Poupar água vai ter de ser a palavra de ordem este verão. Depois de algum alívio em março e abril, o mês de maio foi o mais quente que há registos em Portugal e muito seco. Segundo o i apurou, as previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, que estão a ser trabalhadas com a Agência Portuguesa do Ambiente, preveem uma segunda quinzena de junho ainda mais seca, o que coloca o país no cenário mais gravoso de sempre quanto à escassez de água à entrada do verão.
A reunião interministerial para avaliação da situação da seca a nível nacional terá lugar em breve, devendo na altura ficar fechado o primeiro pacote de medidas para o verão, depois das várias iniciativas e condicionamentos que tiveram lugar no início do ano, entre as quais a interrupção da produção de eletricidade nas barragens onde as cotas baixaram para os níveis mais críticos (que se mantém).
A prioridade será assegurar o abastecimento de água à população e gerir as reservas para uso público e rega. Sendo incerto o desenrolar do ano – o atual ano hidrológico tem sido o segundo mais seco de que há registos e não há garantias a longo prazo que o outono e o inverno sejam mais chuvosos – as medidas terão de ter em conta que os meses chuvosos de fim do ano podem não o ser, pelo que a abordagem é de cautela. “Nunca estivemos numa situação tão má à entrada do verão”, disse ao i fonte ligada ao processo de monitorização.
Condicionamento de uso de água inevitável Há duas semanas, em entrevista ao Expresso, o ministro do Ambiente antecipou um “verão difícil” em termos de seca, admitindo já na altura o condicionamento do uso de água e antecipando que a reunião para avaliar a situação e medidas teria lugar dentro de três semanas.
Entretanto, a avaliação do IPMA para maio confirmou a pior trajetória e, ao que o i apurou, a Agência Portuguesa do Ambiente tem estado igualmente a trabalhar regionalmente para avaliar as situações mais complexas localmente.
O Algarve é uma das preocupações: além da situação de seca, a retoma turística no pós-pandemia traz um aumento dos consumos de água na região e será mais um fator a gerir.
Noutros períodos de seca, as medidas passaram pela limitação no enchimento de piscinas e fontes decorativas e também da rega de jardins e lavagem de ruas, estando nos últimos meses a avançar o aproveitamento de águas tratadas para esse efeito, mas que ainda acontece a uma pequena escala.
Se os condicionamentos do uso de água no verão estão a ser encarados como inevitáveis, parte da tónica estará também na sensibilização.
Várias autarquias lançaram nos últimos meses campanhas em torno da poupança de água, de Portalegre a Mértola, passando por Famalicão ou Castro Verde. Uma das preocupações dos peritos é que Portugal tem vivido sucessivamente anos mais secos, pelo que a recuperação de uma situação de seca tende a ser mais lenta.
Só choveu 13% do histórico em maio Segundo o Boletim Climático de maio publicado pelo IPMA no final da semana passada, era este o cenário no final do mês passado: 97,1 % do território já em seca severa e 1,4% extrema, portanto 98,5% do território nas categorias mais preocupantes de seca meteorológica. Era preciso que tivesse chovido mais do que o normal esta primavera para compensar os meses secos do início do ano e se março e abril deram um alívio, em maio já só choveu 13% do histórico entre 1971 e o ano 2000.
Foi o maio mais quente dos últimos 92 anos, quando começam os registos.
O ano hidrológico 2021/2022, considerando o período de outubro a maio, é o 2º mais seco desde 1931, depois de 2004/05. Mas em maio de 2005, tal como na última grande seca de 2012, o país não chegou ao final de maio já praticamente todo nas categorias mais graves de seca. Havia em ambos os anos uma maior fatia do território em seca extrema, mas um quarto do país ainda estava em seca moderada. No fim de maio – e a onda de calor de junho já terá piorado a situação – só 1,5% do território continental estava em seca moderada.