A Comissão Independente criada para identificar os abusos sexuais na Igreja Católica portuguesa informou esta terça-feira que já foram validados um total de 290 testemunhos de abusos de menores.
Em conferência de imprensa, Pedro Strecht, o cordenador da Comissão Independente, disse que "alguns" testemunhos "foram entregues em mão" ao Ministério Público e frisou a importância de "manter a relação aberta e de confiança mútua" com a Conferência Episcopal Portuguesa, assim como a "todos os elementos da Igreja Católica em Portugal" de forma a levar "este estudo a zonas ainda mais profundas do conhecimento para que não fiquemos limitados num conteúdo de superfície". E deixa claro: “A Igreja e toda a sociedade civil podem continuar a contar com a Comissão Independente para prosseguirmos juntos pela verdade”.
Assim, o responsável explicou que todos os casos de abusos de menores estão "a ser analisados individualmente" de modo a "triar situações de crimes não prescritos ou de risco de continuidade dos mesmos, em articulação com o Ministério Público". Desde modo, para ajudar nas investigações, foram efetuados "muitos contactos diretos" com várias instituições e entidades, assim como pessoas individuais que "possam ter dados" sobre os abusos cometidos.
“Está, também, a ser realizado o levantamento de todos os casos eventualmente reportados à comunicação social desde 1950 até aos dias de hoje, que até agora já revelou situações importantes, mas também não em grande quantidade”, disse Pedro Strecht.
O coordenador revelou também que já foi "concretizado o contacto com uma equipa científica para acesso e estudo dos arquivos da Igreja", que será coordenada por Francisco Azevedo Mendes, da Universidade do Minho, que "em articulação com cada diocese fará o seu trabalho de pesquisa durante os próximos meses".
No que diz respeito às vítimas, Ana Nunes Almeida, socióloga da Comissão Independente, que também esteve presente na conferência de imprensa, especificou que a maioria das vítimas é do sexo masculino e que são de "todos os níveis de instrução", desde a "antiga instrução primária até ao doutoramento".
"Estão representadas todas as regiões do país, todos os grupos etários desde uma vítima nascida em 2009 a uma vítima nascida em 1934", descreveu, acrescentando que "as idades em que aconteceu o primeiro abuso sexual variam entre os 2 anos e os 17 anos".