Ministro desvaloriza agressões a migrantes em Melilla

Agressões acontecem numa altura que Espanha se prepara para receber refugiados ucranianos, tendo gerado críticas de grupos humanitários.

Depois de emergirem vídeos da polícia espanhola a agredir e a lançar gás pimenta a jovens da África subsaariana que tentaram entrar no enclave espanhol de Melilla, o ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, defendeu que a atuação da polícia foi “proporcional”.

Estes vídeos foram publicados depois de na semana passada, entre quarta e quinta-feira, milhares de migrantes terem tentado entrar em Melilla, com cerca de 490 a entrarem com sucesso durante o primeiro dia e 380 no seguinte, e é possível observar numa destas filmagens, conseguidas pelo canal televisivo RTVE, um homem a ser atingido enquanto descia pela cerca que tenta proteger a fronteira e a ser atacado no chão por cinco agentes da polícia.

O Governo da Espanha defendeu que o “nível de agressão” exibido pelos migrantes que tentavam atravessar para Melilla foi sem precedentes, acrescentando que cerca de 60 oficiais da Guarda Civil e da Polícia Nacional e 52 imigrantes ficaram feridos na quarta e quinta-feira.

Grande-Marlaska afirmou que a atuação da polícia foi proporcional à situação, mencionando que as autoridades acabaram com os seus capacetes e escudos protetores danificados depois dos confrontos.

“Um Estado democrático de direito não pode permitir que as suas fronteiras – que neste caso são fronteiras da União Europeia – sejam violentamente atacadas”, disse no sábado, quando visitou Melilla. “Também não pode permitir que os seus funcionários públicos da Guarda Civil e da Polícia Nacional, que protegem o espaço necessário para que todos nós possamos exercer os nossos direitos e liberdades, sejam agredidos”, citou o jornal inglês Guardian.

Este incidente ocorreu numa altura em que Espanha se prepara para receber refugiados da guerra na Ucrânia, algo que gerou críticas de grupos de direitos humanos e questionou a sua capacidade para receber estas pessoas.

“Enquanto acontece a guerra na Ucrânia, os migrantes dentro das nossas próprias fronteiras estão a ser punidos com extrema brutalidade”, disse a especialista em refugiados e migração da Amnistia Internacional de Espanha, Virginia Álvarez. “É esta a imagem que queremos projetar? É assim que vamos receber pessoas que também podem estar a fugir de possíveis conflitos e perseguições?”, questionou-se a especialista.

Esta situação é reportada depois de, na terça-feira, a forte presença das polícias marroquina e espanhola terem impedido uma nova tentativa de cerca de mil migrantes de entrarem ilegalmente no enclave espanhol.

Em maio do ano passado, em Ceuta – que, em conjunto com Melilla, constituem as únicas fronteiras terrestres da União Europeia com África -, cerca de 10 mil migrantes, incluindo menores, entraram nesta região espanhola no espaço de dois dias, um número “recorde” segundo as autoridades espanholas.

O episódio gerou uma crise entre Marrocos e Espanha, que acusou o país vizinho de facilitar a passagem da fronteira de milhares de pessoas como forma de retaliação pela permanência em Madrid do secretário-geral da Frente Polisário (considerada como um grupo terrorista por Rabat), Brahim Ghali, por motivos de saúde.