Em fevereiro os custos com eletricidade importada ascenderam a cerca de 270 milhões de euros, revelou ao Nascer do SOL a REN. A importação teve um peso de 33,9% no consumo, o valor mais elevado desde agosto de 1985. A suspensão da produção hídrica nas maiores barragens e o primeiro ano de seca sem a alternativa do carvão, que chegou a pesar 25% do consumo nas secas mais recentes, por exemplo em 2019, levaram o país a recorrer à importação por ter um custo mais económico do que o de a produção, estratégia reiterada esta semana pelo ministro do Ambiente João Pedro Matos Fernandes.
Os dados da REN mostram que nos últimos dias a situação se alterou, com a eletricidade importada a cair para 10% dos consumos, com o aumento da produção eólica mas também o disparar do custo da eletricidade no mercado ibérico, esta sexta-feira pela primeira vez a cair depois dos recordes dos últimos dias, que pode tornar mais vantajosa a produção térmica com gás natural reservado no país.
Numa semana em que regressaram vozes a defender que fosse equacionada a retoma da produção a carvão, como o presidente da Associação Empresarial de Portugal, Matos Fernandes considerou que a ideia seria um disparate e frisou que não garantiria custos mais baixos de eletricidade. «É uma hipótese que, tendo sido estudada, não está neste momento em cima da mesa, face às conclusões que temos», disse ao Jornal de Negócios João Pedro Matos Fernandes.
Questionado sobre quanto custaria a reativação, o ministro respondeu não ter «a mais pequena dúvida de que custaria muito dinheiro», afirmando que só para a central do Pego estar disponível a funcionar havia um custo de 100 milhões de euros por mês, além do que era pago pela eletricidade. Valor que diz respeito ao custo anual e não mensal.
Questionado sobre a referência a 100 milhões de euros/mês, sobre qual teria sido o valor das importações em fevereiro com a componente de carvão a manter-se numa situação de seca, bem como quais as conclusões que afastam o cenário de retoma da produção a carvão numa situação excecional, o gabinete de Matos Fernandes indicou que a informação na entrevista «está errada», referindo que efetivamente o valor é de 100 milhões de euros por ano. «Quanto ao resto, nada mais temos a acrescentar ao que é público e diversas vezes repetido pelo ministro», diz a tutela. O Ministério do Ambiente não respondeu sobre qual é atualmente o ponto de situação sobre as reservas de gás natural e se, mesmo que a situação não se coloque na primavera e no verão em que habitualmente há uma descida no consumo e mais horas de sol, está a ser equacionada a importação de carvão como medida de contingência para o próximo outono/inverno caso a seca ou o conflito permaneçam.