Numa altura em que o exército russo está a ter dificuldades em fazer progressos no ataque a Kiev, é estimado que já tenham morrido sete mil soldados durante os confrontos e que pelo menos 10% do equipamento militar tenha sido destruído, começam a surgir dúvidas se Moscovo pretende continuar o assalto à capital ucraniana.
“Existem questões sobre se Moscovo, agora, pretende efetivamente invadir Kiev ou não”, disse o jornalista do Guardian, Dan Sabbagh, acrescentando que “avançar com o ataque, com ou sem bombardeamentos, seria algo muito dispendioso”.
O jornal inglês escreve que as forças armadas da Ucrânia poderão continuar lutar contra a Rússia até ser atingido um impasse, disse uma fonte oficial, e o cada vez mais provável “empate” militar pode ajudar a conduzir a uma conclusão bem-sucedida das negociações de paz que estão em andamento.
Diversos países ocidentais acreditam que as discussões estão a tornar-se cada vez mais sérias. Esta quarta-feira foi marcada por relatos de que Kiev e Moscovo podem estar perto de atingir um acordo sobre o estatuto de neutralidade da Ucrânia e que podem colocar um fim à guerra iniciada pela Rússia, apesar de ambas as nações admitirem dificuldades nas negociações.
Contudo, o Pentágono acredita que a Rússia pode estar prestes a assinar um decreto para reforçar e substituir as tropas na frente, e o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que o possível “regime pró-nazi em Kiev” poderia ter “colocado as mãos em armas de destruição em massa”.
Recrutamento de Putin Com tantas baixas no exército e com a impossibilidade de enviar as tropas designadas para defender a “Terra-Mãe”, a situação atual pode obrigar o Kremlin a procurar além-fronteiras reforços para as suas forças armadas.
Segundo fontes do Ministério da Defesa Britânico, estes reforços podem chegar de territórios como a Sibéria, Arménia ou Síria.
“A Rússia está a procurar recrutar e enviar cada vez mais tropas para reforçar e substituir as suas perdas humanas na Ucrânia”, disse o Ministério da Defesa inglês esta semana, citado pelo Financial Times, explicando ainda que para realizar esse empreendimento, Moscovo está a redistribuir forças de lugares tão distantes quanto o a jurisdição militar oriental da Rússia, a frota do Pacífico e a Arménia. “A Rússia também está a procurar cada vez mais explorar fontes irregulares, como empresas militares privadas, sírios e outros mercenários”, escreveu o jornal.
“Os russos estão desesperados com a falta de mão de obra”, disse o investigador do Royal United Services Institute, Jack Watling, escreve o Financial Times. “Eles avançaram ao longo de vários eixos e dividiram as suas forças. Se estivessem a operar a um ritmo elevado talvez tivessem sido capazes de concretizar tudo aquilo a que se propuseram, faria sentido, mas devido à baixa motivação das tropas, o que realmente conseguiram fazer foi fixar-se em várias batalhas urbanas independentes e em cada um deles é observada a falta de concentração de tropas para conseguir tomar as cidades que estão a assediar”.
No entanto, apesar destes reforços, existem dúvidas sobre a sua potencial eficácia nestes terrenos desconhecidos, nomeadamente, das forças sírias, numa altura em que já chegaram cerca de 16 mil soldados desta região. “A sua experiência de combate não irá transplantar-se para esta região”, afirmou Watling. “Eles não estão familiarizados com este terreno e não têm uma grande ligação ou compromisso com esta causa”.
O especialista apontou também para a importância que pode ter o facto de não serem usados soldados russos aos olhos da política doméstica russa. “Os russos estão cinicamente a pensar que o desfecho deste conflito será sangrento e sombrio e haverá uma questão política doméstica com as vítimas mortais destas batalhas, por isso, se não forem russos a voltar dentro de sacos para corpos, isso é muito melhor para Putin”.
Turquia como garante de acordo O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kubela, pediu à Turquia que seja “um dos garantes” de um eventual acordo com a Rússia, anunciou o seu homólogo turco Mevlut Çavusoglu de visita a Lviv.
De acordo com Mevlut Çavusoglu – que se encontrou com Kuleba em Lviv –, a diplomacia ucraniana “emitiu uma oferta sobre um acordo de segurança coletiva P5 [os cinco membros-permanentes do Conselho de Segurança da ONU], mais a Turquia e a Alemanha”, assegurando que “a Federação da Rússia não coloca qualquer objeção”.
Após os encontros diplomáticos dos últimos dias, Çavusoglu disse acreditar que “aumentaram as esperanças de um cessar-fogo” e reiterou a ideia de que a Turquia, membro da NATO e aliado da Ucrânia, apesar de ter laços estreitos com a Rússia, está pronta para acolher uma cimeira entre os Presidentes da Ucrânia e da Rússia, “quando o terreno estiver preparado para esse encontro”.