RIGA – Havia expectativas e eram bem alicerçadas. Uma oportunidade até agora inédita em termos de uma final da Liga dos Campeões Europeus de Futsal jogada à moda de dérbi de Lisboa, entre Benfica e Sporting, ou vice-versa, como queiram. Ainda por cima porque o sorteio foi amigo e deixou ambos os rivais em meias-finais diferentes. Uma expectativa que não atraiu muitos portugueses a Riga, capital da Letónia, bem pelo contrário, talvez obrigando a UEFA a repensar esta política de entregar a maioria das últimas final-four a países de Leste, ou da área da antiga União Soviética, empurrando a refrega entre as quatro melhores equipas da Europa (teoricamente) para locais um tanto ermos, apesar do seu quê de exóticos.
Tudo começou na sexta-feira com o confronto soporífero entre Sporting e a Association Citoyenne Culturelle et Sportive Asnières Villeneuve 92, um nome demasiado comprido para um conjunto tão fraco. Claro que os franceses caíram em Riga vindos aos trambolhões dos céus da sorte, tirando proveito da expulsão dos russos do Tyuman por via das medidas tomadas contra a Rússia após a invasão da Ucrânia. Ingénuos, inseguros, incompetentes na maior parte dos movimentos do jogo, foram naturalmente despachados por 2-6, com golos de Cejudo, Paçó, Merlin (2), Cavinato e Cardinal (de penálti). À pobreza da exibição, juntou o ACCS a imagem deprimente daquele que foi até há bem pouco tempo o melhor de todos os melhores jogadores do mundo, Ricardinho, empurrado para o papel secundaríssimo daquele que fica cá atrás, no seu meio-campo, a tentar meter bolas longas nos avançados. Triste recordação…
Benfica e Barcelona ofereceram, por sua vez, um espetáculo de categoria aos que se deslocaram à Arena de Riga. A forma como os encarnados abordaram o início do combate, atirando-se valentemente sobre o seu poderoso adversário, garantiu três golos sem resposta por Tayyebi, 0:41 (penálti), Rocha (8m), e Jesus (16m). E foi com esses 3-0 que começou o segundo tempo. Ou melhor, com o 3-1 em autogolo de André Sousa aos 21 segundos do recomeço. Convenhamos que se sentiu, da parte dos encarnados, demasiado medo para poderem dar o golpe de misericórdia aos catalães. Remetidos a uma defesa porfiada, puseram-se a jeito da remontada (Ferrão, 30m e Dyego, 34 e 37m). Empate por Chiskala, segundos depois do 3-4, e prolongamento renhido até 15 segundos do fim, quando Adolfo atirou o Barcelona para a final, abatendo o sonho de uma Alameda Portuguesa em Riga.
Vitória indiscutível. A meia-final entre Benfica e Barcelona, ainda por cima decidida da forma como foi, fez com que a final fosse mais discutida do que nunca, pelo menos ao nível das conversas. Talvez os encarnados possam ter ficado com uma certa sensação de injustiça mas, vendo bem, depois de irem para o intervalo com a confortável vantagem de três golos, têm de procurar internamente as razões de tantas debilidades no segundo tempo. Quanto ao Sporting, percebendo as dificuldades sentidas pelo seu opositor na final de segunda-feira perante o rival de todos os dias em Portugal, é possível que tenha suposto um jogo muito diferente daquele que veio a acontecer.
Após o Benfica ter vencido com naturalidade o ACCS (5-2) no embirrento embate para o terceiro lugar, a final de dia 1 de Maio mostrou à saciedade com toda a clareza que o Barcelona é, neste momento, melhor do que Benfica e Sporting. O sonho da tal final lusitana, logo num tempo em que a selecção nacional acumula os títulos de campeã da Europa e de campeã do Mundo, não foi além de um devaneio. E a facilidade com que os Condes da Catalunha dominaram o encontro decisivo, batendo os leões por quatro golos (Lozano, 15m; Pito Goal, 18m; Ferrão, aos 27 segundos do segundo tempo, e Dídac Plana, 38m) sem resposta, não deixaram pairar sequer a dúvida de que o titulo europeu está perfeitamente entregue a que apresentou não apenas o melhor jogo de conjunto como também as individualidades mais brilhantes, com destaque para o brasileiro Ferrão, que se assume, hoje por hoje, como o melhor jogador do planeta redondo e achatado nos polos. É possível que este Sporting, que tem andado no cume da Europa nos últimos cinco anos, tenha terminado um ciclo. Veremos nos tempos mais próximos. Definitivamente, não se discuta a categoria do Barcelona que estragou por completo a sonhada festa lusitana. É tirar-lhe o chapéu e seguir caminho.