Depois da África do Sul, Portugal é o primeiro país a confirmar a circulação dominante da nova subvariante da Omicron, BA.5, que voltou a fazer soar alertas pela maior transmissibilidade e risco de reinfeção mesmo de quem esteve infetado no início do ano. O último ponto de situação foi feito ontem pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, que estima que, a 15 de maio, esta linhagem da Omicron já representava 63,6% dos novos casos no país, devendo concretizar-se o que tinham antecipado há uma semana – representará a esmagadora maioria em poucos dias, passando de residual a dominante no espaço de quatro semanas. E voltando mais uma vez a trazer sobressaltos.
Os olhos já estavam postos em Portugal, atualmente o país com maior incidência de novos diagnósticos de covid-19 na Europa e também desta nova variante. Na África do Sul, onde o recrudescimento da epidemia foi primeiro notado, a boa notícia é que o pico já parece ter chegado. Túlio de Oliveira, responsável pela vigilância genética do vírus no país – que em dezembro deu o alerta mundial para a Omicron – notava ontem que esta nova vaga teve poucas hospitalizações e mortes até ao momento, sinalizando o cenário em Portugal, com um “rápido aumento das infeções e uma população mais velha mas também com elevada cobertura vacinal”. O investigador apontou para um ponto em comum entre estes dois países: tanto a África do Sul como Portugal não tiveram novas vagas associadas à linhagem BA.2, que substituiu a BA.1. Em Portugal, os dados do INSA mostram que a BA.2 se tornou dominante no final de fevereiro, mas na altura, com as restrições a manterem-se, não houve alterações na situação epidemiológica.
O aumento da transmissão voltou a notar-se no final de abril quando caíram as máscaras obrigatórias em espaços fechados, o que coincidiu com o aumento da circulação da BA.5. Segundo o INSA, a epidemia está com tendência crescente, ou o RT acima de 1, desde 26 de abril, precisamente quatro dias depois do “dia da libertação”.
O que esperar
Na África do Sul, as infeções estão a 32% do pico da primeira vaga de Omicron no final do ano passado, na casa dos 7500 casos por dia. As hospitalizações aumentaram 20% na última semana, mas também são cerca de um terço do que se viveu na primeira vaga de Omicron, disse Ridhwaan Suliman, matemático sul-africano que acompanha a epidemia no país.
A ideia de que o pico pode já ter sido atingido resulta de uma estabilização dos diagnósticos e de uma descida da positividade, numa média semanal de 23%, com o investigador a considerar, no Twitter, que o impacto desta vaga no país foi baixo, tanto em termos de hospitalizações como de mortalidade.
A realidade sul-africana não é exatamente comparável com a portuguesa, desde logo porque embora a população tenha muito menor cobertura vacinal (apenas 31% da população tem a vacinação completa e só 5% fizeram uma dose de reforço) é também mais nova – 5% da população sul africana tem mais de 65 anos, enquanto que em Portugal quase um quinto dos portugueses tem mais de 65 anos (23,4%).
Na África do Sul, além da BA.5, foi detetada uma outra subvariante, a BA.4, que segundo o INSA ainda não foi detetada em Portugal. E a positividade no país encontra-se atualmente bastante acima do que acontece na África do Sul, segundo o i apurou aproximando-se dos 50% e ainda sem sinal de descida.
40 mil novos casos possíveis esta semana
Esta segunda-feira Portugal voltou a passar os 30 mil diagnósticos num dia, com 33 939 novos casos, o que não acontecia desde o início de fevereiro. Foi um aumento de 66% face à segunda-feira da semana passada, o que mantendo-se este ritmo de crescimento semanal torna possível que o país volte a registar mais de 40 mil diagnósticos num dia esta semana, mais cedo do que estava a ser projetado.
O nível de infeções continua abaixo do pico da Omicron na população mais jovem, cerca de metade do que foi o pico de diagnósticos diários no início do ano, mas nos idosos nunca houve tantos contágios, avançou ao i o matemático Óscar Felgueiras.
Uma situação que acaba por agora a adiar também a administração da quinta dose em alguns lares, com surtos ativos. Questionada pelo i, a DGS ainda não respondeu quantos lares e unidades de cuidados continuados têm surtos ativos e, entre as instituições afetadas, quantas não poderão assim iniciar já o reforço com a quarta dose, recomendada fora dos lares a todos os maiores de 80 anos.
Nos primeiros 16 dias de maio morreram em Portugal 369 pessoas com covid-19, com a mortalidade a aumentar face ao final do mês de maio, quando o país esteve mais próximo de ficar abaixo do patamar de mortalidade elevada definido pelo ECDC, que implicava haver menos de 15 mortes por dia atribuídas à covid-19 ao longo de 14 dias, indicador que o Governo deixaria cair.
Nos últimos sete dias, os dados da DGS mostram uma média diária de 27 mortes atribuídas à doença, pelo que o número de mortes deverá ser superior ao balanço de abril. E é já muito maior do que há um ano. Em maio de 2021 registaram-se 49 mortes por covid-19, um balanço que este ano já é 7,5 vezes superior a duas semanas do fim do mês.
As hospitalizações têm estado também a subir – na região de Lisboa, sabe o i, havia ontem 502 doentes internados com covid-19, um aumento de 100 camas dedicadas à covid-19 numa semana, não sendo discriminados internamentos motivados pela doença de casos em que as doentes deram entrada nos hospitais infetadas mas por outros motivos.
Estima-se que tanto a BA.4 como a BA.5 sejam pelo menos 10% mais transmissíveis que a BA.2, o que levou no final da semana o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças a classificá-las como variantes de preocupação, chamando a atenção precisamente para o rápido crescimento em Portugal.