Com mais de 10 000 soldados, 62 aviões de combate e 15 helicópteros de guerra, a Rússia preparou e ensaiou ao detalhe a parada militar que irá acontecer esta segunda-feira, de forma a assinalar o Dia da Vitória, feriado que sinaliza a vitória russa contra a Alemanha Nazi durante a Segunda Guerra Mundial.
O presente Dia da Vitória ocorre perante especulações generalizadas de que o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, estará ansioso para declarar pelo menos uma vitória simbólica na Ucrânia.
No entanto, a grande dúvida que permanece é como Putin irá tentar incentivar a população russa através da fusão do passado, com a vitória e sacrifício soviéticos, com um novo presente, onde o Presidente afirma estar a lutar com o regime “neonazi” da Ucrânia.
O Kremlin insiste que a “operação militar especial” na Ucrânia, tal como os próprios descrevem a invasão a este país, está a correr “de acordo com o plano”, mas, dois meses depois, as autoridades de segurança ocidentais afirmam que Moscovo está a enfrentar dificuldades para atingir os seus objetivos.
Com poucas vitórias definitivas a apontar, especialistas temem que “Putin possa aproveitar a ocasião para anunciar a mobilização nacional e declarar formalmente a guerra, não apenas contra a Ucrânia, mas talvez também contra outros países do Ocidente”, escreve a NPR.
Apesar do porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, ter negado durante a presente semana a intenção de realizar uma declaração de guerra, a NBC News aponta que ao declarar uma guerra o Presidente russo poderá passar a chamar mais reservas do exército e pedir a mobilização em massa de homens com idade para entrar no conflito, “podendo assim prolongar o conflito durante meses, inclusive anos”, escreve o meio de comunicação norte-americano.
A NBC News escreve que esta poderá ser também a oportunidade de anunciar uma importante vitória no este da Ucrânia, nomeadamente, em Mariupol, local onde as tropas russas têm realizado ataques incessantes, apesar da insistência dos combatentes ucranianos.
Na fábrica siderúrgica, Azovstal, o último reduto da resistência ucraniana, os combatentes armados afirmaram que iriam continuar a lutar “enquanto estiverem vivos”. “Continuaremos a lutar enquanto estivermos vivos para repelir os ocupantes russos”, disse Sviatoslav Palamar, vice-comandante do Batalhão Azov da Ucrânia, citado pela Al Jazeera, acrescentando ainda que “não temos muito tempo, estamos sob intenso bombardeio”.
Para além destas opções, a NBC News aponta para como pode ser a altura “ideal” para Putin para realizar uma mobilização parcial da população “com foco nauqles que já serviram em conflitos recentes ou que sejam de regiões que fazem fronteira com a Ucrânia”. “Isto provavelmente seria uma opção mais prática, tanto para o Kremlin quanto para o público russo, uma vez que daria a Moscovo algum tempo para reabastecer a sua capacidade no campo de batalha”, escreve o meio de comunicação.
Por fim, esta pode também ser a oportunidade de “reenquadrar” o conflito. Depois de Putin justificar a invasão à Ucrânia como uma forma de “desnazificar” o país, a especialista em assuntos relacionados com a Rússia, Oleksa Drachewych, diz que o Presidente russo pode utilizar o Dia da Vitória para “ampliar os objetivos ideológicos do envolvimento da Rússia na Ucrânia numa tentativa de reforçar o apoio ao conflito – e a si mesmo”.
“Putin precisará de explicar aos russos porque é que eles precisam mesmo de lutar e morrer numa guerra que a Rússia está, supostamente, vencendo”, disse a especialista à NBC News. “Isso requer algo maior do que a narrativa da ‘desnazificação’. Por isso, Putin pode tentar reformular a narrativa de que é o Ocidente contra a Rússia”.
Enquanto a Rússia se prepara para celebrar o Dia da Vitória e o Ocidente se prepara para a eventual decisão de Putin, o Presidente Volodymyr Zelensky aproveitou esta data para publicar um vídeo nas redes sociais onde afirma que o “mal regressou à Ucrânia”.
No vídeo, de cerca de 15 minutos de duração, Zelensky aparece entre os destroços de um edifício residencial bombardeado pelas tropas russas, explicando que a promessa outrora feita, de que “nunca mais” regressariam o fascismo e o nazismo, está a ser quebrada “de novo”.
“O mal regressou. De novo. De uma forma diferente, sob diferentes slogans, mas com o mesmo propósito”, disse o líder russo, salientando que “a vida pela qual os soldados lutaram naquela guerra chegou ao fim a 24 de fevereiro, quando as forças russas invadiram”.
“Sabíamos o preço que os nossos antepassados pagaram por esta sabedoria. Sabíamos como é importante preservá-la e transmiti-la às próximas gerações. Mas não tínhamos ideia de que a nossa geração iria testemunhar a profanação das palavras, que, como se veio a verificar, não são a verdade para todos”, continua.
Após descrever o atual estado da Ucrânia e compará-lo com os tempos da Segunda Guerra Mundial, Volodymyr Zelensky deixa palavras de esperança. “Nós vamos superar este inverno, que começou a 24 de fevereiro, continua neste dia 8 de maio, mas sem dúvida irá acabar, assim que o sol ucraniano o derreter!”, frisou.
Desta forma, o Presidente da Ucrânia salienta que a paz irá voltar, e, quando isso acontecer, “acabarão os sonhos a preto e branco, apenas teremos sonhos a azul e amarelo”, referindo-se às cores da bandeira ucraniana.