O presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, foi recebido na segunda-feira pelo representante da República para os Açores, Pedro Catarino, para apresentar uma nova orgânica do executivo e os titulares das diferentes pastas, após o Chega ter anunciado o fim do apoio ao executivo açoriano. Com a remodelação, o executivo (PSD/CDS-PP/PPM) passa a ter menos duas secretarias regionais, com a saída de quatro secretários (Finanças, Turismo, Cultura e Obras Públicas) e a entrada de dois.
“É um governo que é mais pequeno, mais coeso. Passa a corresponder a uma mudança que não é meramente cosmética, é profunda e assegura, sobretudo, que não haverá nenhum atraso nos processos, pelo contrário, mais eficácia, mais coesão”, afirmou o presidente do executivo açoriano, em Angra do Heroísmo.
Entre os novos nomes dos membros do executivo, está a ex-deputada social-democrata Maria João Carreiro assumindo o cargo de secretária regional da Juventude, Qualificação Profissional e Emprego, em substituição de Duarte Freitas, que passa a assumir as pastas das Finanças, Planeamento e Administração Pública. Já a antiga líder do PSD/Açores Berta Cabral será a nova secretária regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas, assumindo ainda a área da Energia.
A secretária regional da Educação, Sofia Ribeiro, passa a titular também os Assuntos Culturais. E a presidência do Governo Regional vai tutelar ainda as áreas das Comunidades e Comunicações e o processo de criação do porto espacial em Santa Maria, enquanto a vice-presidência ficará com a área da Ciência. A orgânica completa deverá ser publicada amanhã, depois de aprovada em Conselho de Governo.
Questionado sobre se a decisão foi motivada pela posição do Chega, que anunciou o fim do apoio ao executivo açoriano, Bolieiro afirmou que o poder de promover alterações no elenco governativo é “exclusivo do presidente”, mas ressalvou que não é “cego, surdo e mudo”.
Em novembro de 2021, dias antes da discussão do Plano e Orçamento da Região para 2022, o deputado único do Chega, José Pacheco, disse que a continuidade do apoio do partido ao Governo Regional estava dependente de uma remodelação governativa, que o presidente do executivo lhe teria dito estar “para breve”.
Na altura, José Manuel Bolieiro garantiu que não se sentia “pressionado” a fazer uma remodelação governativa. Contudo, no passado dia 6 de abril, o deputado do Chega adiantou que o apoio do partido ao executivo açoriano tinha chegado ao fim, alegando que continuava “sem ter eco”.
Em reação às remodelações anunciadas, José Pacheco considerou que “havia muito mais a limpar”, afirmando que cabe agora ao executivo açoriano mostrar que “consegue fazer melhor” e que o Chega estava “enganado” quanto à decisão de pôr fim ao apoio.
Frisando que o Chega “não pode estar colado a uma solução de trapalhadas e mais trapalhadas”, o deputado insistiu que “se é para fazer a continuidade do governo socialista”, o governo açoriano “não tem o apoio do Chega”.
“Queremos ver trabalho daqui para a frente. Terá de ser o governo a provar, não ao Chega, aos açorianos, que é um governo diferente”, declarou.
IL e BE sem grandes expectativas
O deputado da Iniciativa Liberal no parlamento regional afirmou que “não se esperam grandes mudanças de políticas”, após uma remodelação feita com “protagonistas do passado”. Para Nuno Barata “não basta mudar os peões num tabuleiro”. “É preciso fazer diferente. É preciso mudar as políticas”, defendeu, apontando ainda que a pequena dimensão do executivo “faz sentido” para conter a despesa pública.
António Lima, deputado do BE/Açores e líder regional do partido, disse também não ter “grandes expectativas” relativamente a esta remodelação. “O presidente do Governo é o mesmo. O programa de Governo é o mesmo. Por isso, não se esperam, obviamente, mudanças de fundo”, afirmou.
Governo manietado pelo Chega
Pelos socialistas, o deputado regional Berto Messias acusou o atual Governo dos Açores de “falta de liderança”. “É uma remodelação feita no baú de recordações do PSD/Açores, incapaz de alterar a degradação política e a permanente instabilidade da atual solução governativa”, declarou, alegando que as mudanças “não alteram nada sobre a situação atual” em que o “presidente do governo é manietado e chantageado pelo Chega”.