Restauração. Quase metade com quebras acima de 40% em janeiro

Setor pede três medidas prioritárias ao Governo: redução do IRC, apoios a fundo perdido e mecanismos financeiros para novos investimentos.

Quase metade das empresas da restauração registaram em janeiro quebras acima dos 40% e um terço das empresas de alojamento tiveram perdas acima dos 60%, ainda associadas à pandemia. A conclusão é de um inquérito realizado pela Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP).

De acordo com a entidade, “o ano 2022 começou pior que 2021 para as empresas da restauração, similares e do alojamento turístico”, acrescentando que “após dois anos de pandemia, com várias restrições à atividade, ao sobreendividamento das empresas juntam-se, agora, os aumentos de preços de energias, combustíveis e de matérias-primas”. 

Face a este cenário, a associação pede ao Governo que avance com um “plano de ação para garantir a viabilidade das empresas” do setor. E em cima da mesa estão três medidas consideradas prioritárias pelos empresários: a redução do IRC (pedido por 52% dos empresários), apoios a fundo perdido para a tesouraria e redução do endividamento das empresas (50%) e mecanismos financeiros para novos investimentos e requalificação das empresas (42%).

Falando de um “cenário ainda muito dramático” para a atividade, a AHRESP diz que as quebras na faturação “resultam, em muito, dos efeitos diretos do pico da quinta vaga da pandemia”. De acordo com o inquérito, 78% das empresas de restauração e similares e 37% das empresas de alojamento já tinham tido trabalhadores infetados e 51% e 19%, respetivamente, tiveram mesmo de encerrar por um período nunca inferior a sete dias por esse motivo. 

Como consequência desta situação, o inquérito aponta para um aumento das intenções de insolvência, chegando mesmo a duplicar nas empresas de restauração: “Hoje, 31% das empresas de restauração e similares ponderam mesmo encerrar definitivamente. A situação é menos gravosa no alojamento, com 8% das empresas a referirem esta intenção”.

Falta de mão-de-obra Outra dor de cabeça com que as empresas se deparam diz respeito à falta de mão-de-obra. Numa entrevista ao i, a secretária-geral da AHRESP já tinha revelado que “antes da pandemia fizemos um debate de um dia inteiro sobre o mercado de trabalho, sobre as dificuldades que estávamos a sentir e, na altura, chegámos à conclusão que se tivéssemos 40 mil pessoas teríamos dado emprego a essas 40 mil. Já estávamos a falar, nessa altura, de uma grande carência de mão-de-obra no setor, até porque estava a crescer”. 

E Ana Jacinto lembrou também que “a partir do momento em que as atividades começaram a abrir e isso notou-se muito nos meses de verão – principalmente no final de julho e agosto – muitas não conseguiram abrir porque não tinham trabalhadores”. 

Um problema que volta a ser uma das preocupações dos empresários, de acordo com os resultados do inquérito: 90% das empresas de restauração tiveram necessidade em contratar novos colaboradores e apontaram para “fortes dificuldades” em consegui-lo, sobretudo para as funções de profissional de cozinha e de mesa/balcão.

Estas dificuldades registaram-se também no alojamento, com o inquérito a evidenciar que 78% das empresas sentiram dificuldades na contratação, especialmente para as funções de limpeza, cozinha e receção.

“Muito relevante” ainda é, para a associação, o facto de 52% das empresas da restauração e 28% do alojamento referirem que tiveram de adiar investimentos por terem dificuldades em contratar recursos humanos.

Raio-x Em janeiro deste ano 43% das empresas registaram quebras de faturação acima dos 40% face a janeiro de 2021 e para o mês de fevereiro, 26% das empresas estimam registar quebras de faturação acima dos 50%, face a fevereiro 2021. Já em fm fevereiro de 2022, face às estimativas de faturação, 41% das empresas referiram que não irão conseguir suportar os encargos habituais (pessoal, energia, fornecedores e outros) e 31% das empresas ponderam avançar para insolvência, caso não consigam suportar todos os encargos.

No setor do alojamento turístico, 29% das empresas registaram em janeiro quebras de faturação acima dos 60% face a janeiro de 2021 e, em fevereiro, 26% das empresas estimam registar quebras de faturação acima dos 50% face a fevereiro 2021. Em fevereiro de 2022, face às estimativas de faturação, 20% das empresas afirmam que não irão conseguir suportar os encargos habituais (pessoal, energia, fornecedores e outros) e 8% pondera avançar para insolvência.

Em janeiro, 32% das empresas não registaram qualquer taxa de ocupação e 21% indicaram uma ocupação até 10%, sendo que 24% das empresas indicaram que a taxa de ocupação de janeiro deste ano foi inferior em mais de 60% face a janeiro 2021.

Considerando as reservas já confirmadas para fevereiro, março e abril, os principais mercados emissores serão Portugal (referido por 60% das empresas), Espanha (43%), França (32%) e Alemanha (31%).