisou o dirigente que está no poder desde 2014. “Hoje, a Rússia respondeu aos esforços da comunidade internacional para manter a paz e o diálogo com mísseis atingindo cidades ucranianas e alvos militares. Hoje, a Federação Russa escolheu a força dos tanques em detrimento da vida dos seus cidadãos. A Rússia é o agressor, não a vítima, como o Kremlin está a tentar provar, e todo o planeta hoje vê claramente essa verdade indiscutível”.
“Não sei como vai ser. Ninguém sabe aquilo em que Putin pensa: nem ele sabe muito bem. Ninguém entende. A Rússia e a Ucrânia são irmãs. Muitas famílias estão divididas entre estes dois países, com pais de cada um deles!”, observa Ana, realçando que “até muitos dos próprios russos estão contra a guerra”. Aos jornalistas, Iohannis relatou que “nunca é tarde para a voz da razão prevalecer”, indicando que “a única maneira de superar esta grave crise é através da diplomacia”. “A Roménia beneficia das mais amplas garantias de segurança possíveis. A adesão à NATO e à União Europeia, uma forte Parceria Estratégica com os Estados Unidos é um guarda-chuva de segurança extremamente forte. Nunca estivemos mais bem protegidos na história da Roménia de qualquer potencial agressão”.
“Não podemos definir uma nação tendo em conta apenas uma pessoa. A minha prima viu uma família com um bebé e ficou chocada com a situação. É horrível. A mãe dela mora sozinha e disse que vai receber alguém em casa se for preciso. Estamos todos com o coração apertado”, conclui Ana, indo ao encontro da perspetiva do chefe do Executivo romeno. “Quero enfatizar muito claramente: a Roménia não será arrastada para o conflito militar na Ucrânia! Além disso, asseguro-vos que tomarei absolutamente todas as medidas necessárias, juntamente com o Governo, o Parlamento da Roménia e os nossos aliados internacionais, para que a segurança dos cidadãos romenos não seja afetada de forma alguma”.