Se o Presidente russo, Vladimir Putin, está furioso com a viragem da Ucrânia para Ocidente ao longo da última década, a sua invasão até agora só serviu para acelerar esse processo, com um pedido formal de adesão à União Europeia assinado por Volodymyr Zelensky, esta segunda-feira. “Tenho a certeza que é possível”, escreveu o Presidente ucraniano no Facebook, num apelo bem recebido em Bruxelas.
“Eles são um de nós, e queremo-los cá dentro”, reagiu a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, ressalvando que a decisão de aceitar novos países na União recaí sobre os seus Estados Membros. Pelo meio, o fosso entre a Rússia e a UE alargou-se, com o fecho do espaço aéreo russo aos aviões europeus, em retaliação ao fecho da Europa a aeronaves russas.
Apesar de Putin ter aumentado a parada, ordenando que as suas armas nucleares estivessem em estado de alerta máximo, isso não dissuadiu os países europeus de aumentarem o seu apoio militar a Kiev.
Aliás, trata-se da primeira vez na história da UE que esta financia a compra e envio de armamento para um país sob ataque. Está previsto que as forças armadas ucranianas recebam 500 milhões de euros em defesas antiaéreas, mísseis portáteis antitanque e antiaéreos, armas ligeiras ou munições.
No entanto, não será fácil fazer esse armamento chegar a tempo ao campo de batalha. Com os céus da Ucrânia sob controlo dos caças russo, isso obrigaria a que o fornecimento seja por via terrestre, a maioria através da fronteira com a Polónia, apontam analistas. Recomendando que os veículos de transporte sejam acompanhados por apoio antiaéreo, como os mísseis Stinger, não vão a forças russas detetá-los e bombardeá-los. Além de que, quando estas armas chegarem, poderão deparar-se com boa parte das forças ucranianas cercadas, como já acontece em cidades como Kharkiv (ver texto ao lado), Odessa ou Mariupol.
Até a Alemanha abandonou a sua velha política de não enviar armas para países em conflito, tão criticada no início desta crise, prometendo mil armas antitanque e 500 mísseis Stinger aos ucranianos. É uma clara demonstração que, para os países europeus, a Ucrânia é uma prioridade, garantiu o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. “São uma espécie de baluarte, um baluarte que temos de apoiar e proteger”, explicou.
Já os aliados mais próximos da Rússia mostram-se divididos. Por um lado, a Bielorrússia está completamente alinhada com o Kremlin, chegando ceder o seu território como ponto de partida da invasão, além de ter decidido num referendo – repleto de irregularidades, como nos habituou o regime de Aleksander Lukashenko – renunciar ao seu estatuto não-nuclear, abrindo caminho a que ogivas russas lá sejam estacionadas.
Por outro lado, o Cazaquisão mais parece tremido, tendo o Governo cazaque – que ainda recentemente aguentou a uma onda de protestos graças ao apoio de tropas russas – recusado reconhecer as repúblicas separatistas e mandar tropas para a Ucrânia.