Na semana passada, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, recomendou “calma” e “ponderação” aos membros do Conselho de Governadores do Banco Central Europeu (BCE) sobre as declarações sobre o timing da subida das taxas de juro. As palavras de Centeno surgiram depois de Isabel Schnabel, membro do Conselho Executivo do BCE, ter dito que “um aumento das taxas em julho é possível”. Não foi o único a pedir cautela: o italiano Fabio Panetta, da comissão executiva do BCE, defendeu que “seria imprudente agir sem saber primeiro os números concretos do PIB do segundo trimestre e discutir outras medidas”.
Uma preocupação é fundada? Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa, diz ao i que, “perante uma inflação na Europa que é sobretudo do lado da oferta e exógena, devido ao aumento dos preços dos combustíveis fósseis, uma subida das taxas de juro tem pouco impacto no controlo da elevada inflação”. Por isso, para o economista, “esse mesmo aumento dos juros agravará ainda mais o rendimento real dos agentes económicos e impulsionará um cenário de estagflação e poderá provocar uma recessão na Europa”.
Na sua opinião, o BCE “deverá aumentar muito gradualmente os juros porque a sua subida é mais um custo para as famílias, empresas e governos endividados e que poderá redundar num decréscimo do consumo privado, do investimento e dos gastos públicos, culminando com uma recessão económica”. E acrescenta ainda que o banco central deve também “ponderar muito bem antes de aumentar os juros”. Por isso, não tem dúvidas: “A palavra ‘calma’ é bastante apropriada neste cenário”.
Já Nuno Mello, analista da consultora XTB, lembra que a taxa de inflação homóloga na zona euro disparou para um novo máximo de 7,5% em março, face aos 5,9% registados em fevereiro. “O Banco Central Europeu já tinha anunciado no mês de março uma retirada das medidas de estímulo que havia iniciado durante a pandemia” e “está previsto que as compras de dívida pública terminem no decorrer do terceiro trimestre deste ano, mas antes disso poderá já aumentar a taxa de juro na próxima reunião do mês de junho”.
O analista recorda que o membro do Conselho da instituição, Robert Holzmann, disse recentemente que o Banco Central Europeu irá discutir o aumento das taxas e poderá mesmo decidir aumentar as mesmas em junho. Na sua opinião, “esta decisão já peca por tardia e que o BCE arrisca que a inflação suba ainda mais se não agir rapidamente à semelhança do que tem vindo a acontecer com os outros bancos centrais”.
Por seu turno, Ricardo Evangelista, diretor executivo da ActivTrades Europe S.A, considera que “analisando essa afirmação desde o ponto de vista de Mário Centeno, Governador do Banco de Portugal e alguém que se lembrará bem dos efeitos que as políticas monetárias mais restritivas do BCE podem ter sobre as economias da periferia da zona euro, entende-se que esteja condicionado por esse viés”.