Melo promete oposição eficaz e vê trunfo no êxodo de António Costa

Os centristas escolheram Nuno Melo como líder no berço da nação, mas o eurodeputado sai do Congresso de Guimarães como o presidente com a tarefa mais difícil em toda a história do CDS-PP: fazer regressar o partido ao Parlamento.  

Esse é o seu sonho, para o qual promete “dar o corpo às balas”, mas quer também que as hostes acreditem que pode haver eleições em 2024.

No seu primeiro discurso, após ter sido eleito, este domingo, com 74,93% dos votos e de ter obtido dois terços dos lugares no Conselho Nacional, deixou um apelo aos militantes para “não deprimirem”, vendo na hipótese de o primeiro-ministro ter já “o coração em Bruxelas” um sinal de esperança para o CDS.

“Se tivermos eleições legislativas antecipadas o CDS estará preparado e será nesse dia que voltará à Assembleia da República”, declarou Melo.

 Até lá, quer “uma oposição tão forte e eficaz fora do Parlamento como era quando lá estava”, não baixando os braços porque “quem quer vida fácil escolhe o PS ou PSD, não escolhe o CDS”.

“Tenho uma profunda crença que devolveremos o CDS ao lugar que merece. As pontes foram criadas, o nosso pensamento está no futuro e para fora. Hoje na oposição ao PS, amanhã na disputa pelo Governo, é para isso que nascemos enquanto partido”, frisou.

Para fazer uma “oposição mais eficaz” agora “para que amanhã os portugueses tenham uma alternativa”, o primeiro objetivo já traçado tem como palco o Parlamento Europeu, que se materializará na reeleição nas europeias de 2024, e o reforço da votação nas regionais da Madeira, no próximo ano.

Melo estabeleceu ainda como espaço natural do CDS o “humanismo personalista” que disse estar em falta entre o PSD e o Chega, projetando que será nesse espaço que se quererá sentar quando voltar ao Parlamento.

Neste enquadramento, colou a Iniciativa Liberal “ao centro-esquerda”, o PSD “ao centro” e  o Chega “à direita”. “Há uma parte da sociedade que não está lá [na Assembleia da República], somos nós”, vincou.

Fazendo questão ainda de fazer uma apreciação da organização do novo Governo, criticando a transferência das Pescas para a tutela da Agricultura, deixando o Mar, e a alocação dos “milhões do Plano de Recuperação e Resiliência destinados à dimensão pública” na tutela da ministra da Presidência e não na pasta da Economia.

E não deixou de apontar falhas ao anterior Governo de António Costa, por “atacar o sistema privado de educação” e ter transformado “a escola pública em espaço de ideologia”, e por não promover a “complementaridade” da oferta social ao Serviço Nacional de Saúde. Noutra área cara aos socialistas, Nuno Melo confrontou o Executivo com a necessidade de agir sobre a inflação e o preço dos combustíveis. Neste caso, o cristão-democrata reafirmou a proposta de baixar já o ISP sobre o preço dos combustíveis na medida proporcional ao IVA.

 Prometendo ser “útil” e propondo, a cada crítica, uma solução, aproveitou o momento para igualmente anunciar que uma das suas primeiras iniciativas, através do grupo programático para Economia, Finanças e Agricultura, será uma conferência sobre inflação, poder de compra, produção industrial e alimentar.

 

Melo, o pacificador

Nuno Melo conseguiu condições excecionais internas para o seu objetivo de “reconstruir” e “unir” o partido, refletindo o tom geral do congresso em que a maioria  preferiu alinhar por esse discurso, ao invés de procurar “culpados” para o partido ter perdido a sua representação parlamentar nas legislativas de 30 de janeiro.

Foi também essa a circunstância que levou o antigo líder Paulo Portas a comparecer este domingo de manhã, no congresso, para votar nos órgãos nacionais, algo inédito desde que deixou a presidência do partido.

Ao lado de Nuno Melo, o ex-vice-primeiro-ministro elogiou a “coragem e a determinação” do eurodeputado em liderar o partido nesta fase e salientou, sobretudo, a pacificação interna.

A lista que Melo encabeçou para a Comissão Política Nacional obteve 75% dos votos, enquanto a lista para o Conselho Nacional, órgão máximo entre congressos, obteve dois terços dos votos e 47 mandatos. Já a lista com elementos da direção anterior conseguiu 23 lugares.

Na direção, que apresenta algumas caras novas, o famalicense contará neste mandato de dois anos também com vários rostos do portismo, como o ex-líder parlamentar Nuno Magalhães e o ex-deputado João Rebelo, os primeiros da lista ao Conselho Nacional.

A médica Isabel Galriça Neto, como porta-voz, o ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais Paulo Núncio, o ex-líder parlamentar Telmo Correia, Álvaro Castello-Branco, ou João Gonçalves Pereira, entre os vice-presidentes.

Ausentes desta direção estão nomes como Cecília Meireles, por razões “estritamente profissionais”, Diogo Feio, Filipe Lobo d`Ávila e António Carlos Monteiro.