A redução da abstenção nas últimas eleições legislativas foi um facto registado como muito positivo pela maioria dos democratas, ainda que amaldiçoado por muitos dos que não gostaram do resultado das eleições (à direita, mas sobretudo à esquerda) e principalmente por aqueles abstencionistas crónicos que se recusam a ‘dar dinheiro’ aos partidos e seus representantes e clientelas, porque é com base no número de votos que se calcula a subvenção a distribuir pelas forças políticas concorrentes.
Assim, escrutinadas as urnas, ficámos a saber que na legislatura que há de iniciar-se dentro de dias os partidos vão receber um total de 61,5 milhões de euros em financiamento público.
Destes, o PS, em virtude da maioria absoluta, fica com a fatia de leão (26,5 milhões de euros, equivalentes a 6,63 milhões/ano), o PSD 18,6 milhões de euros e os demais partidos com representação parlamentar e ainda o CDS repartem os restantes.
O CDS porquê? Porque a lei determina que têm direito à subvenção os partidos que obtiverem mais de 50 mil votos, mesmo que não elejam qualquer deputado – como é o caso do CDS, que obteve quase 97 mil votos e que, por isso, tem direito a 1,1 milhões de euros, mais até do que o PAN (970 mil euros) ou o Livre (815 mil euros) que elegeram 1 deputado cada, mas tiveram menos votos (só que mais concentrados no círculo eleitoral de Lisboa, pelo qual conquistaram o respetivo mandato).
Tudo visto e somado, ainda assim, o CDS foi um dos partidos que saiu mais penalizado, uma vez que, além de deixar de ter qualquer representante no Parlamento nacional, pela primeira vez em quase 50 anos, ou seja, desde a Constituinte, sendo que foi um dos partidos fundadores da Democracia, tendo perdido quase 1,5 milhões em relação à legislatura anterior.
Não foi, porém, o pior. Neste capítulo, o recorde vai para o Bloco de Esquerda, que receberá menos três milhões (3,1 milhões, mais concretamente) do que na legislatura interrompida.
Sem estas receitas, o partido das deputadas Catarina Martins, Mariana Mortágua e Joana Mortágua e da eurodeputada Marisa Matias, mas também do conselheiro de Estado Francisco Louçã, do comentador Daniel Oliveira ou do antigo autarca Ricardo Robles, e tantos outros, teve de fazer contas à vida e tomar medidas.
E que medidas tomou? Foi à banca endividar-se para poder pagar salários a funcionários e assessores? Fez uma vaquinha e dividiu o bolo por todos, ficando cada um com menos umas boas migalhas? Rateou remunerações cobradas a privados por intervenções em defesa das posições do partido?
Qual quê!?
Vá de cortar a eito e de proceder a imediato encerramento de sedes e despedimento de colaboradores – com certeza, todos eles em regime de precariedade – como quem não tem amanhã.
Acabou-se a teta do Estado e o Bloco não tem alternativa.
Tirando Daniel Oliveira, que conquistou o seu espaço nos media tornando-se o Pacheco Pereira do Bloco, Ricardo Robles, investidor e especulador imobiliário, Francisco Louçã, que acumula altos cargos públicos (no Conselho de Estado ou no Banco de Portugal) e privados, e Mariana Mortágua, que pelos vistos também somou remunerações nos privados ao vencimento de dedicação exclusiva à Assembleia da República, todos os demais que se saiba dependem do erário público, seja como eleitos, assessores ou afins, seja como subsidiados ou remunerados da Função Pública.
Embora admita que possa estar mal informado e que os possa haver, não tenho presente nenhum ativista do BE que pague do seu bolso ordenados a trabalhadores e contribuições como a TSU ao Estado – sem contar com empregadas domésticas, amas ou babás ou outras mordomias.
Aqui ao lado, em Espanha, a imprensa não se inibe de escrutinar os seus políticos e as incongruências do que defendem em público e praticam em privado.
Um bom exemplo foi o que se passou com o líder do Podemos, Pablo Iglesias, o homem do rabo de cavalo que entrava no Palácio Real, no Parlamento espanhol ou no Parlamento Europeu de calças de ganga e sem gravata.
Em 2018, fez manchetes de jornais e capas de revistas, de informação pura e dura e até cor de rosa, quando comprou um chalé em Vallecas, na serra de Madrid.
Foi até fácil perceber quanto custou, porque estava anunciado no Idealista: 600 mil euros. Uma obscenidade, logo lhe caíram em cima e em peso. Fora e dentro do partido, já que a compra ia-lhe custando, sim, a liderança.
Pois é.
Espanha está muito mais longe do que parece.
E, caladinhos e subservientes, ficaremos cada vez mais para trás.