Portugal voltou esta segunda-feira a registar mais de 20 mil novos diagnósticos de covid-19 num único dia, o que não acontecia desde 15 de fevereiro. Os dados constam da vigilância diária da Direção Geral da Saúde, numa altura em que os casos registam um aumento semanal superior a 30% e estão a ser feitos muito menos testes do que no início do ano, com quase quatro em cada dez a dar positivo.
A subida de infeções tem sido ligada pelos especialistas que acompanham a pandemia ao fim de restrições mas pode agora estar também associada à circulação no país da nova linhagem da Omicron, BA.5, que a Organização Mundial de Saúde confirmou ontem ser mais transmissível, não havendo indícios de maior severidade. Segundo o i apurou, esta variante, detetada pela primeira vez no final de março em Portugal, está agora a tornar-se dominante. Portugal é de resto um dos países com mais casos de BA.5 reportados para a plataforma de vigilância da diversidade de vírus GISAID, o que foi saudado esta semana por Túlio de Oliveira, um dos responsáveis pela monitorização do SARS-CoV-2 na África do Sul, país onde se sentiu primeiro o aumento de casos associado a esta nova linhagem da Omicron e a uma outra, a BA.4. Reagindo ao facto de Portugal ter reportado 57 casos de BA.5, de 279 oficialmente sequenciados até ao momento em todo o mundo, o investigador assinalou, no Twitter, que o “INSA tem efeito um ótimo trabalho na vigilência genómica”.
Um reflexo para já visível do que começa a ser a nível internacional como o início de uma nova vaga de covid-19 é o aumento da pressão nas urgências, também pela procura de testes que deixaram de ser gratuitos e perante dificuldades no contacto para linha SNS24 para que seja passada uma eventual requisição de teste e, depois, para marcar testes.
O Hospital de São João, no Porto, revelou ontem que esta situação contribuiu para que esta segunda-feira fosse batido o recorde de admissões na urgência do hospital, com 1022 episódios num único dia. Até aqui o recorde tinha sido de 1003 admissões, em 2008.
Nelson Pereira, diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva do Centro Hospitalar de São João, falou ontem de um “aumento desmesurado” de doentes com queixas respiratórias e suspeitas de covid-19, admitindo que a situação pode piorar com os festejos do título e a Queima das Fitas, que mobilizaram milhares de pessoas. Embora não se tratando maioritariamente de casos graves, explicou que o hospital está a ser inundado por pessoas encaminhadas pelo SNS24 e pediu coerência nas medidas de resposta à pandemia. “Temos de ter uma política coerente. Se a doença já não é grave e já não tem repercussões sérias sobre os serviços de saúde, então temos de ser coerentes com essa decisão: ou continuamos a achar que é preciso que toda a gente faça teste, logo é preciso generalizar o acesso aos testes, ou não podemos castigar os serviços de urgência onde vem parar tudo”, insistiu.
Urgências em níveis elevados para maio A monitorização das urgências mostra que o que se vive no São João não é caso único, com a procura às urgências em níveis elevados para o mês de maio. Esta segunda-feira, dia em que tradicionalmente há mais pessoas a procurarem as urgências, recorreram aos hospitais mais de 20 mil pessoas, o só que costuma acontecer nos piores dias de inverno. Acabou por ser um dos dias com maior procura às urgências desde o início da pandemia, só ultrapassado no final de março. O dia 28 de março, com 22 344 pessoas nas urgências, foi até aqui o maior pico de procura nos hospitais públicos desde o início da pandemia e um dos mais elevados dos últimos anos.
DGS ainda não fez ponto de situação sobre lares O aumento de infeções tem estado a verificar-se em todos os grupos etários, estando também a atingir lares e unidades de cuidados continuados, mas ainda não houve um balanço sobre a situação nestas instituições, informação que o i solicitou no último domingo à Direção Geral da Saúde.
3,5 vezes mais mortes em nove dias do que em maio de 2021 Em abril, como o i noticiou, a mortalidade associada à covid-19 em Portugal foi cinco vezes superior à de abril do ano passado. Agora, os últimos dados da DGS mostram que nos primeiros nove dias de maio registaram-se já 176 mortes associadas à covid-19, 3,5 vezes mais do que as 49 mortes registadas em todo o mês de maio de 2021.
A DGS já admitiu antecipar a vacinação de reforço nos idosos com mais de 80 anos, previsto para o final do verão, em caso de um agravamento do impacto, mas não foi quantificado qual seria o indicador a precipitar a decisão. A mortalidade por todas as causas este mês tem estado acima da média para maio, embora em alguns dias dentro do que já aconteceu noutros anos de maior mortalidade. Mas, por exemplo, esta segunda-feira, com 354 mortes no país, foi o dia 9 de maio com mais óbitos dos últimos 14 anos. Questionado ontem pelo i, o Ministério da Saúde não respondeu se está a ser equacionada alguma alteração no acesso à testagem ou na vacinação dos idosos.