Por Marlene Nunes SIlva, Coordenadora do Mestrado em Desporto, Educação e Literacia Física da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
As instituições de ensino superior configuram um contexto onde os estudantes entram em contacto com novas realidades culturais e sociais, suscetíveis de reconfigurar os seus círculos sociais, quadros simbólicos de referência e hábitos quotidianos. Há, pois, que aprofundar o conhecimento sobre estilos de vida e até o modo como interagem com o percurso académico e outras práticas. Por outro lado, populações docentes e não docentes têm sido descuradas no estudo do contexto universitário.
A criação de sistemas de vigilância epidemiológica dos comportamentos ligados a estilos de vida fisicamente ativos é, portanto, fundamental (neste, como em outros contextos). Permite estabelecer e caracterizar perfis que possam ditar alvos específicos de intervenção, bem como tendências de evolução. A investigação na área da epidemiologia dos comportamentos ligados à Atividade Física (AF) tem sublinhado uma tendência para a constelação de padrões de risco e padrões protetores, em que a AF interage positivamente com outros determinantes da saúde.
Como exemplo, um inquérito nacional realizado em contexto pandémico (aplicações em 2020 e 2021) verificou que vários comportamentos tendem a constelar-se emergindo um padrão protetor da saúde, em que níveis mais elevados de AF tendem a coocorrer com outros elementos de potencial salutogénico, como melhor perfil de consumo alimentar, acesso às recomendações de AF e de alimentação saudável, boa situação financeira e maior nível de escolaridade.
Mais recentemente, um outro estudo, realizado em contexto universitário (incluindo alunos, docentes e funcionários) confirmou este papel da AF como ‘agregador’ de outros comportamentos protetores da saúde. A comunidade académica inquirida, que atinge os níveis recomendados de AF (i.e. pelo menos 150 minutos de AF moderada por semana) tende a despender menos tempo em comportamentos sedentários; reporta maior qualidade de sono; maior automotivação e competência motora; perceção de saúde mais satisfatória; melhor relação com o seu corpo; maior satisfação com a vida, e mais conhecimentos de AF. Por último, mas de forma central, são pessoas que percecionam ter gostado de educação física na escola (satisfação e valorização atribuídas).
Ainda neste estudo, diferentes formas de AF (incluindo escolhas ativas no dia a dia, como subir escadas), revelaram padrões de associação com melhor perfil alimentar (maior adesão a dieta mediterrânica, menor suscetibilidade a comer em resposta a estímulos externos e emocionais), mais bem-estar, maior rendimento académico, e maior identificação de oportunidades diárias para se ser ativo!
É, pois, fundamental apostar numa literacia física potenciadora de motivação, confiança e boa relação com corpo (e com a alimentação), e capacidade de interação com o meio, integrando a AF como parte da rotina quotidiana universitária!