Peter Carl Fabergé (1846-1920), o joalheiro dos czares, produziu na sua oficina um tesouro digno da caverna de Ali Babá. No livro The Art of Carl Fabergé (ed. Crown Publishers), o especialista Alexander von Solodkoff oferece uma amostra da imensa variedade de objetos que dali saíram: braceletes, pendentes, frascos, molduras, cigarreiras, pequenos animais, figuras humanas decorativas, bomboneiras, relógios de mesa e até serviços de chá.
Nascido em S. Petersburgo, quando era Peter criança a família mudou-se para Dresden, onde estudou. Depois foi enviado num Grand Tour, a viagem que os descendentes de famílias abastadas faziam para ganhar mundo e complementar a sua formação. O que viu em Florença viria a ser decisivo para o seu estilo, assim como o que aprendeu em Paris. De regresso a S. Petersburgo, onde assumiu a direção da Casa de Fabergé, tinha à sua disposição as fabulosas coleções dos czares, em especial da voraz Catarina, a Grande, para lhe alimentarem a imaginação.
Algumas das criações mais apreciadas pela clientela de S. Petersburgo eram as delicadas flores de pedras semi-preciosas e esmalte. «Depois da ceia de Páscoa, a Grã-Duquesa Vladimir distribuiu presentes fabulosos. Ela própria recebeu coisas belíssimas, por exemplo pequenos vasos de flores feitos de pedra dura com imitações de flores em estames de materiais preciosos, tudo fantástico trabalho de joalheiro», descreveu Jorge, filho do duque de Mecklenburg-Strelitz, que esteve presente nas festividades de 1916. A imperatriz Alexandra Fedorovna teve na sua secretária, até aos dias da Revolução, um cesto com lírios do vale que lhe fora oferecido em 1896.
Além das flores, outro presente muito popular (se é que se pode usar esse adjetivo para um objeto de luxo) eram os pequenos ovos «do tamanho de uma cereja ou de uma uva» que se penduravam ao pescoço. «Era costume na Páscoa oferecê-los como presentes não apenas aos membros da família mas também a primos afastados e a velhos amigos. Cada uma das minhas irmãs tinha duas ou três correntes compridas repletas destes ovos que lhes caíam até ao peito». As palavras, mais uma vez, são do filho do duque de Mecklenburg-Strelitz.
Mas, claro, o nome Fabergé é conhecido sobretudo pelos sumptuosos ovos imperiais. Na Páscoa de 1885, o ano em que foi nomeado ‘joalheiro de Sua Majestade e do Hermitage Imperial’, Carl Fabergé recebeu do czar Alexandre III um pedido especial: que fizesse para a czarina, nascida na Dinamarca, um presente que lhe recordasse a sua terra. O joalheiro concebeu um ovo aproximadamente do tamanho de um ovo de avestruz, muito simples, de esmalte branco. Mas no interior continha uma surpresa: uma graciosa galinha de ouro com os olhos de pedras preciosas. Nos anos seguintes os ovos foram ficando ainda mais ricos e elaborados. Entre 1885 e 1916 a oficina Fabergé produziu 54 destes objetos fabulosos.
Mas de onde vem a associação do ovo à Páscoa? É certo que, na tradição cristã, este período é associado à ressurreição de Cristo e o ovo é um símbolo de nascimento. Mas não haverá uma ligação para lá desta? Descobri que sim, havia, ao ver um destes dias umas folhas impressas que um dos meus filhos trouxe da aula de Religião e Moral. Um desenho muito singelo mostrava um grande pedregulho afastado para o lado, os soldados romanos a dormir e o ressuscitado a sair do túmulo. É isso mesmo: o ovo que se parte para o passarinho poder sair em direção à luz é a pedra do túmulo que se afasta para que Cristo possa ascender ao Céu.
Quanto à origem do coelhinho da Páscoa, já não é para mim muito clara. E como é que o coelho, um mamífero, põe ovos (e ainda por cima de chocolate), isso então é um mistério que me transcende completamente.