Se não houver alterações nos requisitos para a contratação de professores, dentro de um ano pode haver 110 mil alunos sem professores a pelo menos uma disciplina. O cenário é traçado por Luísa Loura, diretora da Pordata e ex-diretora da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência. Numa publicação no blogue da Fundação Francisco Manuel dos Santos, a responsável admite que em três anos passem a ser 250 mil estudantes afetados, “mais de metade dos alunos que hoje frequentam o ensino do 7.º ao 12º anos”.
Luísa Loura escreve neste artigo, partilhado nos últimos dias, que os impactos serão pontuais no caso dos alunos do pré-escolar até ao 6º ano. O problema está nos docentes mais velhos, que começaram a dar aulas com 20 e 30 anos no pós 25 de Abril, pessoas que na altura não tinham formação específica em didática e pedagogia e fizeram a chamada profissionalização em exercício. Cerca de 50 mil professores entraram no ensino desta forma e “tal como houve um boom de entradas, vai dar-se agora um boom de saídas”, diz a ex-dirigente, que lamenta que, ainda em funções na DGEEC, lhe tenha sido pedida uma projeção sobre aposentações, com pouca atenção aos resultados, nomeadamente pelas faculdades. “Formar apenas entre 17 e 22 professores de Matemática e entre 5 e 8 professores de Física e Química nos últimos quatro anos deveria ter feito soar os devidos sinais de alarme”, escreve, admitindo que resta agora adotar medidas de recurso: “Permitir um maior peso de professores sem habilitação profissional no sistema; redução das horas de apoio ao estudo e aumento significativo do número de alunos por turma”, elenca. No final do ano passado, o Governo admitiu recorrer, tal como no pós 25 de Abril, ao recrutamento de diplomados noutras áreas, fazendo formação superior e estágios nas escolas, planos que não foram detalhados.