Todos os vereadores da Câmara Municipal de Cascais subscreveram uma proposta de assinatura de acordos de geminação do concelho de Cascais com as cidades ucranianas de Bucha e de Irpin, na região de Kiev, «assim que as condições o permitam, reforçando a ponte de amizade, solidariedade e fraternidade com o povo ucraniano», conforme pode ler-se na proposta de reunião da Câmara liderada por Carlos Carreiras. A Câmara quer ainda «remeter esta proposta para conhecimento à Assembleia Municipal».
Uma Assembleia Municipal onde, entre os vários deputados, o PCP é representado por Diclinda Maria Santos Ferreira Baudoin e José Carlos Gonçalves da Silva, o que poderá augurar um debate aceso sobre esta geminação com Irpin e Bucha, já que os comunistas têm, em diferentes frentes, regionais e nacionais, mostrado uma posição contrária à adotada pela maioria dos partidos relativamente à invasão russa da Ucrânia.
Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais, no entanto, não prevê grandes ‘tremores’, até porque, como faz questão de referir, a proposta de Reunião de Câmara foi assinada por todos os vereadores do concelho, o que antevê uma aprovação praticamente sem contestação da decisão. Isto sem esquecer que a coligação Viva Cascais (PSD e CDS-PP) tem maioria, pelo que a proposta será mesmo para avançar. «Vamos levar à Reunião de Câmara, com a particularidade de ser a primeira vez que uma proposta é assinada por todos os vereadores. Não há nenhum vereador que não tenha assinado a proposta. Mesmo tendo maioria, já teríamos essa garantia, mas, neste caso, foram todos, portanto vai ser mais que aprovado», revela o autarca ao Nascer do SOL, afastando qualquer polémica: «Não vou estar a antecipar problemas que, neste momento, não existem, nem vou estar a especular. De qualquer das formas, a própria coligação Viva Cascais tem maioria na Assembleia. Temos tido a colaboração, quer do PS quer do BE, quer do Chega, portanto não há, assim à partida, razões para acreditar que possa dar polémica.»
Maior proximidade
A geminação entre Cascais e as cidades ucranianas de Irpin e Bucha é mais um passo numa estreita ligação que se criou desde o momento da invasão russa da Ucrânia, garante Carlos Carreira e, com o processo de geminação, os laços estão prestes a ficar ainda mais próximos.
«Logo desde o início da guerra na Ucrânia desenvolvemos um conjunto de esforços que tiveram três pilares: resgatar ‘convidados’ – não chamamos refugiados – fugidos da guerra, criar condições para os acolher em Cascais e montar operações de ajuda humanitária para a Ucrânia, em que já foram 14 camiões, cada um com cerca de 25 toneladas, portanto já é um valor bastante expressivo», começa por explicar o autarca de Cascais, que realça ainda um outro importante fator neste estreitamento de relações entre as cidades: a identificação de parceiros no terreno. Trata-se, diz, de «uma questão de confiança que se tinha que estabelecer para ter a certeza que os bens chegavam aos sítios onde era suposto chegarem». «Aí, começamos a desenvolver um conjunto de ações, e conseguimos identificar um canal que conseguia entrar na Ucrânia. Os primeiros camiões que enviamos tinham de ficar na fronteira, fora da Ucrânia, mas conseguimos fazer chegar camiões até dentro do país», continua Carlos Carreiras, marcando nesse início da colaboração entre Portugal e Ucrânia o ponto de partida que agora culmina na geminação das cidades, e que, a 7 de abril, contava já 97 mil euros em donativos de Cascais para a Ucrânia. «Tive também no dia 25 de Abril uma videoconferência com o presidente da Câmara de Bucha, e temos marcada uma videoconferência com Irpin, para criarmos equipas para ajudá-los a fazer a reconstrução das cidades. Nesse sentido, veio uma proposta deles para evoluirmos para um acordo de geminação», explica. Uma vez completado este processo de geminação entre as cidades, «o aconselhamento e a disponibilidade de recursos técnicos para todo o projeto de reconstrução que vai ter de ser feito» são os dois principais elementos que vão beneficiar da aproximação entre Cascais, Bucha e Irpin, «para além de outros projetos de colaboração, como intercâmbios de jovens», dependendo «das oportunidades e das necessidades» que surjam nestas cidades.
Ucranianos fraternos
O Nascer do SOL teve acesso à carta que Oleksandr Markushyn, presidente da Câmara de Irpin, enviou a Carlos Carreiras, propondo a geminação da cidade ucraniana com Cascais, onde agradece ao autarca pela «participação» e pela «ajuda» aos residentes de Irpin. «O Comité Executivo da Câmara Municipal de Irpin expressa a sua sincera gratidão a si e à sua comunidade por fornecer ajuda humanitária aos residentes de Irpin. Agradecemos os seus esforços em organizar esta assistência, que é uma manifestação de humanismo e empatia pelo destino do povo ucraniano. A sua participação é extremamente importante, e estamos muito gratos por sua ajuda», pode ler-se no documento onde o autarca de Irpin deseja a Carreiras «muita saúde» e «todo o sucesso no seu trabalho», antes de propor um «reforço das relações de amizade». «Irpin é uma cidade em desenvolvimento dinâmico. Em mais de cem anos, sobreviveu a muito e prosperou. Hoje, tendo sobrevivido a um período difícil, a cidade é uma das poucas na Ucrânia, apesar da crise económica, dos problemas sociopolíticos e da guerra no país, que avança confiante. Com base no exposto, oferecemos-lhe a assinatura de um acordo de geminação entre as nossas cidades», conclui Oleksandr Markushyn.
Geminações
Uma vez completado o processo de geminação agora proposto entre Cascais e as cidades ucranianas de Irpin e Bucha, as ‘famílias’ de cada um destes locais irá aumentar. Irpin, faz questão de realçar o autarca dessa cidade, é já ‘cidade-irmã’ de locais como Born (Alemanha), Pisz (Polónia), Alytus (Lituânia), Panevezys (Lituânia), Mtskheta (Geórgia), Alboraya (Espanha) e Milwaukee (Wisconsin, Estados Unidos da América). Já Cascais está geminada com cidades como Vitória (Brasil), Biarritz (França), Atami (Japão), Wuxi (China) e Sal (Cabo Verde).