Já lá vão 16 etapas da Volta a Itália, uma das principais competições do ciclismo mundial, e o sonho para o português João Almeida, da UAE Emirates, continua bem vivo. A 44 segundos do líder da classificação geral, o equatoriano Richard Carapaz (INEOS), Almeida segue numa rota positiva para ocupar o lugar que, em 2020, foi seu durante 15 dias consecutivos. “Foi um dia complicado, mas fiquei surpreendido comigo mesmo, andei a todo o gás durante o dia, sem pausas. Nas duas últimas Voltas a Itália em que participei não fiz etapas assim, com montanhas muito grandes e duras. Mas estou satisfeito com a minha performance e vou continuar a lutar até ao fim, explicou, depois de conquistar o oitavo lugar na 16.ª etapa, uma das mais complexas do calendário da 105.ª edição da Volta a Itália, entre Salò e Aprica.
As emoções estiveram em altas, e acabou por ser Jan Hirt (Intermarché-Wanty-Gobert Matériaux) o grande vencedor da etapa. Foram 202 quilómetros de percurso, com um ganho de altitude vertical de mais de 5 mil metros. Em segundo lugar ficou o neerlandês Thymen Arensman (DSM), a sete segundos, e o australiano Jai Hindley (BORA-hansgrohe) em terceiro, a 1.24 minutos.
Logo assim para começar, o percurso montanhoso entre Salò e Aprica presenteia os ciclistas com uma subida ao longo de 30 quilómetros, que culmina no Goletto di Cadino, a 2 mil metros de altitude. Seguiram-se subidas e descidas tão intensas que, em determinados momentos, as gradientes chegam a superar os 15%.
A 10 quilómetros da conclusão da etapa, Lennard Kämna (Bora-hansgrohe) seguia isolado na liderança, mas atrás estava Thymen Arensman, que não parecia pronto a desistir. Mais longe estava o grupo de Carapaz, líder da geral, onde se encontrava também João Almeida, e os favoritos Wout Poels, Santiago Buitrago, Pello Bilbao, Mikel Landa (Bahrain-Victorious), Richie Porte, Pavel Sivakov (Ineos Grenadiers), Jai Hindley, Emanuel Buchmann (Bora-hansgrohe), Vincenzo Nibali (Astana Qazaqstan) e Domenico Pozzovivo (Intermarché-Wanty-Gobert). Ainda houve um susto, quando Mikel Landa caiu, mas o incidente apenas lhe custou alguns segundos. Feitas as contas, no entanto, e depois de muitas trocas e reviravoltas, e até de uma fase de chuva no fim da prova, a vitória acabou por cair nas mãos de Jan Hirt, o checo da UCI WorldTeam, que empurrou Thymen Arnsman para o segundo lugar do pódio. Em terceiro ficou o australiano Jai Hindley.
“Sempre que ouço falar no [Passo del] Mortirolo, quero antecipar. Queria ir para a separação hoje”, explicou Hirt. “Houve momentos difíceis quando o grupo se dividiu, então tivemos que voltar no Mortirolo. Depois, no final, na última subida, tive um problema com a minha bicicleta, ela não estava a meter corretamente as mudanças e a corrente estava a saltar. E depois ainda tive cãibras na descida. Tive todos esses problemas, mas só queria lutar até o final”, concluiu o checo.
Mais abaixo, no quarto lugar, ficou o líder da classificação geral, Richard Carapaz, a 1.24 minutos de Hirt, menos 14 segundos que João Almeida, que findou a etapa no oitavo lugar, a 1.38 minutos do topo.
Matemática feita, Almeida manteve-se no terceiro lugar da classificação geral, aumentando, no entanto, para 44 segundos a desvantagem perante o equatoriano Carapaz, que assegurou mais um dia com a camisola rosa vestida.
Por sua vez, Jai Hindley, segundo classificado na geral, que ao início da 16.ª etapa seguia com sete segundos de atraso perante Carapaz, conseguiu reduzir essa distância para apenas três segundos. Significa isto que a luta pelo topo está renhida entre o equatoriano e o australiano. Esta é, aliás, a segunda menor diferença da história do Giro na etapa 16 desde 1963, ano em que o maglia rosa Diego Ronchini tinha apenas dois segundos de vantagem frente a Vittorio Adorni. Almeida ainda não está completamente fora da competição, mas precisará de recuperar paulatinamente os segundos perdidos nas últimas duas etapas, se ainda sonha com conquistar a vitória na Volta a Itália.
É que logo atrás está o espanhol Mikel Landa (Bahrain Victorious), no quarto lugar da geral, a 59 segundos de Carapaz, motivado para ultrapassar o português na luta pelo título.
futuro Restam apenas cinco etapas até à conclusão da Volta a Itália, mas ainda não há decisões definitivas. Hoje, a competição vai percorrer o caminho de 168 quilómetros entre Ponte di Legno e Lavarone, com os últimos 50 quilómetros do percurso marcados pela passagem de duas contagens de montanha de 1.ª categoria, a última delas localizada já muito perto da meta. Esta é uma etapa montanhosa com vistas estonteantes, que deixarão os espetadores fascinados com aquele que, em 1912, o Touring Club italiano definiu como “o primeiro destino turístico italiano para desportos de inverno” (Ponte di Legno, entenda-se).
Resta saber se Richard Carapaz é capaz de manter a liderança, ou se vai haver alguma surpresa no desempenho de Jai Hindley, ou do português João Almeida, ambos em busca do assalto à camisola rosa, vestida pelo líder temporário da classificação geral da Volta a Itália.
Para os restantes ciclistas portugueses, resta-lhes ajudar o seu líder ou tentar ganhar alguma etapa. O que parece vez mais longe.