O conflito armado entre a Ucrânia e a Rússia pode escalar para o palco mundial, e, nesse contexto, são vários os pontos de interesse no globo, aliados de um lado e do outro. Venezuela, Cuba, China e Irão são os aliados mais ‘óbvios’ da Rússia, e, do outro lado da barricada, os estados membros da NATO e os seus parceiros, com EUA e Reino Unido a liderar as fileiras cerradas, a UE tensa e a ONU contra a invasão, mas com a Rússia membro permanente do conselho de segurança. Novas tensões podem surgir ou escalar a partir desta guerra. A China reclama que Taiwan é sua,Taiwan que é aliado extra-NATO dos EUA e condenou a Rússia. Alguns analistas admitem a escalada na tensão entre Irão e Israel, abrindo a invasão à Rússia uma caixa de pandora. A posição a Turquia, a controlar os estreitos vitais de Bósforo e Dardanelos, e em aproximações à Arábia Saudita, em tensão com Irão, é também de seguir. A Venezuela e Cuba, por outro lado, podem também tornar-se em territórios disputados. Afinal de contas, a poucos quilómetros dos EUA, estes dois países latino-americanos estão fortemente ligados ao regime russo, servindo de local estratégico para eventuais confrontos com os norte-americanos. Na internet, a ciberguerra, onde Irão, China e Rússia são apontados como as nações mais armadas de hackers, receiam-se (e multiplicam-se) ataques disruptivos. E emerge um aliado pró Ucrânia sem fronteiras físicas: o grupoAnonymous declarou guerra à Rússia.
Venezuela. A galinha dos ovos de ouro
«A Venezuela está com Putin, está com a Rússia, está com as causas corajosas e justas do mundo, e vamos aliar-nos cada vez mais.» Estas foram as palavras de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, na passada terça-feira. Uma demonstração de lealdade e aliança sem hesitação dos venezuelanos para com os russos. Este é, possivelmente, um dos mais importantes ‘amigos’ de Vladimir Putin, já que a Venezuela possui as maiores reservas de petróleo do mundo, e o preço do barril tem disparado nos últimos dias, atingindo valores acima dos 100 dólares. Após a invasão russa da Ucrânia, o Executivo venezuelano fez «os seus melhores votos para a resolução pacífica deste conflito, rejeitando ao mesmo tempo a aplicação de sanções ilegais e ataques económicos contra o povo russo».
Cuba. Aliados os ‘bons velhos tempos’
Cuba é um dos aliados mais antigos da Rússia, e poderá desempenhar um importantíssimo papel neste conflito armado, caso a guerra entre a Rússia e a Ucrânia escale para um conflito global. Afinal de contas, a ilha das Caraíbas foi o palco de vários momentos de tensão durante os anos mais ‘quentes’ da Guerra Fria. Sobre a invasão russa da Ucrânia, não houve surpresas. Uma delegação parlamentar russa acabou recentemente uma visita de dois dias a Cuba, e por lá, o presidente Miguel Díaz-Canel expressou a sua solidariedade para com os russos, relativamente às sanções impostas e expansão progressiva da NATO para as fronteiras da Federação Russa. Viacheslav Volodin, presidente do Parlamento russo, agradeceu a Cuba «por ter rejeitado a interferência nos assuntos internos da Rússia».
Bielorrússia. Braço direito europeu
Aleksandr Lukashenko é, neste momento, o principal aliado de Putin no continente europeu. O presidente da Bielorrússia, que ocupa o lugar há mais de 25 anos, garantiu que as tropas bielorrussas não vão participar na invasão russa da Ucrânia, mas a realidade é que o posicionamento de tropas russas em torno da fronteira ucraniana só foi possível porque a Bielorrússia, como aliada que é de Putin, permitiu tal ao longo da sua fronteira com a Ucrânia. Na manhã de quinta-feira, Lukashenko propôs ainda que a Rússia e a Ucrânia se encontrem em Minsk, capital da Bielorrússia, para negociações. A posição de Lukashenko levou mesmo a líder opositora exilada Svetlana Tikhanovskaya a acusar o presidente bielorrusso de «alta traição», por «ajudar» o seu homólogo russo na ofensiva contra a Ucrânia.
China. Com um pé fora e um pé dentro
A China tem mantido uma posição relativamente neutra relativamente ao conflito entre a Ucrânia e a Rússia, sua aliada internacional. A 4 de fevereiro, a Rússia e a China assinaram um contrato que garante, durante os próximos 30 anos, o fornecimento de 10 mil milhões de metros cúbicos de gás por ano, a ser pago em euros. Um importante negócio bilateral que garante um fulcral financiamento aos russos, sem dólares congelados pelo meio. Ainda assim, sobre a invasão da Ucrânia, o presidente chinês Xi Jinping esteve, foi revelado na sexta-feira, em chamada telefónica com Vladimir Putin, a quem pediu que entre em diálogo com os líderes da Ucrânia, para negociar soluções para o conflito armado que se vive entre os dois países. Isto após o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, ter garantido que a China «entende as preocupações de segurança da Rússia».
PCP. Resilientes comunistas
Na Assembleia da República, Augusto Santos Silva, ministro português dos Negócios Estrangeiros, deu 13 segundos a João Oliveira, deputado comunista, para condenar as ações de Vladimir Putin na Ucrânia. O dirigente do PCP, em resposta, preferiu argumentar que o conflito «ultrapassa em muito o leste europeu», apontando o dedo aos EUA, que acusou de serem «os verdadeiros interessados numa nova guerra na Europa», e de estarem «dispostos a sacrificar até ao último ucraniano ou europeu para a promover». Na quinta-feira, o PCP emitiu um comunicado expressando ‘preocupação’ com o conflito entre Ucrânia e Rússia sem, no entanto, condenar as ações de Putin. Pelo contrário, os comunistas preferiram argumentar que «o agravamento da situação é indissociável da perigosa estratégia de tensão e confrontação promovida pelos EUA, NATO e a UE».
Direita. Le Pen, Salvini e Bolsonaro
Putin não tem aliados só à esquerda. Na Europa, são vários os partidos acusados ao longo dos anos de ter recebido financiamento por parte de investidores russos ligados a Putin. Marine Le Pen, líder da Frente Nacional francesa, por exemplo, foi recebida pelo presidente russo, em 2017, no Kremlin, e é acusada de ter recebido fundos de um banco russo para financiar a sua campanha eleitoral. Já Matteo Salvini, líder da Lega, partido italiano de extrema-direita, é também conhecido apoiante de Putin, surgindo até numa ocasião com uma t-shirt vestida que ilustrava a cara do Presidente russo. O mais inesperado aliado nos tempos recentes, no entanto, é Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, que se reuniu com Putin na semana passada, em Moscovo, e que não condenou, até à hora de fecho desta edição, as ações do presidente russo face à Ucrânia. No início de fevereiro, a Rússia deu apoio ao Brasil para se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, mas o país fez saber que votaria pela condenação da invasão.