A GNR desmantelou um esquema de venda paralela de jornais na grande Lisboa, numa operação que começou há nove meses com uma denúncia da distribuidora Vasp e que envolvia pelo menos 11 pessoas, entre as quais dois funcionários da empresa. Aproveitando-se da logística e com a colaboração de pessoal de gráficas e motoristas, desviavam parte das tiragens dos canais regulares, com a intervenção de pontos de venda que alinharam na burla com proveitos e contrapartidas monetárias indevidas para intermediários e vendedores. Os prejudicados eram as empresas – tanto os editores como a empresa de distribuição -, e o Estado, em receitas fiscais, indicou a GNR, admitindo prejuízos na casa das várias centenas de milhares de euros anuais. A investigação prossegue e não foram ainda identificadas as empresas lesadas. O Inevitável e o Nascer do SOL são distribuídos pela Vasp, como a generalidade da imprensa nacional.
Operação Dark Ardina
A operação, designada de Dark Ardina, foi desencadeada por uma denuncia anónima da VASP em setembro de 2021, depois de dois anos de pandemia marcados pela contração das vendas em banca. Em comunicado, a empresa confirmou ter apresentado a denúncia no final do ano passado. «Esta rede, com origem nas gráficas e em outras plataformas logísticas, desviava jornais e revistas para abastecer um conjunto alargado de pontos de venda localizados na região de Lisboa», referiu a VASP, dando nota de que entre os 11 detidos esta semana, dois são seus funcionários. Segundo a empresa, a rede envolvia ainda motoristas e «diversos proprietários ou colaboradores de pontos de venda de publicações».
«A VASP lamenta profundamente a existência desta rede criminosa, que se aproveitava ilicitamente da sua estrutura de distribuição, para operar em paralelo e obter proveitos monetários indevidos, desrespeitando, assim, as regras da concorrência e tendo lesado, fortemente o Estado, os editores e também a VASP», salientou ainda a distribuidora, indicando que irá continuar a colaborar com o Ministério Público e com a GNR na investigação.
Em 2020, a PJ já tinha aberto uma investigação à partilha ilegal de jornais e revistas nas redes sociais. Em fevereiro, a Visapress avançou com uma queixa contra o Telegram. Apesar de haver grupos de partilha de jornais no WhatsApp ou no Messenger, os desta rede acabam por ter o maior impacto: não têm limite de participantes. Esta é outra área em que o rombo tem sido monumental para o setor. Segundo um estudo conduzido pela Netsonda a pedido da associação que trabalha em direitos de autor, há mais de 600 mil portugueses a ler e a partilhar jornais e revistas na íntegra em pdf, à borla, com a pirataria a representar um prejuízo estimado em cerca de 3,5 milhões de euros mensais no setor.