A população de cerca de 22 milhões de habitantes de Pequim, capital da China, foi acordada por altifalantes que anunciaram que, durante a madrugada, iriam ser efetuados testes em massa contra a covid-19, uma medida adotada para evitar a mesma situação de Xangai, que esta terça-feira bateu o seu recorde de novos casos de covid-19.
“Para aqueles que sonham, para aqueles que roncam ou para aqueles que preparam o café da manhã de pijama, é hora dos testes de covid!”, podia ouvir-se através dos altifalantes noturnos na capital chinesa, segundo relata uma correspondente da AFP.
As autoridades locais pretendem testar cerca de 90% da sua população, avança o meio de comunicação estatal chinês Global Times, numa missão que será realizada em três rodadas de testagem em 11 bairros da capital da China.
Nos últimos oito dias já tinham sido feitos exames em massa em diversos bairros e localidades, onde foram encontrados 80 novos casos, principalmente entre crianças em idade escolar, grupos de idosos e trabalhadores da construção civil, situação que obrigou dezenas de edifícios residenciais a serem colocados em quarentena.
À semelhança do que aconteceu em Xangai, estas medidas foram recebidas com protestos. Em vídeos publicados nas redes sociais é possível observar diversos moradores nas suas janelas a bater panelas e frigideiras e a tocar a música Do you hear the people sing?, um hino de protesto do musical Les Miserables com flautas e trombetas.
Apesar do surto que se vive em Pequim ser considerado de dimensão modesta, quando comparado com os padrões globais, os cidadãos temem viver um bloqueio semelhante ao imposto em Xangai, onde recentemente começaram a ser instaladas vedações à porta das casas para impedir os cidadãos de saírem.
A ansiedade provocada por esta situação levou inúmeros habitantes de Pequim, com medo de viver uma situação semelhante à de Xangai, onde foi reportada a falta de mantimentos nas lojas, a efetuar, em pânico, compras de alimentos.
“A situação em Xangai superou tudo aquilo que tínhamos imaginado, muitas pessoas acham absurdo que uma metrópole moderna tenha lidado com a situação dessa maneira”, disse um morador de 35 anos de Pequim, à AFP.
Através de imagens partilhadas pelos meios de comunicação locais, é possível observar pessoas a fazer fila em supermercados com carrinhos cheios, apesar das autoridades tentarem tranquilizar o público assegurando-lhes que existe recursos mais do que suficientes.
A decisão de implementar estas medidas de restrição está também a ter consequências para a economia chinesa, com o índice de ações de referência da China a registar a sua maior queda desde fevereiro de 2020, depois do maior distrito de Pequim ter começado a testar em massa para a covid-19 devido a um aumento nas infeções na capital.
Além da queda das ações chinesas, especialistas também apontam para os elevados custos que esta estratégia “zero covid” acarreta, com restrições bastante apertadas de forma a erradicar completamente o vírus do país.
“Ao contrário de muitos países desenvolvidos, que têm ajudado comunidades, estabelecimentos comerciais e famílias a enfrentarem a pandemia com pacotes de estímulo e programas de previdências, esse tipo de medida ainda falta na China.
Portanto, o Governo tem de tentar ao máximo conter o alastramento do vírus a curto prazo, a fim de evitar grandes ruturas para a economia e a sociedade”, disse o professor associado da Yale School of Public Health, nos Estados Unidos, Xi Chen, citado pela DW.