Até o aliado mais próximo de Vladimir Putin se mostra preocupado com o falhanço militar russo na Ucrânia. “Sinto que esta operação se arrastou”, admitiu em entrevista à Associated Press Alexander Lukashenko, mais conhecido como o último ditador da Europa, que permitiu que a sua Bielorrússia virasse rampa de lançamento para a invasão.
Mesmo numa guerra recheada de desinformação, em que é difícil saber exatamente o que se passa, o nervosismo do Presidente bielorrusso muito mau sinal para o Kremlin. E vai de encontro às notícias que chegam da linha da frente, indicando que as forças russas, após serem obrigadas a retirar do norte de Kiev, nem no Donbass conseguem avançar.
Mais uma vez, a capacidade militar dos russos ficou bem aquém do previsto. Até agora, não conseguiram capitalizar o terreno mais plano do Donbass – ideal para as suas forças mecanizadas, sem tantas áreas urbanas ou de floresta como o norte de Kiev, dificultando que tropas ucranianas as emboscassem com mísseis de ombro – e o apoio que têm entre parte da população da região.
Estima-se que uns 22 grupos táticos de batalhão – uma formação usada pela Rússia com entre 800 a 900 efetivos, artilharia própria, defesas aéreas, tanques e transportes – estejam nos arredores de Izyum, a partir de onde tentam cortar o abastecimento das forças ucranianas no Donbass. Mas não tem conseguido avançar mais que uns poucos quilómetros por dia, limitando-se a varrer as posições da Ucrânia com bombardeamentos aéreos, mísseis e artilharia.
A expectativa, de acordo com a doutrina militar russa, seria que as barragens fossem seguidas de avanços rápidos de tanques e infantaria. Talvez o Kremlin esteja a tentar evitar por as suas tropas em risco, após as suas perdas brutais norte de Kiev. “A artilharia tornou-se avassaladoramente importante para os russos. É como conseguem efeito no campo de batalha”, notou Sam Cranny-Evans, analista da RUSI, ao Financial Times. “Mas pela sua natureza é lento, porque dependes de logística da artilharia”.
Como tal, a Rússia está a conseguir “avanços mínimos”, estranhou uma fonte do FT no Pentágono. “Em alguns casos, francamente, a melhor palavra para o descrever seria anémicos”.
Não espanta que até aliados do Kremlin, como Lukashenko, estejam a perder a paciência. Ainda na quarta-feira o regime da Bielorrússia ordenou o começo de enormes exercícios militares, avançou a Reuters, algo que se temeu ser um pretexto para ocultar uma entrada dos bielorrussos no conflito. Mas agora nem Lukashenko parece entusiasmado com a invasão lançada pelo seu “irmão mais velho”, como chama a Putin.