Passámos os últimos dois anos a receber lições quase diárias. E achámos que tínhamos aprendido alguma coisa. Talvez por terem sido demasiados ensinamentos, ou tão compactos, não tenha dado para tornar real o conceito utópico que começou a ser idealizado no início do mês de março de 2020, momento em que se confirmou o primeiro caso de covid em Portugal.
Dentro de nossas casas, e ainda sem sabermos muito bem como seria o dia de amanhã, prometemos ser melhores, acreditámos que seríamos, achámos que era finalmente possível distinguir o fundamental do acessório. Mas a ideia sobre um novo mundo desvaneceu-se com a mesma rapidez com que mudou de planos a protagonista da promessa de uma ida de joelhos a Fátima – depois de ver o seu pedido acedido, foi de joelhos… mas no carro.
Nós também íamos cumprir. Achámos que sim, mas bastou o primeiro entreabrir de portas para detetar algumas incoerências no que se tinha vindo a perspetivar. A transformação mostrava-se afinal mais difícil do que tínhamos julgado.
Mas poderia realmente não ter sido fácil assimilar tanto, ou talvez o problema fosse aplicar a teoria, que na prática tem quase sempre outros contornos. Menos de dois anos volvidos, acordámos com a notícia que ninguém queria dar e receber. Apesar de ser assustador constatá-lo, há dois anos era já mais provável vir a assistir-se a um cenário de guerra entre a Rússia e a Ucrânia do que a uma pandemia.
Lá no fundo também confiávamos que o desfecho podia ser diferente, aliás só podia ser outro que não este. Como achávamos exequível a transição para um mundo novo.
Não foi. E a ficha caiu no passado dia 24 de fevereiro, para surpresa de muitos, mesmo com as ameaças crescentes a intensificarem-se nas semanas anteriores. E este lugar tornava-se ainda mais estranho e questionável.
Salva-se a solidariedade, mas essa lição há muito que se provava bem estudada. Não eram certamente precisos os últimos dois anos. Ainda menos o início de uma velha guerra.